No caminho de volta para casa, decidi que o título deste texto tinha que conter o trocadilho fachina. Mas não me ocorreu nada na hora. Paulo Polzonoff Jr. via Gazeta do Povo:
(Jurei
nunca escrever crônica com epígrafe, mas eis-me aqui quebrando a
promessa para citar o grande T. S. Eliot, que disse que "o humor é
também uma forma de dizer algo sério". Se eu escrevesse isso, ninguém
daria bola. Mas como é do T. S. Eliot, tenho alguma esperança).
Na
segunda-feira (8), por volta das 16 horas, quando saiu a notícia de que
o ministro Edson Fachin anulou todas as sentenças de Lula (só do Lula)
na Operação Lava Jato, tive a impressão de estar vivendo um momento
histórico. De novo. E, de novo, tive a impressão incômoda de estar
reagindo hiperbolicamente a algo bastante trivial no Brasil.
A
julgar pelo que se viu nas redes sociais logo em seguida, muita gente
compartilhava da minha sensação de que o dia 8 de março de 2021 foi mais
do que um Dia Internacional da Mulher. Que, como sempre, começou com os
homens sem saber direito se dávamos ou não parabéns às nossas amigas,
colegas, irmãs, mães e mulher (no singular!). Eu, por exemplo, optei por
dar os parabéns e, bem, digamos que há uma campainha tocando no meu
ouvido até agora.
Seduzido
pela sensação de estar vivendo um daqueles eventos que figurarão nos
livros de história dos meus bisnetos, corri para deixar minha marca na
caverna de Lascaux contemporânea. Ao chegar lá, contudo, vi uma terra
arrasada. Multidões se descabelando virtualmente e assinando o atestado
de morte do Brasil. Percebi que a coisa era mais séria do que eu
imaginava. E desisti. Não sei antes cometer uma piadinha, que ninguém é
de ferro.
“- Você acha que é difícil anular as sentenças do Lula? – perguntou um mineiro para outro.
- Não. É Fachin, Fachin – respondeu outro”.
Pois
é. Sou desses que, diante de um evento que parece histórico, ainda que
não seja, começa a fazer graça. Ao que parece não entra na minha cabeça a
equação da Primeira Lei do Humor, segundo a qual “comédia = tragédia +
tempo”. Ou vai ver eu tenho uma noção meio distorcida do tempo. Sei lá.
Logo
em seguida, porém, comecei a vasculhar os rincões da mente à procura de
fatos e dados e frases e ideias e praticamente qualquer coisa que me
fizesse encontrar alguma lógica na situação. Mas minha busca foi
interrompida pela versão de um pagodinho de 1993 que se impôs
ameaçadoramente: escreve senão o Lula vai virar presidente. Obedeci e
eis que:
“Toda vez que eu chego em casa
A Lava Jato quer me levar em cana.
E aí seu Zanin o que 'cê vai fazer?
Vou argumentar incompetência pra me defender
Ele vai dar uma fachinada na sentença dela
Ele vai dar uma fachinada na sentença dela”.
“Se duvidar, prendem o Moro”
Uma
amiga que pela manhã tinha reclamado da monotonia do noticiário me
mandou mensagem. Estou preocupada, disse. Tentei acalmá-la, mas não
convenço ninguém. Em seguida, meu pai me ligou. E me partiu o coração
dizendo que não vai viver para ver um Brasil melhor. Mal parei de chorar
e foi a vez de atender minha mulher. “Não me vá fazer piada com o STF,
hein?! Se te prendem, quem é que vai abrir o pote de palmito?!”, disse
ela, não sei se brincando, advertindo, reclamando, aconselhando ou
ameaçando. Melhor não arriscar.
Apaguei
pateticamente as piadas das redes sociais e desliguei o computador.
Coloquei o celular no mudo e, diante da perspectiva de ter de escolher
entre Bolsonaro e Lula em 2022, achei por bem dar uma volta pelo bairro.
Na portaria, encontrei Seu Valdir. Que nem sabia o que estava
acontecendo. Cumprindo o que diz o Juramento do Jornalista, dei a ele as
más novas.
- Anulou tudo? – perguntou ele. Fiz que sim com a cabeça. Ele parou um pouco, pensou e atestou: – Lula? Eu não voto!
Respirei aliviado e já fui apressando o passo rumo à sorveteria quando Seu Valdir me chamou e disse:
- Se duvidar, prendem o Moro.
Comprei
meu sorvete, que consumi ali perto mesmo, encostado num muro. Passou um
carro da Guarda Municipal e os policiais me olharam feio. Ou será que
foi paranoia minha? Olhei para a esquerda e vi uma tempestade a caminho.
Ri pensando que alguém vai ler isso e pensar que estou falando de
política, mas é de chuva mesmo. No trajeto de volta para casa, decidi
que o título deste texto tinha que conter o trocadilho “fachina”. Mas
não me ocorreu nada na hora.
blog orlando tambosi

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