Gustavo Maia e Daniel Gullino
O Globo
O general da reserva Walter Braga Netto completou um ano como chefe da Casa Civil do governo Jair Bolsonaro na semana passada sem alarde. De perfil discreto, ele atua nos bastidores na coordenação entre os ministérios e assessorando o presidente. A falta de vocação e disposição para os holofotes já começaram a render críticas entre alguns integrantes do governo, que classificam sua gestão como “apagada” e “omissa”.
Quando chegou ao Palácio do Planalto, em 18 de fevereiro do ano passado, as expectativas eram altas dentro do governo, em razão da pretensa militarização da cúpula da gestão Bolsonaro — ele vinha do comando do Estado-Maior do Exército. Braga Netto foi incumbido de fazer um choque de gestão, após a passagem de Onyx Lorenzoni pela Casa Civil, considerada fraca.
Avesso à imprensa, Braga Netto não concedeu sequer uma entrevista a um veículo de comunicação específico e participou de poucas coletivas, no início da pandemia.
ATOS NORMATIVOS – Procurada pelo Globo, a Casa Civil apresentou uma série de ações desenvolvidas desde que o ministro assumiu o posto. Elas incluem a participação na edição de mais de 1.500 atos normativos, a interlocução com a sociedade civil, e a Operação Acolhida, de recebimento de refugiados venezuelanos.
Quase simultaneamente à entrada de Braga Netto no governo, o coronavírus também chegou ao Brasil. O ministro assumiu então o papel de coordenador do comitê de crise e concentrou a comunicação das ações de combate à doença no Planalto. Um dos objetivos era agradar Bolsonaro, que estava irritado com o protagonismo do então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.
A avaliação de alguns governistas, em reservado, é que o esforço se dispersou ao longo dos meses, à medida que o número de mortes por Covid-19 crescia vertiginosamente. A principal queixa é uma suposta inação da pasta no processo de aquisição de vacinas.
CRISE DAS VACINAS – Na semana passada, o Ministério da Saúde pediu orientação da Casa Civil sobre como proceder para resolver os impasses nas negociações para compra de imunizantes dos laboratórios Janssen e Pfizer.
O comitê de crise contra a Covid-19, ainda em funcionamento, tem um grupo de trabalho focado em vacinas. Integrantes da Casa Civil acreditam que até o fim do primeiro semestre o Brasil já será autossuficiente na produção dos imunizantes.
Uma das ações de maior repercussão de Braga Netto foi o lançamento do programa de obras Pró-Brasil, em abril do ano passado. A iniciativa, contudo, sofreu resistência do ministro da Economia, Paulo Guedes. O episódio marcou uma inflexão na postura pública do chefe da Casa Civil.
SEM MARCA E SLOGAN – Integrantes da pasta alegam que os projetos elencados no programa acabaram sendo tocados em suas respectivas pastas, em especial pelo Ministério da Infraestrutura, sem a marca e um slogan.
Uma das atuais funções da Casa Civil é coordenar o processo de entrada do Brasil na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Dos 245 instrumentos necessários para integrar a entidade, o país cumpriu 98 (40%), sendo 33 nos últimos dois anos.
No início deste mês, o comitê de política ambiental do órgão cancelou a discussão sobre a entrada do Brasil no grupo por conta de uma carta enviada pela Human Rights Watch, segundo a qual o governo Bolsonaro tem trabalhado ativa e abertamente contra as políticas da OCDE. Outro revés foi o fim do mandato do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, aliado de Bolsonaro na iniciativa. Mesmo assim, dentro da Casa Civil a expectativa é que a entrada na OCDE será alcançada ainda em 2021.
###
Nenhum comentário:
Postar um comentário