MEDIÇÃO DE TERRA

MEDIÇÃO DE TERRA
MEDIÇÃO DE TERRAS

domingo, 28 de março de 2021

Alguma coordenação, ainda que tardia.

 



Comitês de pouco adiantarão se o governo federal não assumir de vez o seu papel de coordenador dos esforços contra a pandemia. Editorial da Gazeta do Povo:


Quando o Supremo Tribunal Federal decidiu, há quase um ano, que União, estados e municípios tinham “competência concorrente” para realizar ações contra a pandemia que chegava ao Brasil, não foram poucas as autoridades que resolveram entender o termo “concorrente” da maneira mais coloquial, como se precisassem competir entre si. Em Brasília, o governo federal usou a decisão para praticamente lavar as mãos e deixar tudo nas mãos de estados e municípios, alegando incorretamente que o Supremo havia retirado os poderes da União. O bate-cabeça que já dura um ano passou, mais recentemente, a opor até mesmo aliados políticos, como o prefeito de São Paulo, Bruno Covas, que decretou a antecipação de feriados para criar uma enorme folga de Semana Santa, sem avisar o governador paulista, João Doria, que se irritou com a medida e alegou que a medida teria efeito negativo em outras cidades, especialmente no litoral paulista.

Um ano e 300 mil mortes depois, parece que finalmente emerge entre protagonistas políticos a consciência de que é preciso que todos – Executivo, Legislativo e Judiciário; governo federal, estados e municípios – trabalhem de forma coordenada para ajudar a vencer o pior momento da pandemia no Brasil. Na quarta-feira, após reunião no Palácio da Alvorada entre o presidente da República, Jair Bolsonaro, os presidentes do Senado e da Câmara, Rodrigo Pacheco (DEM-MG) e Arthur Lira (Progressistas-AL), ministros de Estado e do STF, e governadores de seis estados, anunciou-se a criação de um comitê de crise, com reuniões semanais. O principal articulador da iniciativa foi Pacheco, que ainda ficará encarregado da articulação com os governadores.

Os grandes ausentes da reunião foram os prefeitos, que manifestaram seu descontentamento por meio das duas entidades que os representam, a Confederação Nacional de Municípios (CNM) e o Fórum Nacional de Prefeitos (FNP). Esta é uma omissão que tem de ser sanada, criando-se também interlocução com aquelas autoridades que estão, por assim dizer, na “linha de frente”, mais próximas aos cidadãos, assumindo esforços como a vacinação e observando mais de perto os efeitos de todas as medidas restritivas sobre os negócios e as famílias. Os governadores não fazem parte do comitê formalmente (o que já gerou reclamações), mas ao menos têm um interlocutor dentro do grupo; também os prefeitos têm de ser ouvidos ao menos da mesma forma.

Mas comitês de pouco adiantarão se o governo federal não assumir de vez o seu papel de coordenador dos esforços contra a pandemia. Foi o que pediu a CNM em carta assinada por seu presidente, Glademir Aroldi, na véspera do anúncio do comitê. No texto, os prefeitos pediam a Jair Bolsonaro que “assuma, de forma inadiável, seu dever de coordenar a nação, respeitando a população, a ciência e a comunidade internacional, com a humanidade e a empatia exigidas de um chefe de Estado”. Se há um certo ceticismo em relação ao comitê, é porque Bolsonaro deixou a desejar em vários destes aspectos ao longo dos últimos 12 meses; depende especialmente dele mostrar que está disposto a agir com liderança genuína, buscando a cooperação em vez do enfrentamento, ainda que haja divergências sobre vários temas ligados à pandemia, como os protocolos de tratamento e as medidas de restrição aos negócios.

Aroldi ainda pediu a Bolsonaro para “despolitizar a pandemia”. Este último pedido, é verdade, não tem como ser destinado apenas ao presidente da República. Os governadores tucanos Doria e Eduardo Leite (do Rio Grande do Sul), ambos apontados como possíveis adversários de Bolsonaro em 2022, trataram de torpedear a iniciativa assim que foi anunciada. Mas, havendo uma intenção genuína de aproximação e trabalho conjunto da parte do Planalto, não há motivo para governadores colocarem as rivalidades políticas acima da necessidade de união para vencer de vez a pandemia.

Não foram poucos os parlamentares e políticos que lembraram o fato de que quase tudo o que está se costurando agora já poderia ter sido feito um ano atrás, e talvez o Brasil não estivesse chorando tantas mortes, tanto desemprego e tanta pobreza. Sim, muito tempo foi desperdiçado e não tem como ser recuperado. Mas, se há a oportunidade de encerrar o ciclo de irresponsabilidade coletiva que nos trouxe até aqui, ela tem de ser aproveitada, antes tarde do que nunca.
 
BLOG  ORLANDO  TAMBOSI

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