O antilavajatismo une, por interesse próprio, a maioria dos apoiadores de Bolsonaro na Câmara e no Senado. Merval Pereira:
Entre
as incoerências explicitadas nos acordos para a eleição dos novos
presidentes da Câmara e do Senado não está o interesse pessoal dos
parlamentares no fim da Operação Lava-Jato. Ao contrário, o
antilavajatismo une a maioria deles, o que facilitou o presidente
Bolsonaro ter apoio até do PT na eleição do Senado.
Ao
apoiarem a candidatura de Rodrigo Pacheco, os petistas alegaram que não
poderiam votar na candidata senadora Simone Tebet, uma clara apoiadora
do combate à corrupção e da Lava-Jato, que também, ou principalmente por
isso, foi abandonada por seu partido, o MDB, e até mesmo pelo Podemos,
que sempre anunciou que gostaria de ter o ex-ministro Sérgio Moro entre
seus filiados para lançá-lo candidato à presidência da República. O
apoio formal do Podemos foi para Tebet, mas não a maioria de seus votos.
Na
Câmara, foi mais fácil a esquerda fechar acordo com a chapa de Baleia
Rossi, pois nenhum dos dois candidatos tem simpatias pela Lava-Jato. Não
foi preciso rasgar a fantasia. Desde que Bolsonaro partiu para a
confrontação com Moro, surgiu um campo enorme de interesses comuns entre
os partidos e o Palácio do Planalto.
A
posição do DEM, por exemplo, que acabou rachado pela decisão de seu
presidente ACM Neto de liberar a bancada para votar em Arthur Lira,
provocou efeitos colaterais até mesmo nas prováveis alianças para a
disputa presidencial ano que vem. ACM Neto, juntamente com o presidente
da Câmara Rodrigo Maia, tinha encontros regulares com o apresentador
Luciano Huck e seu grupo político liderado pelo ex-governador do
Espírito Santo Paulo Hartung.
Cozinhavam
em fogo brando a candidatura de Huck à presidência, que deveria se
filiar ao Cidadania, presidido por Roberto Freire, mas ter o DEM como
principal partido de sua coligação eleitoral. Com a aproximação do DEM
com o governo federal, a possível candidatura de Huck já não é provável,
pois o PSDB, que seria outro grande partido a apoiá-lo, tem o
governador João Dória como candidato natural.
Maia,
que pretende deixar o DEM, tem sido especulado como futuro tucano, e
foi rejeitado pelo Cidadania. Uma união do DEM, PSDB e MDB para lançar
candidatura única parece descartada no momento, pois dois deles estão se
aproximando do governo Bolsonaro e voltando ao berço de onde saíram, o
Centrão.
O
PSDB tem uma dissidência interna importante representada pelo
ex-governador Aécio Neves. Ele conseguiu uma maioria para abandonar a
candidatura de Baleia Rossi e aderir formalmente a Arthur Lira, o que só
não se concretizou pela interferência do governador João Doria e do
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Se a oficialização da adesão
não aconteceu, provavelmente a maioria dos votos tucanos foi para o
candidato do Palácio do Planalto no escurinho da urna de votação.
A
possibilidade de construção de novas alianças, sempre à disposição de
quem está com os poderes presidenciais na mão, como ressaltam apoiadores
do presidente Bolsonaro, é um fato do presidencialismo de coalizão. As
eleições de ontem escancararam quão gelatinosa é a ideologia partidária
brasileira, e como as posições são trocadas a partir de interesses
pessoais.
O
a essa altura ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia já teve o sonho de
fazer um novo partido de centro-direita, quando o governo Bolsonaro
saíra das urnas consagrado, e parecia que o pêndulo havia mudado de
direção por período duradouro. Não via viabilidade em um acordo de
centro-esquerda.
Mas
barrou, por exemplo, a participação do ex-juiz Sérgio Moro das
negociações políticas, depois que ele fora chamado para conversas com o
governador João Dória e com o presidenciável Luciano Huck. A ponto de
ter obrigado Huck a declarar que a turma dele era a de Maia e ACM Neto,
alijando Moro. Hoje, Maia está afastado da centro-direita, e ficou mais
ligado à esquerda, devido à sua posição de combate direto ao governo
Bolsonaro.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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