Não saiu, até agora, o genocídio dos negros, gays, índios, mulheres,
favelados e pobres em geral que tinha sido anunciado como uma certeza
quase científica, ironiza J. R. Guzzo, em sua coluna na Gazeta:
Falta um mês para acabar o ano de 2019 e, pelo jeito, o governo do
presidente Jair Bolsonaro vai conseguir completar o seu primeiro
aniversário. Como assim? Já não deveria ter acabado? Desde o dia em que
tomou posse, em 1º de janeiro, os mais sábios debates de ciência
política levados ao público por um regimento inteiro de comunicadores
cinco estrelas, “influenciadores”, politólogos, intelectuais, mestres de
sociologia, filosofia e brasiologia, homens e mulheres de intelecto
superior, etc, etc, asseguraram a todos: “O fim está próximo.
Arrependam-se.”
De lá para cá, porém, parece que alguma coisa deu errado. O governo
continua aí, dando expediente diário a partir das 7 horas da manhã. Seu
falecimento foi adiado, pelo que mostram os fatos. Quem sabe ficou tudo
para o ano que vem?
O fato é que o cidadão passou os últimos onze meses sendo informado
da existência de acontecimentos que não estavam acontecendo. Escolha por
onde você quer começar: para qualquer lado que olhe, o resultado vai
ser o mesmo. Não saiu, até agora, o genocídio dos negros, gays, índios,
mulheres, favelados e pobres em geral que tinha sido anunciado como uma
certeza quase científica – era só o novo governo assumir, garantiam os
especialistas mencionados acima, e o extermínio dessa gente toda ia
começar.
Onde o projeto falhou? Continuam todos vivos – e não há sinais de que
o governo vai fazer neste último mês de 2019 o que não conseguiu fazer
durante o ano inteiro. Também não foi possível observar a liquidação do
Congresso Nacional, a eliminação dos direitos e garantias
constitucionais e o envio dos dois soldados e do cabo que iriam fechar o
Supremo Tribunal Federal. A floresta amazônica não foi queimada para
agradar o “agronegócio”; até ontem continuava lá, do mesmo tamanho que
tinha em janeiro.
Onde foi parar, igualmente, a “morte política do governo”, que não
tinha sabido negociar a distribuição de ministérios e outros cargos “top
de linha” com os políticos – e, por isso, “não conseguirá governar”?
Deve ter ficado para o ano que vem ou ainda mais adiante, pois o governo
conseguiu aprovar, com velocidade recorde, a reforma da Previdência e o
“Pacto Federativo”, que funcionará como um grande tratado de paz com os
estados e municípios – além de uma penca de outras coisas.
O ministro do Exterior iria destruir praticamente todo o sistema de
relações diplomáticas entre o Brasil e o resto do mundo. Não aconteceu. A
ministra da Agricultura seria banida da cena internacional civilizada,
por liberar “agrotóxicos”. Não aconteceu. O ministro do Meio Ambiente
não aguentaria 15 minutos no cargo, por ser uma afronta à comunidade
ambientalista, aos cientistas e ao Tratado de Paris. Não aconteceu.
E a China, então? Onze entre dez altíssimos especialistas em
“comércio exterior” garantiram, com convicção definitiva, que as
exportações do Brasil para “o nosso maior parceiro” seriam destruídas em
poucas horas, pela postura do governo a favor do presidente Donald
Trump. O mesmo, exatamente, iria acontecer com “o mundo árabe”, outro
importador gigante de produtos brasileiros. Como o governo havia
anunciado sua intenção de mudar a embaixada do Brasil de Telavive para
Jerusalém, em Israel, nunca mais os árabes comprariam um único e
miserável frango nacional.
Mais que tudo, talvez, há o mistério do ministro Sergio Moro. Foi
provado nos mais sagrados santuários da mídia, da vida política e do
universo intelectual, com a exatidão com que se calcula a área do
triângulo, que ele “estava fora” do governo – liquidado pelas
“gravações” de delinquentes digitais, pelo Coaf, pelos ciúmes de
Bolsonaro, e 100 outras crises fatais. O homem continua lá, firme como o
cacique Touro Sentado.
Com crises assim, vai ser preciso engolir esse governo não apenas por
um ano – ou mudam as crises, ou eles ficam lá pelos próximos sete.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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