Coluna de Alexandre Garcia, publicada diariamente pela Gazeta do Povo:
Muitos de meus amigos atravessaram meio mundo para ver o Flamengo
jogar em Doha, no Oriente Médio. E torceram muito. E na semana passada, a
polícia prendeu meia dúzia de torcedores, entre os que vandalizaram o
Mineirão no dia do rebaixamento do Cruzeiro.
Brasileiros que canalizam sua energia para o futebol, assim como
milhões de outros torcedores que vivem em função de seus times
favoritos. Que vibram, que sofrem, que conduzem suas relações na base de
dar palpites, fazer sugestões, dar ideias, para que seu time seja o
vencedor, o campeão, o triunfante.
Lembro quando a Seleção se tornou tricampeã do mundo, na Copa do
México, em 1970. Os vitoriosos foram recebidos no Palácio do Planalto
pelo presidente de República. E a vitória no futebol se tornou uma
vitória do Brasil literal, o Brasil não um time de futebol, mas um time
de “oitenta milhões em ação”, porque o entusiasmo do futebol foi
canalizado para o país.
E esse entusiasmo gerou o otimismo que decidiu investimento e criou
emprego. E logo o país cresceu em ritmo chinês, e isso passou a ser
chamado “milagre econômico” – um crescimento médio de 11,2 ao ano,
durante três anos. Pleno emprego e plena produção.
Fico pensando se, sem prejuízo das emoções por nosso time, dirigirmos
o entusiasmo para o time Brasil, formado por 210 milhões de torcedores.
Se nosso otimismo exigir gols contra o adversário da corrupção, do
assalto, do homicídio, das drogas, do engodo, da mentira e da
impunidade. E passemos a exigir de todos nós que conquistemos vitórias
no investimento, no emprego, no fortalecimento das leis anticrime, no
fim da burocracia, contra o excesso de carga fiscal, com o fim de um
time pesado e lento, que é o estado brasileiro. E exigir que no campo, o
juiz do jogo seja justo e puna as faltas, principalmente as mais
graves.
Nosso cuidado de torcida evitaria as bolas-fora e exigiria cartão
vermelho para os jogadores que, em nosso nome, estivessem se
aproveitando para prejudicar o time em causa própria.
Não é utopia. Eu já vi isso nos anos 70. Agora já tempos uma base
mais sólida para o reerguimento de anos de falta de ética e de
administração que nos levou à maior recessão da história, de tal forma
que ainda restam 12 milhões de desempregados.
Se demonstramos entusiasmo com um time de futebol, que de retorno
pode dar-nos, no máximo, alegrias, então podemos torcer pelo Brasil –
time de que somos sócios perpétuos – com resultados que vão além de
alegrias clubísticas. Podemos provocar bem-estar, emprego, mais riqueza,
melhores salários, mais e melhor ensino, mais segurança e, sobretudo,
um 2020 melhor. Feliz Ano Novo!
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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