Foto: Estadão
O chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, e o ministro da Economia, Paulo Guedes
As idas e vindas em torno do aumento do Imposto sobre Operações
Financeiras (IOF) e da proposta de reforma da Previdência revelaram uma
disputa interna na equipe do presidente Jair Bolsonaro logo na primeira
semana do novo governo. De um lado está o chefe da Casa Civil, Onyx
Lorenzoni, e, de outro, o ministro da Economia, Paulo Guedes. O primeiro
é o capitão do time e o segundo tem a chave do cofre. A elevação do IOF
para compensar a perda de arrecadação com a extensão de incentivos às
regiões Norte e Nordeste, anunciada na sexta-feira, 4, pelo presidente e
depois descartada pelo secretário especial da Receita Federal, Marcos
Cintra, chegou mesmo a ser cogitada por Guedes. O Estado apurou que o
núcleo político do governo teria, no entanto, vencido a queda de braço e
conseguido derrubar a proposta, considerada impopular. No Palácio do
Planalto há quem atribua o vazamento da notícia sobre o aumento do IOF
ao ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência, Gustavo Bebianno,
que faria uma espécie de “dobradinha” com Guedes. Nos bastidores, Onyx e
Bebianno disputam o protagonismo nas articulações políticas. Não é de
hoje que o chefe da Casa Civil anda se estranhando com o titular da
Economia. Nos últimos dias, Onyx ficou muito contrariado ao saber que
Guedes convenceu o PSL de Bolsonaro a apoiar a candidatura à reeleição
do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). No diagnóstico do
ministro da Economia, a recondução de Maia é fundamental para que o
governo tenha mais tranquilidade no Congresso e consiga aprovar, por
exemplo, a reforma da Previdência. Bebianno tem a mesma avaliação de
Guedes e acha até mesmo que alguma mudança nas regras da aposentadoria
já poderia ter passado pelo Congresso se o aval a Maia já tivesse sido
anunciado. Apesar de ser do DEM, Onyx resistia ao apoio a Maia. Ficou
ainda mais irritado ao saber que a aproximação entre o PSL e Maia foi
feita por Guedes. Para acalmar o chefe da Casa Civil, deputados eleitos
do PSL disseram que foram obrigados a vencer as resistências a Maia
porque, caso contrário, o partido de Bolsonaro ficaria isolado, sem
assento em comissões estratégicas da Câmara, como Constituição e Justiça
e Finanças e Orçamento. Onyx só se convenceu mesmo depois que
integrantes da nova assessoria de apoio parlamentar da Casa Civil –
formada por deputados não reeleitos – disseram que, se Maia fosse
“ignorado” pelo PSL, criaria muitos problemas para o Planalto em
votações. O ministro da Casa Civil também tem sido o protagonista de
informações consideradas desencontradas sobre a proposta de reforma da
Previdência. Isso desagrada à equipe técnica que elabora o texto porque
aumenta as incertezas em torno da estratégia para a proposta que será
apresentada depois que o novo Congresso voltar aos trabalhos, em
fevereiro. A entrevista dada pelo presidente na noite de quinta-feira ao
SBT, comentando pontos ainda não definidos da proposta, trouxe
preocupação ao mercado, que viu risco de a reforma ser muito branda. O
desencontro, na sexta-feira, na comunicação em torno das mudanças no IOF
e das alíquotas do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF),
descartadas no final do dia pelo ministro da Casa Civil, também foi mal
recebido pelos investidores. No final do dia, Onxy tentou corrigir o
problema. Segundo ele, Bolsonaro se “equivocou” ao falar do IOF e do IR.
“Estava toda uma celeuma no País que era ter aumento de impostos. Não
dá para o cidadão que votou no Bolsonaro para não ter aumento de
impostos e ter aumento de impostos”, afirmou.
Estadão
Nenhum comentário:
Postar um comentário