A possibilidade do
empresário luloburguês Eike Batista fazer uma delação é considerada de
grande importância, já que ele tinha passe livre junto ao BNDES, antro
de corrupção internacional do lulopetismo. Lá tem, só tem. Quebre-se
essa caixa-preta:
O instrumento da
colaboração premiada tem sido chave para o êxito da Lava-Jato e de
outras investigações menos conhecidas, feitas no universo do crime de
colarinho branco. Repete o que aconteceu no exterior, por este tipo de
delação, na repressão a organizações criminosas. Como a do petrolão.
Lançada em março de
2014, a Lava-Jato só decolou e avançou devido a delações estratégicas: a
primeira delas, a do próprio doleiro Alberto Youssef, marco zero das
investigações; veio em seguida a de Paulo Roberto Costa, primeira pessoa
do esquema do petrolão, enraizado na diretoria da Petrobras, a trocar
informações por redução de penas; e assim transcorreu até se chegar ao
maior e mais importante acordo feito até agora na Lava-Jato — entre
acionistas e diretores da Odebrecht, 77 pessoas e 800 depoimentos.
O empresário Eike
Batista só agora entra para valer em toda esta história, mas reúne
características que podem elevar bastante sua possível delação premiada
no ranking de importância dos depoimentos feitos desde 2014, quando
começou a Lava-Jato, de que a Operação Eficiência, em cujas malhas caiu
Eike, é ramificação.
Eike Batista sonhou
alto — chegou a ser o sétimo homem mais rico do mundo, ao vender
projetos inflados de expectativas que ele criava, mas que não eram tudo
aquilo que acenava — e poderá relatar as cumplicidades não apenas no
plano federal, mas também no estadual.
Ao circular entre Rio
e Brasília nos governos Lula e Dilma, Eike foi incluído na lista dos
“campeões nacionais”, com livre acesso ao BNDES, a ferramenta financeira
usada no projeto lulopetista de um capitalismo de estado para
empresários companheiros. Na tentativa infrutífera de se livrar de uma
prisão que devia pressentir, Eike se apresentou voluntariamente à
Lava-Jato, para relatar a cobrança de R$ 5 milhões feita pelo então
ministro da Fazenda, Guido Mantega, para a campanha eleitoral de Dilma.
Sem que surpreenda, o dinheiro foi entregue aos marqueteiros do
lulopetismo, João Santana e Mônica Moura. Informação interessante, mas
que não livrou Eike de Bangu 9.
No plano estadual, o
empresário terá de explicar a mirabolante transferência de US$ 16,5
milhões a Sérgio Cabral, ex-governador fluminense. Eike, pelo que disse
no aeroporto de Nova York e no avião de volta, ao GLOBO, deve explorar a
linha de defesa de que políticos o achacaram. Pode ser, porém não o
inocenta de crimes.
Uma desejável delação
de Eike deverá levantar um aspecto deste capitalismo de estado e de
compadrio que o lulopetismo ajudou a enraizar no Brasil: grandes
investidores não conseguiam contornar o pagamento de pedágios para tocar
seus projetos. Isso não os torna vítimas, até porque são agentes ativos
da corrupção.
Uma bem-vinda
colaboração de Eike Batista ajudará a compor talvez o mapa mais
detalhado da cultura da corrupção, em altas e médias esferas, numa das
dez maiores economias do mundo. Servirá de agenda de trabalho para a
sociedade pressionar pela criação de barreiras institucionais contra
esta perigosa degradação nos negócios públicos, que envenena o universo
político e a gestão do Estado. (Editorial do Globo).
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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