O escárnio de Sérgio Cabral ao povo carioca, com total desrespeito e desvio do dinheiro da população do Estado do Rio de Janeiro, me lembra uma grandiosa ópera de Rudgero Leoncavallo, “Il Pagliaccio” (O Palhaço), na sua ária mais famosa, “Vesti la Giubba” (Vista a Fantasia). Não posso deixar de comparar o cidadão eleitor, de posse do seu título (e sequer precisamos deste documento para votar, surpreendentemente), que sai de sua casa, do conforto do seu lar e do descanso em pleno dia de domingo, para votar em ladrões, corruptos, gente da pior espécie, de certa forma agindo como o personagem desta peça musical fabulosa.
Pois a cidadania brasileira caracteriza-nos como palhaços, e quando o tenor canta este trecho, maquiado como se fosse um arlequim, ele está usando a sua vestimenta verdadeira que, devidamente traduzida seria:
“Tu és palhaço,
Vista a fantasia e pinte a cara.
As pessoas pagam, e querem rir,
E se arlequim te rouba a colombina,
Ria, palhaço, e todos aplaudirão!
Transforma em pantomimas o riso e o pranto,
Em uma metamorfose o soluço e a dor.
Ria, palhaço, sobre o teu amor destroçado,
Ria da dor que te envenena o coração!”
Pois a “festa cívica” das eleições se transforma posteriormente em desgraças, desemprego, dívidas pela falta de dinheiro, juros extorsivos – “Ri, palhaço!”, dizem em coro os parlamentares, “enquanto tu choras, nós nos deliciamos com o teu dinheiro, com o suor do teu trabalho, com o sangue que derramas nas ruas das cidades tomadas por bandidos e assassinos!”
“Ri, palhaço, e faz do teu titulo de eleitor o documento que te identifica como um bufão”, vocifera o parlamentar.
E a nós, os verdadeiros palhaços, só nos resta obedecer e outorgar poderes, para depois lamenta os roubos, desmandos e descalabros cometidos em nosso nome.
Nas festas de Momo, que acontecem nesta semana, iniciadas desde sexta-feira em algumas cidades até uma semana atrás, não vejo o povo fantasiado, mas uma população cuja vestimenta é real, verdadeira, e cujas danças ou o pular dos sambas entoados é de uma população de legítimos palhaços, que diverte os poderosos, que ri de si mesma, que chama seus verdugos de Excelências, que depois de alguns dias volta para casa chorando, triste, porque a vida que pensa ser a legítima é a pantomima que interpreta, e de péssima qualidade.
– “Ri, palhaço”, grita em coro ensaiado o parlamentar, que debocha do teu infortúnio, do teu desespero, da ficção que é a tua existência, enquanto o povo, vestido de palhaço, ri, canta e dança, tentando esquecer seu infortúnio.
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