Com luvas de pelica, a FSP publica hoje um confuso editorial
que rejeita tanto Dilma quanto Temer, mas não defende o impeachment.
Hipocritamente, pede sua renúncia - o que, sabe a Folha, dificilmente
acontecerá, dada a doentia renitência de Dilma. Caso houvesse renúncia,
seriam convocadas novas eleições em 90 dias, para agrado de Marina
Silva, que, de maneira oportunista, saiu do seringal por esses dias para
defender essa mesma ideia:
A presidente Dilma Rousseff (PT) perdeu as condições de governar o país.
É com
pesar que este jornal chega a essa conclusão. Nunca é desejável
interromper, ainda que por meios legais, um mandato presidencial obtido
em eleição democrática.
Depois de
seu partido protagonizar os maiores escândalos de corrupção de que se
tem notícia; depois de se reeleger à custa de clamoroso estelionato
eleitoral; depois de seu governo provocar a pior recessão da história,
Dilma colhe o que merece.
Formou-se
imensa maioria favorável a seu impeachment. As maiores manifestações
políticas de que se tem registro no Brasil tomaram as ruas a exigir a
remoção da presidente. Sempre oportunistas, as forças dominantes no
Congresso ocupam o vazio deixado pelo colapso do governo.
A
administração foi posta a serviço de dois propósitos: barrar o
impedimento, mediante desbragada compra de apoio parlamentar, e proteger
o ex-presidente Lula e companheiros às voltas com problemas na Justiça.
Mesmo que
vença a batalha na Câmara, o que parece cada vez mais improvável, não
se vislumbra como ela possa voltar a governar. Os fatores que levaram à
falência de sua autoridade persistirão.
Enquanto
Dilma Rousseff permanecer no cargo, a nação seguirá crispada,
paralisada. É forçoso reconhecer que a presidente constitui hoje o
obstáculo à recuperação do país.
Esta
Folha continuará empenhando-se em publicar um resumo equilibrado dos
fatos e um espectro plural de opiniões, mas passa a se incluir entre os
que preferem a renúncia à deposição constitucional.
Embora
existam motivos para o impedimento, até porque a legislação estabelece
farta gama de opções, nenhum deles é irrefutável. Não que faltem
indícios de má conduta; falta, até agora, comprovação cabal. Pedaladas
fiscais são razão questionável numa cultura orçamentária ainda
permissiva.
Mesmo
desmoralizado, o PT tem respaldo de uma minoria expressiva; o
impeachment tenderá a deixar um rastro de ressentimento. Já a renúncia
traduziria, num gesto de desapego e realismo, a consciência da
mandatária de que condições alheias à sua vontade a impedem de se
desincumbir da missão.
A mesma
consciência deveria ter Michel Temer (PMDB), que tampouco dispõe de
suficiente apoio na sociedade. Dada a gravidade excepcional desta crise,
seria uma bênção que o poder retornasse logo ao povo a fim de que ele
investisse alguém da legitimidade requerida para promover reformas
estruturais e tirar o país da estagnação.
O
Tribunal Superior Eleitoral julgará as contas da chapa eleita em 2014 e
poderá cassá-la. Seja por essa saída, seja pela renúncia dupla, a
população seria convocada a participar de nova eleição presidencial, num
prazo de 90 dias.
Imprescindível,
antes, que a Câmara dos Deputados ou o Supremo Tribunal Federal afaste
de vez a nefasta figura de Eduardo Cunha –o próximo na linha de
sucessão–, réu naquela corte e que jamais poderia dirigir o Brasil nesse
intervalo.
Dilma
Rousseff deve renunciar já, para poupar o país do trauma do impeachment e
superar tanto o impasse que o mantém atolado como a calamidade sem
precedentes do atual governo.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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