"Não perco o controle, não perco o eixo, não perco a esperança. Porque sou mulher e me acostumei a lutar por mim e pelos que amo." Era visível que, naquele momento, faltavam-lhe controle, eixo e esperança
Responda,
leitor, leitora, a uma pergunta que hei de fazer de maneira bem crua,
sem rodeios, sem subterfúgios: o quadrado da hipotenusa deixará de ser
igual à soma dos quadrados dos catetos a depender do que vocês tenham
entre as pernas? Há alguma chance de duas vezes dois deixarem de ser
quatro a depender, digamos, do uso que você dê a esse aparelho
localizado entre os fêmures?
Tendo a
achar que não. Como também tendo a considerar que a cor da pele, por
exemplo, não muda a composição da água, do sal ou do enxofre. Ou ainda a
fórmula de Bhaskara.
Por que
isso? Dilma recebeu, como sabem, nesta quinta, um grupo de
personalidades num tal “Encontro com Mulheres em Defesa da Democracia”.
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Já esse
título deveria constranger uma professora de filosofia — que se diz
“filósofa”, como se fossem coisas sinônimas — como Márcia Tiburi, que
estava lá. Afinal, se aquele era o encontro das mulheres “em defesa da
democracia”, deve-se supor que as que defendem o impeachment ou são
contrárias à democracia ou mulheres não são.
Márcia
levaria pau no curso Massinha I de Escolástica. Imagino a confusão
mental em que não entrou quando tentaram lhe ensinar dialética, que ela
se esforça, sem sucesso, para ensinar aos outros.
De uma
professora de filosofia, a primeira coisa que se espera é precisão com
as palavras. Mas há muito o “logos” não está entre as preocupações da
midiática professora. Ela prefere a logorreia. Cobrou a saída de Eduardo
Cunha. Tou junto. Mas disse que as críticas sofridas por Dilma são “do
nível do estupro político”.
Claro! Esta
senhora só apelou a tal metáfora porque Dilma é mulher. Assim sendo,
seus adversários, se homens, são potenciais estupradores; se mulheres,
condescendentes com o estupro.
O nome disso
é delinquência intelectual. Mas sou justo: outro dia alguém fotografou
um trecho de um livro dessa Tiburi aí e me mandou, ainda da livraria, às
gargalhadas. Não comprou, claro! Eu diria que ela pensa como fala e
escreve como pensa. Não sei se fui muito sutil. Quando na televisão, as
suas indignações primitivas eram corrigidas pelo charme ou pela
inteligência de suas parceiras. Entregue ao comando do próprio cérebro,
produz essas maravilhas.
É espantoso
que Márcia e as demais mulheres que ficaram entoando cantos contra o
impeachment em pleno Palácio do Planalto, em meio a gritos de “Fora
Michel Temer”, acreditem que o fato de pertencerem, digamos, ao mesmo
gênero da presidente lhes confira especial competência para avaliar, por
exemplo, as provas da Lava Jato.
Olhem que
vou recusar a crítica fácil e bronca, que consistiria em indagar se,
agora, os que defendemos o impeachment podemos, afinal, criar o
“Encontro com Homens em Defesa da Democracia”, tendo como pauta a posse
legítima de Temer… Seria uma tolice responder assim àquela patuscada
porque, obviamente, aquele encontro se assenta no fato de que a mulher
é, em muitos casos, oprimida na sociedade — e é mesmo.
Mas esse é o
caso de Dilma, eleita e reeleita, com os poderes quase imperiais de que
dispõe um presidente no Brasil? Mais: se há alguém que gosta de exercer
o mando sem ouvir ninguém, seja qual for o padrão de comparação,
masculino ou feminino, eis a senhora.
Mais do que
isso: se a dona Tiburi está em busca de estupro político, que procure
ver o que Lula — não outro qualquer — fez com Dilma, ao se impor como
ministro, e a presidente oficial sabe disso, sob a ameaça de o próprio
PT deixá-la ao léu. Dilma aceitou ser a serva do macho alfa, naquele que
é, sim, o mais triste papel que uma mulher, diante de suas semelhantes,
poderia desempenhar no poder.
A ainda
presidente voltou a vociferar contra a Lava Jato, em mais um ato ilegal
promovido no Palácio. Ela não tem o direito de transformar um prédio
público num aparelho de resistência aos Poderes Legislativo e
Judiciário. Crimes estão sendo cometidos, é bom que se diga.
Dilma
referiu-se aos dados que circularam sobre a delação da Andrade
Gutierrez. Chamou-os de “vazamentos seletivos” e “premeditados”, a
serviço do “golpe”. E tudo isso aos berros. E emendou, com humor
involuntário: “Não perco o controle, não perco o eixo, não perco a
esperança. Porque sou mulher e me acostumei a lutar por mim e pelos que
amo”.
Era visível
que, naquele momento, faltavam-lhe controle, eixo e esperança. E sobrava
hipocrisia. A menos que esta senhora venha a público reivindicar a
inimputabilidade porque, afinal, é uma mulher.
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