MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

O problema das relações entre a alma e o corpo


Ednei Freitas
A causa tem especial importância em psicopatologia, tanto pela origem predominantemente somática dos transtornos psiquiátricos mais sérios da mente, quanto pela repercussão do psíquico sobre o corpóreo, muito mais notável nas personalidades anormais do que nas normais. É um assunto filosófico espinhoso e inevitável, e que em uma e outra forma suscita problemas teóricos à observação e às decisões na prática clínica do psiquiatra.
Admito, com Aristóteles, que em nosso mundo não existem corpo e alma separados, mas sim corpos animados ou, como W. Stern e os holistas, que não há físico e psíquico em si, mas sim pessoas reais como fato fundamental do mundo objetivo, e que somente surge a questão do psíquico e do físico como fator de segunda ordem. Todavia não podemos negar que ao manifestar-se as pessoas a si mesmas bem como a outras pessoas, a experiência nos coloca de pronto frente a estes fatores “de segunda ordem”, cuja identidade fenomenal é indiscutível e cuja verificação é exigência do espírito científico.
De fato, se a ciência tem por objeto o conhecimento dos fenômenos e de suas relações, nada mais próprio que discernir com a maior precisão possível as características de cada ordem de fenômenos e as conexões prováveis entre os de mesma ordem e entre os de ordens diferentes – no caso da psicopatologia, entre os fenômenos anímicos e corporais. Assim evitaremos incorrer no erro que Palágyi considera origem da possibilidade dos maiores extravios humanos : tomar por espiritual o que é somente vital, e por vital o que é puramente espiritual.
QUESTÃO CAPITAL
Aqui surge uma questão capital: Em que sentido os psicopatologistas empregam os termos “anímico” e “corporal”, e seus análogos: “mental” e “físico”, “psíquico” ou “somático”? Na verdade, aplicam estas palavras – assim como espiritual -, em diversos sentidos, segundo a concepção de cada um dos psicopatologistas, e geralmente de maneira ambígua. Caso se pretenda precisar os conceitos e examinar as coisas em sua verdadeira luz, faz-se mister distinguir categoricamente os planos ou aspectos do ser e dos modos de conexão de seus correspondentes fenômenos. A realidade do homem é complexa, pois nela acontecem formas distintas do ser, cada uma irredutível qualitativamente.
1° – O homem como ser material. A morte põe de manifesto nossa pura realidade material, submetida às leis das ciências físicas, isto é, inteligível de maneira mecânica e quantitativa, suscetível a uma investigação que se esgota em termos relativos a substâncias materiais e propriedades elementares. No cadáver, da mesma forma que no reino mineral, só interessa a determinação causal, e a matéria tende a desagregar-se.
2º O homem como ser biológico. Sem perder suas propriedades e sua sujeição às leis que regem o inorgânico, a matéria presente nos vegetais, nos animais e no homem se integra e adquire uma condição frente à qual as ciências físicas são meios indispensáveis de conhecimento, porém não especificamente correspondentes: pois a vida do organismo é realidade de categoria distinta à dos processos físico-químicos em que se sustenta. A vida é a uma só vez surgente e consolidante, dinâmica e estável. Compreende equilíbrio em perene transformação, segundo uma ordem própria de diferenciação e ritmo; de crescimento, plenitude e de cadência; de defesa, expansão, reprodução e herança; ordem que frente ao meio e ao tempo mantêm, relaciona e configura aos organismos de acordo com fins e limites inerentes ao indivíduo, à espécie e à vida como uma totalidade.
3º – O homem como ser anímico. O homem é mais do que ser material e biológico: é ente psíquico capaz de viver em continuidade conexiva com os acontecimentos do mundo circundante, ao qual enfrenta com a intencionalidade da consciência, com seus estados, tendências e elaborações que se objetivam na expressão e têm um centro permanente no ego (si mesmo).
4° – O homem como ser espiritual. Por último, o homem é, de qualquer forma e por excelência, um ser espiritual. Nesta ordem da realidade humana, o mundo exterior se articula pela razão e a ligação com o mundo imaterial e intemporal das essências, os valores e as exigências, que só adquirem sentido graças à capacidade de comunicação verbal, de conceber idéias e ideais, de atuar e produzir com a consciência da própria liberdade e com a convicção de uma objetividade meta-empírica. Aqui o sujeito adquire a dignidade moral de pessoa responsável, e a existência adquire a possibilidade de realizar-se a si mesma, frente à natureza, frente ao mundo histórico da cultura, e frente às demais pessoas – entidades das quais pode distanciar-se para julgá-las e influir (diálogo) sobre elas.

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