Sevidores do ICMBio e Funai estão impedidos de deixar aldeia há 3 dias.
Filho afirma que servidores estão sendo ameaçados por índios com terçado.
Familiares estão preocupados com parentes que estão detidos em aldeia no interior do Acre (Foto: Adelcimar Carvalho/G1)
Desde a última quarta-feira (15), índios da aldeia Nawa, localizada no
Parque Nacional da Serra do Divisor, em Cruzeiro do Sul (AC), impedem
que três servidores do Instituto Chico Mendes de Conservação e
Biodiversidade (ICMBio) e um da Fundação Nacional do Índio (Funai)
deixem a área. Eles cobram do governo federal a demarcação de terras.
Aflitos, familiares dos servidores cobram agilidade dos órgãos para que
eles sejam liberados.O filho de uma das servidores retidas na aldeias conta que falou com a mãe na manhã desta sexta-feira (17) e que o clima é de tensão. "A qualquer momento os ânimos vão aumentando, os índios vão perder a paciência de esperar. Eles estão armados. Não se brinca com uma situação dessa. Temo pela vida da minha mãe e de todo mundo que está lá dentro", destaca ele, que pediu para não ser identificado.
Ele conta ainda que os servidores são ameaçados constantemente com terçados. O barco da equipe também foi retido e os índios alegam que só vão soltar os servidores quando o presidente da Funai comparecer ao local.
Marbelita e João fazem parte do grupo de servidores impedidos de deixar aldeia (Foto: Reprodução Facenook)
"Eles deixam bem explícito que se o presidente não aparecer vai ter
repercussão. E a Funai diz que eles não são reféns, só por que são
índios? Eles têm direito de ter a terra deles, defendo isso. Mas, acho
que a partir do momento que você deixa a pessoa em cárcere privado, abre
mão de todos esses direitos", enfatiza.O jovem também acha que a Funai está sendo omissa e pede a entrada no Exército no caso para o resgate dos servidores.
Antônio Francisco dos Santos, de 58 anos, é pai de Marbelita Araceli e tio de João Damasceno filho, que também estão 'presos' no local. Santos, que é filho de índio da etnia Poyanáwa e casado com uma índia peruana, conta que tem conseguido manter contato telefônico com a filha e o sobrinho. Segundo ele, todos os servidores estão 'só com a roupa do corpo' e toda movimentação deles é acompanhada de perto por indígenas. O coordenador da Funai na região, Luiz Valdemir Nukuni e a servidora do ICMBio, Rutíla Ferreira, também integram o grupo de servidores retidos.
A mãe de Marbelita, Júlia Rodrigues dos Santos diz que sente que a filha está abalada e que torce para que ninguém esteja maltratando a filha. “Mãe é mãe, ela pode estar dizendo que está bem, mas a gente fica aflita, o coração de mãe sempre se preocupa. Espero que eles sejam humanos e não queiram maltratar ninguém. Eles [equipe do ICMBio e da Funai] não estavam lá para prejudicar ninguém, são seres humanos que estavam fazendo seus trabalhos”, falou.
Outra que também está preocupada com a situação é Maria dos Santos Damasceno, de 63 anos, mãe do administrador do parque. “Ele disse que eu me tranquilizasse, pois o povo já estava resolvendo. Mas a gente como mãe nunca fica tranquila com uma situação dessas. Já tenho problema de saúde e fico preocupada com meu filho. Quero que as pessoas façam logo um acordo para que eles sejam liberados”, disse.
Funai diz 'desconhecer' ameaças
Em nota enviada ao G1, na tarde desta sexta-feira (17), a Fundação Nacional do Índio (Funai) informou que enviou um documento ao cacique da aldeia para negociar um acordo e disse desconhecer qualquer tipo de ameaça aos servidores por parte dos índios.
"A Funai informa que a Fundação e o ICMBIO já encaminharam carta a liderança indígena do povo Nawa para acertar uma agenda de diálogo. A Funai ainda esclarece que está em contato direto, desde ontem, com o cacique João Nawa e que desconhece qualquer tipo de agressão que os servidores possam estar sofrendo".
Mais cedo, em outra nota, a instituição já havia negado que os servidores estivessem sendo mantidos prisioneiros. "Não se trata de prisão, portanto, os servidores não são reféns, apenas o barco que faz o transporte para a outra margem do rio está atracado e amarrado, mas os servidores estão soltos, se alimentam e passam bem".
O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) também se manifestou por meio de nota. No documento, a entidade reitera que está trabalhando junto com a Funai para chegar a um acordo com os indígenas.
"Conforme entendimentos conjuntos entre a Presidência do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e a presidência da Fundação Nacional do índio (Funai), manifestamos o compromisso deste instituto de participar do diálogo com as lideranças do povo Nawá na agenda a ser construída em conjunto, a partir dos entendimentos entre o líder indígena e o presidente da Funai".
Servidores são impedidos de sair de aldeia por
índígenas (Foto: Divulgação ICMBio)
Entenda o casoíndígenas (Foto: Divulgação ICMBio)
Três servidores do Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade (ICMbio) e um da Fundação Nacional do Índio (Funai) estão impedidos de deixar a aldeia indígena Nawa, que fica dentro do Parque Nacional da Serra do Divisor. A Polícia Federal tenta negociar com os indígenas. De acordo com informações dos órgãos, a liberação dos servidores só deve ser feita com a presença de autoridade federais.
O povo Nawa faz parte do tronco linguístico pano e hoje luta para resgatar sua língua materna. Atualmente, a população é de aproximadamente 700 pessoas, divididas em quatro aldeias - Sete de setembro, Zulmira, Aquidabã e Novo recreio - localizadas no Rio Moa, numa área de 83.218 hectares que está em processo de regularização fundiária.
O povo Nawa tinha sido considerado extinto entre os anos 1904 e 1998. Em 1999, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) reconheceu os índios que habitavam à margem direita do Rio Moa, na área do Parque Nacional da Serra do Divisor, como sendo remanescentes dos Nawa. Desde então, se iniciou o processo de reconhecimento étnico e o início da luta pela regularização fundiária do seu território, que culminou com a detenção dos quatro servidores público.
A unidade de conservação da Serra do Divisor tem 8 mil quilômetros quadrados e abrange os municípios de Mâncio Lima, Cruzeiro do Sul, Marechal Thaumartugo, Porto Walter e Rodrigues Alves. O coordenador do Centro de Formação e Tecnologias do Juruá (Ceflora), Evilásio Santos, avalia que o contato dos alunos com a região da Serra do Divisor e sua biodiversidade foi parte imprescindível para formação na área florestal.
Nenhum comentário:
Postar um comentário