A
presidente Dilma Rousseff resolveu liberar, até o fim do ano, R$ 4,9
bilhões em emendas parlamentares, numa tentativa de unir a base.
Encontra-se hoje com governadores para, em tese, fechar uma pauta
mínima, na esperança de que eles possam interferir em votações na
Câmara.
Dilma quer
evitar a chamada aprovação da pauta-bomba — que arromba os cofres
públicos — ou a derrubada de vetos já feitos, como o reajuste aos
servidores do Judiciário, ou que fará: a correção de todas as
aposentadorias segundo o índice que vai reajustar o salário mínimo, por
exemplo. Em troca, vai discutir a unificação do ICMS — o que nunca
unifica os governadores — e condescender com um drible de corpo na Lei
de Responsabilidade Fiscal: promete sancionar projeto de lei que permite
a estados e municípios o uso, como receita, de parte dos depósitos
judiciais.
É claro que
isso corresponde a, vamos dizer, estimular que seja considerado dinheiro
bom o que essencialmente não é. Trata-se de uma deterioração nas contas
públicas.
Olhem aqui:
ninguém pode condenar um governo por tentar unir a sua base ou
conquistar ou, ao menos, buscar o apoio da oposição em temas pontuais: a
questão é saber em torno de quais propostas se fazem esses esforços. E
aí está o busílis. O governo não tem agenda, reitero, nem para atrair os
seus.
Os
parlamentares, como se nota, estão sendo cooptados com os instrumentos
de sempre: emendas. Assim entende esse governo a questão política: é
como ir à feira. No caso dos governadores, acena-se com um freio de
arrumação no ICMS, medida para evitar a guerra fiscal. É claro que a
questão é relevante. Mas será mesmo esse o melhor momento? Isso não
deveria ser parte de uma agenda de longo prazo, estruturada, num debate
organizado?
Mas quê… É
tudo da mão para a boca. Até porque se sabe que, não estivesse nas
cordas, não haveria interlocução nenhuma. Essa questão do ICMS, por
exemplo, poderia ser nova, mas não é.
Ocorre que
essa agenda a ser debatida com os governadores é tão falsa como nota de
R$ 3. Não é com esse propósito que Dilma os chamou. Trata-se de uma
medida de desespero, na esperança de que eles consigam interferir nas
bancadas federais de seus respectivos estados, mas não apenas em relação
à chamada pauta-bomba. O Planalto está mesmo preocupado é com a votação
do relatório do TCU: ainda hoje, dá como certo que o tribunal
recomendará a sua rejeição. Pretende, então, contar com eles como
instrumentos de pressão.
Já escrevi
aqui e reitero: política de governadores nunca deu certo no país. Não há
exemplos na história. As bancadas se organizam segundo outros
fundamentos, muitos deles acima até dos interesses das respectivas
legendas.
Podem-se
preparar. Daqui a pouco, a reunião acaba, e os governadores serão
ouvidos pela imprensa. E então constataremos o maior desfile de palavras
ocas do ano. A razão é simples: o motivo por que Dilma os chamou lá não
terá sido dito, e o que se disse não corresponde ao motivo. Então se
estabelece um diálogo literalmente sobre o nada.
Insisto: não
estou aqui a censurar Dilma porque faz, afinal de contas, um esforço
para não cair. O que se lamenta e ver o desperdício de um a oportunidade
de diálogo, que só está em curso porque o governo está acuado.
Ah, sim: de
resto, não há como ignorar a tentativa de atropelar o comando da
oposição, tentando atrair os governadores, que, prudentemente, já
escrevi aqui, tentarão não se contaminar com os dois dígitos de inflação
de Dilma e com o seu dígito único de popularidade.
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