Lucas Prates/Hoje em Dia
Marcela usa a ferramenta para conhecer os alimentos que não têm rótulo
Na semana passada, a imprensa internacional destacou o caso de uma adolescente inglesa de 14 anos que desenvolveu anorexia após ficar viciada na contagem calórica. No último domingo, uma jovem paulista morreu em decorrência de uma anemia profunda e de uma série de infecções, em decorrência de uma dieta de 400 calorias.
“Até acho os aplicativos válidos, desde que utilizados sob monitoração, porque nem todo mundo tem o mesmo perfil. Contar calorias é uma forma muito simplista de emagrecer”, avalia a coordenadora do setor de Nutrição do Instituto Mineiro de Endocrinologia (IME), Caroline Fernandes.
Ela explica que a obsessão por um corpo perfeito pode desencadear problemas sérios, como a desnutrição desenvolvida pela jovem da Inglaterra. “Algumas pessoas ficam muito ansiosas e deixam de comer, outras comem mais. Temos que avaliar tudo isso”, completa.
Desequilíbrio
Nos últimos quatro anos, a empresária Marcela Santos, de 33 anos, experimentou uma série de aplicativos adquiridos em lojas virtuais. Apesar de admitir ter se sentido dependente do mecanismo, aprendeu a controlar-se. “Com ele, sei o que estou comendo e quantas calorias e nutrientes os alimentos têm, principalmente os sem rótulo. Para mim, são ferramentas que só têm a acrescentar e, agora que já decorei muitas informações, não sou mais tão viciada”, garante.
Controle
Para a nutricionista, porém, mais do que driblar o vício, é importante ter em mente que alcançar o equilíbrio na balança vai além do controle alimentar. “É complicado uma máquina substituindo um profissional. Na consulta, tem a avaliação física, os relatos do paciente sobre rotina, alimentação e a percepção que ele tem do corpo. São coisas subjetivas que a máquina não avalia”, ressalta.
Ciente disso, a advogada Carolina Martins, de 35 anos, começou a usar um app após indicação da personal trainer. A ideia era registrar o que comia e os exercícios físicos para que o dispositivo calculasse as calorias necessárias. “Consegui controlar a alimentação, mas não emagreci. Então, resolvi fazer um acompanhamento com médicos e nutricionistas. Tudo deve ser usado de forma moderada, sem exagero”, diz Carolina.
Empresas tradicionais de olho nas plataformas para celular
A migração das pessoas para as plataformas digitais tem levado empresas a seguir o mesmo caminho. Um dos programas de perda de peso mais conhecidos no Brasil, o Vigilantes do Peso, já tem versão para aplicativo desde novembro do ano passado. De lá para cá, a ferramenta somou mais de 10 mil downloads, sendo 60% deles associados ao programa de emagrecimento.
“Nosso aplicativo é gratuito e qualquer um pode baixar. Nele, disponibilizamos receitas, histórias de sucesso, artigos de saúde e bem-estar. Existe também uma área restrita aos associados, porque entendemos que é importante para a pessoa frequentar nossas reuniões e estar por dentro do nosso conceito”, destaca a gerente de produtos digitais da empresa, Nancy de Filippis.
Modelo tradicional
Tanta facilidade, porém, pode ser prejudicial à saúde, sobretudo quando o apelo for estético. É o que diz a nutricionista Izabela Damaceno, que, embora reconheça as facilidades das ferramentas virtuais, prefere orientar os pacientes nos moldes mais tradicionais.
“É comum acontecer de as pessoas me procurarem já fazendo uso desses dispositivos. Eu, particularmente, não recomendo. Acho que a pessoa tem que ser muito esclarecida e mente aberta. Afinal, com a mídia mostrando mulheres maravilhosas, com corpos esculturais, quem não quer ter um desses também? Por causa disso, na maioria das vezes, a pessoa acaba comendo menos do que deveria”, alerta.
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