Ai, ai…
Há coisas,
como costumo escrever aqui, que nem erradas são. Apenas não existem. A
“política de governadores”, que Dilma pretende ressuscitar, foi
enterrada junto com a República Velha. E todas as tentativas de
retomá-la, desde aquele tempo, deram em nada. Como dará de novo agora.
A presidente
pretende reunir os 27 chefes de Executivos estaduais na quinta-feira
para que eles conversem com as respectivas bancadas federais de seus
Estados, tentando impedir a aprovação da chamada “pauta-bomba” — medidas
que provocariam um rombo no caixa, a exemplo do tal aumento de 56%, em
média, concedido ao Judiciário, que ela teve de vetar.
Qual é a
justificativa para o encontro, tecnicamente procedente, mas
politicamente inócua? Reajustes concedidos a funcionários federais e
gastos impostos à União acabam, invariavelmente, impactando nos Estados.
É verdade. A questão é saber qual é o real poder de fogo dos
governadores nas bancadas federais. Os alinhamentos que se dão no
Parlamento são de outra natureza. Nem mesmo o Senado está sujeito a uma
influência muito forte dos governadores. A orientação partidária e as
afinidades por setor da economia ou por convicção acabam tendo mais
influência.
De resto, a
tal pauta-bomba é mero pretexto. Dilma está querendo é dar uma
demonstração de força política num momento em que se considera que
cresceu a possibilidade de ter sequência uma denúncia contra ela na
Câmara, já que, por enquanto ao menos, o governo avalia que é altíssimo o
risco de o TCU recomendar a rejeição das contas. Também esse tema
ficará fora da pauta, mas, como se sabe, presente.
Os
governadores estão numa saia-justa. É provável que compareçam. Por outro
lado, prefeririam ficar longe desse cálice. Nenhum chefe de Executivo
estadual é hoje tão impopular como Dilma. O receio óbvio é que a
impopularidade dela os acabe contaminando e que, vistos todos juntos,
sejam considerados corresponsáveis pelo momento notavelmente ruim por
que passa a economia.
A presidente
pretende fazer a reunião na quinta, dia 30, quase antevéspera de ir ao
ar o programa político do PT, no qual ela vai falar. O panelaço,
apitaço, buzinaço e outros superlativos do descontentamento pátrio já
estão convocados. Dez dias depois, há o protesto, que já se aposta
gigante, do dia 16 de agosto. Ninguém estava disposto a posar agora ao
lado de Dilma, mas sabem como é… No federalismo à moda brasileira, em
que presidente da República é quase imperador absolutista, fica difícil
recusar.
Já dá para
antever o desânimo. Os governadores adorariam fugir, mas Dilma faz
questão de dar “um abraçaço” neles, como diria Caetano…
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