MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

quinta-feira, 2 de julho de 2015

Acre tem mais museus cadastrados do que cidades, diz instituto


Todos os espaços culturais de Xapuri estão fechados após cheia no AC.
Serra do Divisor, até abril deste ano, recebeu 255 visitas na área.

Quésia Melo e Tácita Muniz Do G1 AC
Museu da Borracha, em Rio Branco, está fechado há mais de 1 ano (Foto: Foto: Quésia Melo/G1)
O Acre tem 24 museus, número maior que o total de cidades do estado (22), segundo o Instituto Brasileiro de Museus (Ibram). Mas as instituições estão distribuídas em apenas seis municípios, sendo que só em Rio Branco há 15.
 
De acordo com levantamento feito pelo G1, considerando a taxa de habitantes por museu, o Acre é uma exceção entre os estados da região Norte, já que é o único que tem o índice mais baixo que a média nacional – um museu para cada 33,4 mil pessoas.


O G1 confirmou, junto ao Departamento de Patrimônio Histórico e Cultural do Acre, a desativação de ao menos sete locais apontados na lista – alguns por tempo indeterminado, outros por questões de revitalização, mas sem prazo para reabertura.
A presidente da Fundação de Cultura Elias Mansour (FEM), Karla Martins, diz que a manutenção dos locais é uma forma de deixar viva a história do estado.
“Os espaços de memória contam um período da história do Acre. Eles são importantes porque resgatam a identidade, pois neles estão contidos registros de conteúdo e memória, mas também as exposições que tendem a ser espaço de reflexão. Nós entendemos que conceito de memória não é mais aquilo que passou, mas aquilo que está vivo e resgata sua identidade como comunidade em geral”, enfatiza.
Espaços fechados após cheia
Os quatro museus cadastrados na cidade de Xapuri, a 188 quilômetros de Rio Branco, estão fechados desde a cheia que atingiu a cidade em fevereiro deste ano. As águas chegaram a mais de 18 metros e afetaram os patrimônios do município.
Os locais que preservam a história do seringueiro Chico Mendes tiveram que ser temporariamente desativados para revitalização. O Museu de Xapuri não sofreu danos com a cheia, mas está sendo usado para guardar o acervo dos outros espaços.
Casa Povos da Floresta, em Rio Branco (Foto: Quésia Melo/G1)Casa Povos da Floresta, em Rio Branco, preserva a cultura indígena (Foto: Quésia Melo/G1)
“No município de Xapuri, onde temos um grande número de visitas, a Casa Chico Mendes e a Fundação Chico Mendes estão fechadas a pedido do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que já tinha um projeto de revitalização para a casa, mesmo antes de ser atingida pela alagação. Então, estamos aguardando o processo licitatório para que sejam reabertos de vez”, explica Karla.
A presidente diz ainda que a FEM pretender trazer os objetos da Casa de Chico Mendes para dois locais que ficam ao lado da fundação, que pertencem ao Estado, o que deve desocupar o Museu de Xapuri.
Seringueiros e indígenas
Na capital acreana, onde se concentra a maior parte dos museus, segundo o levantamento, o famoso Museu da Borracha, no Centro de Rio Branco, permanece fechado há mais de um ano por problemas na parte elétrica do local. O espaço mantém viva a luta dos seringueiros durante o Ciclo da Borracha no Acre. Segundo a FEM, não há prazo para a reativação do local.
Mantido para preservar a cultura indígena do estado, a Casa dos Povos Indígenas, registra atualmente 15 visitas diárias. Sobre as visitas, Karla explica que são sazonais, mais intensas em períodos folclóricos para que os alunos tenham acesso aos contos das florestas.
“Existe um projeto que vamos desenvolver em breve, que é justamente para o município reforçar esse espaço de visitação e aumentar o fluxo”, garante.
Cachoeira do Ar-Condicionado na Serra do Divisor, na fronteira do Acre com o Peru (Foto: Divulgação/ICMbio)Cachoeira do Ar-Condicionado na Serra do Divisor, na fronteira do Acre com o Peru (Foto: Divulgação/ICMbio)
Parque Nacional da Serra do Divisor
Também entra na lista do Ibram o Parque Nacional da Serra do Divisor. Pelos critérios do instituito, que seguem normas internacionais, além dos espaços tradicionais de cultura, são considerados como museus as reservas ambientais, que promovem o turismo e a preservação de espécies da fauna e flora.
Até abril deste ano, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) havia registrado 255 visitas no local. A área de conservação tem mais de 843 mil hectares e fica localizada na fronteira do Brasil com o Peru. É um ponto turístico que atrai visitantes em decorrência das cachoeiras e da preservação do local – 98% da floresta está intacta, de acordo com o instituto.
Atualmente, é responsabilidade do ICMBio, que atua na fiscalização, pesquisa, monitoramento, manutenção de estruturas, apoio no turismo e educação ambiental. As visitas só podem ser feitas com autorização da autarquia.
Espaços na Ufac
No cadastro, existem quatro locais designados como museu na Universidade Federal do Acre (Ufac), que são, o Laboratório de Pesquisas Paleontológicas, Museu de Paleontologia,  Museu Universitário da Ufac e Parque Zoobotânico. Porém, um dos curadores explica que há sete anos quase todos os espaços foram unificados em um local no campus.
"Em 2008, houve a unificação. O local é aberto ao público em geral e para estudantes. Mas a maior parte das pessoas que frequentam são pesquisadores. No museu, temos coleções de história natural, pinacoteca. A parte histórica e a paleontologia são as mais consultadas", conta Gerson Albuquerque.
O curador diz ainda que o Parque Zoobotânico é o único que fica em um espaço diferente. "O Zobotânico está em um diferenciado, porque é um parque, mas tudo o que tem lá faz parte do Museu Universitário. São todos integrados."
Biblioteca da Floresta, em Rio Branco  (Foto: Quésia Melo/G1)Biblioteca da Floresta, em Rio Branco, guarda acervo sobre os seringueiros (Foto: Quésia Melo/G1)
Espaços para pesquisas
Os espaços culturais do estado são procurados, principalmente, por pesquisadores, segundo o Departamento de Patrimônio Histórico da FEM. É o caso da Casa de Memória Daniel Pereira de Mattos, criada pelo centro espírita Casa de Jesus Fonte de Luz, em Rio Branco. Ela guarda em seu acervo objetos, fotografias e grande bibliografia sobre o chá de ayahuasca (ou Daime, que tem propriedades alucinógenas), tanto no uso urbano, como também nas florestas.
De acordo com a administração, cerca de 20 pessoas visitam o espaço mensalmente. A casa é uma réplica da moradia do mestre Daniel Pereira de Mattos, que foi considerado um missionário de tratamentos espirituais usando o Daime.
Também muito procurada para pesquisas, a Biblioteca da Floresta, em Rio Branco, é rica em materiais sobre os seringueiros e a luta no período da exploração da borracha no estado.
Local de estudos
Muitos estudantes dizem que vão aos espaços com biblioteca para estudo e não para visitação. “Sempre venho aqui estudar, mas não visito os espaços que têm acervo histórico. Não vejo muitas visitas na Biblioteca da Floresta, a maioria vem só para estudar ou pesquisar”, diz o estudante, Mateus Santos, de 18 anos.
Quando está com alguém de outro estado, Kleilson Gadelha, de 16 anos, diz que faz questão de levar o visitante para conhecer o espaço, mas ele não se anima com os museus de Rio Branco. “Uma vez trouxe um amigo de outro estado para conhecer alguns espaços, mas normalmente não visito por questões culturais”, conta.
O pensamento também é compartilhado por Andreia Nunes, de 19 anos. “Eu nunca procurei esses espaços pelo lado histórico”, diz.
Museu de Cruzeiro do Sul também está fechado para reforma  (Foto: Jhonatas Fabrício/Rede Amazônica Acre )Museu de Cruzeiro do Sul também está fechado para reforma (Foto: Jhonatas Fabrício/Rede Amazônica Acre

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