MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

terça-feira, 2 de junho de 2015

Transposição do Rio São Francisco tira água dos sertanejos


Bispo de Barra diz ter sido traído pelo então presidente Lula
Mateus Parreiras
Estado de Minas
Em 2005, para defender o Rio São Francisco do projeto de transposição que não previa a recuperação da bacia, o bispo de Barra (BA), frei dom Luiz Cappio, arriscou a própria saúde e fez de seu corpo o drama do Velho Chico, ao encarar 11 dias de greve de fome. A má propaganda, que chamou a atenção até do papa Bento XVI, fez com que o então presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), entrasse em negociações pela revitalização.
Passados 10 anos, mais uma vez, as promessas não foram cumpridas. O Rio São Francisco definha a uma velocidade que surpreende os mais pessimistas. E a transposição, apresentada como panaceia para matar a sede no Nordeste, não apenas avança a passos trôpegos, como zomba dos sertanejos, ao lhes negar acesso até à pouca água que tinham antes do início da obra.
Foi o que descobriu o Estado de Minas, ao percorrer 3.500 quilômetros de seca, assoreamento, poluição e descaso, entre Minas, Bahia e Pernambuco, para uma série de reportagens.
RETRATO DO ABANDONO
Nesta viagem, o agricultor pernambucano Francisco Alves Leite, de 60 anos, surge como uma espécie de retrato das contradições do projeto, iniciado há sete anos e que está pelo menos quatro anos atrasado. Ele mora a poucos metros de um dos canais da transposição. As cabras que perambulam pela propriedade já comeram praticamente tudo o que restou do milho ressecado e das melancias murchas, que ele tinha plantado. Sem água, todo o cultivo de um hectare morreu no pé e os brotos viraram ração. “Ainda tenho água de chuva no açude por mais dois meses… Quando acabar, vai ser só Deus”, lamenta o agricultor.
Por suprema ironia, graças à obra de transposição do Rio São Francisco, a água do Córrego Mulungu, que era usada para irrigar as propriedades vizinhas, foi parar no Canal Norte do projeto, que corta a propriedade do agricultor no município de Salgueiro (PE). “Não temos motor ou bomba elétrica para tirar a água do canal, que tem mais de 20 metros de profundidade. Estamos perdendo nossa plantação e as criações pela seca, enquanto o canal está cheio de uma água que ninguém usa”, reclama.
Diante dessa realidade, a transposição é considerada pelo bispo Luiz Cappio o maior símbolo das promessas descumpridas ao rio com nome de santo. “Um projeto falido, que nunca se preocupou em trazer água para o povo, apenas para a irrigação do agronegócio e das elites produtoras. Um monumento à corrupção e ao desperdício de dinheiro e água”, dispara o religioso, que se diz traído por Lula.
(reportagem enviada pelo comentarista Wilson Baptista Jr.)

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