Justiça determinou restabelecimento do serviço na última terça-feira (23).
Interrupção pode inviabilizar adoção de medidas emergenciais, diz juiz.
Educandário Dom Bosco, na Ilha do Governador, teve os telefones cortados (Foto: Reprodução/TV Globo)
O alojamento socioeducativo Dom Bosco, na Ilha do Governador, Zona Norte do Rio, tem histórico de tortura — foram duas mortes em menos de um ano.
Há relatos de violência e problemas estruturais, como a superlotação,
mas um obstáculo ainda mais inusitado tem tirado o sono dos agentes
desde fevereiro: o serviço de telefonia fixo foi cortado por falta de
pagamento. Em caso de rebelião,
como a que aconteceu em março no Educandário Santo Expedito, os agentes
não teriam para quem pedir socorro — já que há bloqueadores de celular
no local.O caso foi parar na Justiça, após uma ação civil pública do Ministério Público do Rio do Janeiro. Na sentença favorável ao restabelecimento do serviço, o juiz Pedro Ivo Martins Caruso D'Ippolito, da Vara da Infância e da Juventude, manifestou a mesma preocupação dos funcionários do local.
A decisão judicial foi publicada na última terça-feira (23). Por ela, a Telemar é obrigada a restabelecer o serviço das três linhas telefônicas, sob multa diária de R$ 1 mil em caso de descumprimento. O Departamento Geral de Ações Socioeducativas informou na noite de sexta (26) que já foi providenciada a religação dos aparelhos na unidade Dom Bosco e que deverá acontecer nos próximos dias.
O texto diz ainda que o serviço estava totalmente interrompido, exceto quanto ao recebimento de ligações, e pede para que a dívida seja paga de outra forma.
'Chance de sair ressocializado é zero', diz agente
Também na terça (23), o G1 relatou as condições de outro abrigo. Segundo funcionários do Educandário Santo Expedito, em Bangu, Zona Oeste do Rio, o local é incapaz de cumprir seu papel: transformar os garotos apreendidos em "cidadãos solidários e profissionais competentes", como a missão estabelecida pelo Departamento Geral de Ações Socioeducaticas (Degase).
Dentro do Complexo Penitenciário de Gericinó, onde criminosos cumprem penas em presídios conhecidos como Bangu I e Bangu II, o Santo Expedito foi apelidado de Bangu 0.
"É assim que os rapazes chamam. É um presídio como qualquer um. O poder público dá uma conotação de colégio, mas não é a realidade. O funcionário é um carcereiro. A chance de um garoto sair ressocializado de lá é zero", calcula um funcionário que não quer ser identificado com medo de represálias.
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