sexta-feira, 1 de maio de 2015
Guerra civil no Paraná
Ora, se uma polícia, responsável pela segurança do Estado e pela garantia do direito de ir e vir, tem de agir daquela forma para se proteger, só podemos chegar à conclusão de que estamos numa guerra civil. Se a polícia tem que revidar para proteger sua vida, estamos em guerra civil. Se a polícia bateu porque estava com medo de morrer, estamos numa guerra civil.
O presidente da Comissão da Verdade do Rio de Janeiro e da Comissão Nacional de Direitos Humanos do Conselho Federal da OAB, Wadih Damous, avalia que a polícia militar do Paraná, por ordem do governador, "espancou de forma selvagem professores em greve na defesa de seus direitos que estão sendo esbulhados por um governo inconsequente, incompetente e violento". Damous classifica ainda como uma "brincadeira irresponsável" dizer que houve confronto, chamando os fatos violentos de "verdadeiro massacre contra educadores desarmados". O jurista cita o exemplo de 17 policiais que se recusaram a participar da "selvageria", acreditando que eles devem ter respeitados, naturalmente, "professores de seus filhos". Em uma declaração nas redes sociais, Damous chama o governador do estado de Beto "Hitler" e afirma que tal apelido não é a toa - "mostra que não reúne as mínimas condições de governar um estado tão importante", dispara.
O desembargador Siro Darlan também criticou o posicionamento do governo do Paraná em defender a PM nas ações violentas contra educadores. "O estado tem sido muito violento. As forças repressoras estão agindo de forma vicerada, violenta, autoritária, arbitrária", classificou o magistrado.
Darlan relembrou que nas manifestações de 2013, organizadas pela categoria dos educadores, jovens e estudantes que participaram foram apelidados de black blocs, para justificar atos violentos contra qualquer cidadão que se manifesta. "Como se não fosse garantido na Constituição o direito de protesto. Isso é a democracia", destaca o desembargador.
Jorge Luiz Souto Maior, professor de Direito na Universidade de São Paulo, destaca que o que aconteceu na cidade pode ficar conhecido como o "Massacre de Curitiba", em referência a outros ataques históricos contra a classe trabalhadora e a população. Para ele, a ação covarde contra os professores demonstra uma afronta à lógica democrática, sobretudo no que se refere a reivindicações de trabalhadores.
"Parece que todo mundo tem direito à democracia, menos os trabalhadores e os movimentos sociais, violentamente reprimidos, mesmo quando lutam pela não retirada de direitos. Sofrem uma violência com a retirada dos direitos, e depois são violentamente reprimidos quando tentam lutar contra isso. Isso é um caso muito grave", alerta.
A violência dos policiais é ainda incentivada e cobrada pelas instituições, acredita. Souto Maior critica a tentativa de justificar o ocorrido por parte do governador e de comandantes da polícia, mesmo após demonstrações claras do que ocorreu, com fotos e vídeos com professores gravemente feridos. "Nem assumiram o erro. Isso é muito grave. Demonstra convicção quanto à barbárie."
A Anistia Internacional se posicionou sobre o ocorrido, criticando a resposta do governo do Paraná à ação policial. “É fundamental que a violência de ontem seja investigada, de forma célere e independente, e que as autoridades do alto escalão também sejam responsabilizadas pelo que ocorreu. A polícia não age por conta própria e as falas das autoridades mostram que para o governo a ação policial foi adequada. Isso é um agressão à liberdade de expressão e ao direito à manifestação pacífica”, afirma Atila Roque, diretor executivo da Anistia Internacional Brasil.
As cenas chocantes tiveram grande repercussão na mídia internacional, que destacou a truculência da polícia.
Confira a repercussão:
>> The New York Times: At Least 150 Are Injured as Police Clash With Teachers
>> Clarín: Más de 200 heridos tras un violento choque entre profesores y la prefectura de Brasil
>> BBC: Violent clashes at Brazil teachers' protest in Curitiba
>> El País: Más de 200 heridos en una protesta de profesores en Brasil
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