Gustavo Lima/Câmara dos Deputados–18/3/2015
Câmara dos Deputados

Fundamental para a apertada vitória da presidente Dilma Rousseff na eleição de 2014, Minas Gerais virou as costas para o governo federal no início desse segundo mandato. Ao menos esse é o comportamento da bancada mineira na Câmara dos Deputados nos cinco primeiros meses do ano, quando a petista alcançou o pior índice de aprovação entre os deputados federais do Estado desde 2003, ano em que o partido assumiu a presidência.
 
Levantamento realizado pelo Hoje em Dia por meio do Basômetro (ferramenta que acompanha as votações no Congresso) revela que o “núcleo duro” do governo na bancada mineira despencou de 56%, no segundo mandato de Lula, para 17%, atualmente. Ou seja, entre 2007 e 2010, mais da metade dos deputados mineiros votou segundo o governo em mais de 90% dos projetos. Já agora, menos de um quinto.
 
“A Dilma, depois do (Fernando) Collor (presidente de 1990 a 1992), é a que mais teve dificuldades para manter a base unida. Tinha basicamente o mesmo perfil de Lula, mas o estilo de governar da Dilma acaba fazendo com que as coordenações dos partidos não funcionem. E, nesse segundo mandato, despencou”, analisa Carlos Ranulfo, professor do Departamento de Ciência Política da UFMG.
 
Isolamento
 
Entre os erros de Dilma, estão a tentativa de isolar o PMDB no início desse mandato e a composição do ministério, avalia Ranulfo. “Há uma tendência do Legislativo de ser governista, dada a dependência que tem de se relacionar com seu eleitorado através de verbas liberadas pelo Executivo. Em 2015, estão pesando dois fatores: a aprovação do orçamento impositivo e o desgaste de Dilma, o que leva a uma maior independência do Legislativo”, afirma o cientista político Malco Camargo.
 
Desde 2003, a bancada mineira sempre teve um grau de apoio ao governo acima da média nacional. No governo Dilma, o cenário mudou, embora a tendência seja a de toda a Câmara dos Deputados.
 
Atualmente nove deputados mineiros – dos quais seis petistas e nenhum peemedebista – integram o chamado “núcleo duro”. No segundo mandato de Lula, o número chegou a 32, sendo nove do PMDB. 
 
“Poderia se esperar, com a vitória de Fernando Pimentel, que a bancada mineira ficasse mais governista com o PT nas esferas nacional e estadual. Mas Dilma errou tanto que esse fenômeno não ocorreu”, avalia Ranulfo.
 
PSB tem mudança de postura mais acentuada desde 2003
 
A queda do governismo no plano federal foi um movimento geral, tanto da Câmara como um todo quanto da bancada mineira. Entretanto, a mudança de postura do PSB foi impressionante. Os deputados mineiros da sigla chegaram a votar de acordo com a União em 87% no primeiro mandato de Lula, índice que despencou para 44% nos cinco primeiros meses desse mandato de Dilma. 
 
“Tínhamos um partido de apoio ao governo na época do Lula e agora temos uma postura de independência. A tendência é cada vez mais fazermos oposição ao governo com essas medidas impopulares”, diz o presidente do PSB estadual, Julio Delgado, deputado que apresenta mudança mais radical desde 2003 – a taxa individual de governismo caiu de 82% para 41%.
 
Se comparada a postura da bancada mineira em relação aos correligionários de outros estados, PSB foi mais oposicionista, enquanto DEM e PSDB foram mais governistas. “A lógica das eleições dos parlamentares é estadual, não nacional. Os partidos levam em conta a competição local, o que chamamos de racionalidade política contextual”, explica o cientista político Malco Camargo.
 
Outro dado que chama a atenção é a postura de Weliton Prado (PT-MG). Enquanto os outros seis deputados petistas têm índice de governismo acima de 90%, Prado acompanhou o governo federal em 50% das votações. Prado está insatisfeito com o PT e não descarta mudar de sigla.
 
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