MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

sábado, 30 de agosto de 2014

Queda do consumo e do investimento coloca o país em recessão técnica


Janaína Oliveira e Raul Mariano - Hoje em Dia


Frederico Haikal/Hoje em Dia/Arquivo
indústria
Com a demanda enfraquecida, a indústria recuou 1,50% no segundo trimestre

Perdas na indústria, freio no consumo e, principalmente, tombo dos investimentos, o maior desde o primeiro trimestre de 2009, período em que o país vivia o pico da crise global iniciada em 2008, derrubaram o Produto Interno Bruto (PIB) – bens e serviços produzidos – brasileiro no segundo trimestre de 2014, na comparação com os três primeiros meses deste ano. Dados divulgados nessa sexta-feira (29) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a quase um mês das eleições presidenciais, indicam que o PIB caiu 0,6% no período, enquanto o crescimento de janeiro a março foi revisado para baixo, de 0,2% para -0,2%. Diante de dois resultados negativos consecutivos, muitos economistas já falam em recessão técnica, com consequências nocivas para o Brasil e para os brasileiros. 
 
Em relação ao segundo trimestre de 2013, a economia encolheu 0,9%. “É um quadro terrível, tanto do ponto de vista econômico como social. A recessão, ainda que técnica, com dois trimestres consecutivos de queda, leva, entre outros fatores, à redução da arrecadação do governo, com prejuízo para políticas sociais, e ao desemprego”, analisou o vice-presidente do Conselho Regional de Economia de Minas Gerais, Fabrício Augusto de Oliveira.
 
São vários os motivos para o encolhimento da soma dos bens e serviços produzidos no país. A indústria, por exemplo, recuou 1,5% no segundo trimestre de 2014, ante os três primeiros meses do ano. Na comparação com igual período de 2013, o recuo chega a 3,4%. Até o setor de serviços, que vinha sustentando a economia, apresentou queda de 0,5% em relação ao primeiro trimestre do ano. 
 
Mas o dado que mais chamou a atenção entre os analistas foi o baixíssimo nível de investimento, apontado pela taxa de Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), que são os investimentos em máquinas, equipamentos e construção civil. Nesse caso, a retração atingiu 5,3% frente ao primeiro trimestre e foi a segunda taxa negativa seguida. “Por falta de confiança na política econômica, o investimento está adormecido. Está tudo parado”, criticou Fabrício Oliveira. 
 
O economista e coordenador sindical do Sindicato das Indústrias da Construção Civil em Minas Gerais (Sinduscon-MG), Daniel Furletti, recorre a números de outros países para mostrar o quão baixo é o investimento no Brasil. A taxa, que era de 18,1% do PIB, caiu para 16,5% no país. Enquanto isso, segundo ele, na China, Índia e Colômbia a proporção chega a 47%, 34,7% e 24%, respectivamente.
 
“A construção civil responde por quase 50% dos investimentos e registrou a maior queda entre os setores. Infelizmente, isso vai afetar os empregos”, afirmou. O setor registrou queda de 2,9% no trimestre, seguido pelo recuo de 2,4% na indústria da transformação.
 
Para o professor de macroeconomia do Ibmec, Márcio Salvato, o pior de todo esse cenário é que o desmoronamento do investimento sinaliza que não só este ano será ruim. “Para 2014, o crescimento do PIB será de 1% ou menos. E com a capacidade produtiva baixa, a tendência é a de pibinho também para 2015”, avaliou.
 
Desafios para o futuro
 
A contração na economia do Brasil no segundo trimestre ressalta desafios importantes que o próximo governo do país enfrentará, após a eleição presidencial de outubro, afirmou a agência de classificação de riscos Fitch, em relatório. 
 
As perspectivas econômicas de médio prazo dependerão muito das medidas tomadas pela próxima administração para
restaurar a confiança, reduzir o custo de fazer negócios e facilitar uma transição mais rápida em direção ao crescimento
liderado pelo investimento, analisou a agência, em nota.
 
Segundo a Fitch, o Brasil está passando por uma “desaceleração prolongada”. “O crescimento médio em 2011 a 2013 foi de 2,1%, menos da metade da média de 4,5% no período de 2006 a 2010”, informou.
 
Falta de confiança na economia afeta 2015
 
Na indústria, que registrou recuo de 1,5% no segundo trimestre, a principal preocupação está relacionada aos baixos investimentos na capacidade produtiva. 
 
“Uma queda de 5,3% é um sinal claro de que as empresas têm baixo índice de confiança na economia. Se não há decisões de investimento, dificilmente teremos uma reversão nessa curva”, analisa o gerente de Economia da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais, Guilherme Veloso, referindo-se à Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), indicador que aponta o quanto as empresas investem em bens de capital, como maqui-nário, equipamentos e materiais de construção. As principais queixas são referentes à questão regulatória nas áreas de energia e transporte. “Precisamos ter um governo que dê indicativos de estabilidade e forte compromisso com fundamentos macroeconômi-cos. Mostrar uma postura clara em relação à taxa de juros e ao câmbio, para que o mercado perceba qual é a tendência”, opina Veloso. 
 
Na indústria, apenas o segmento extrativo mineral registrou incremento em relação ao trimestre anterior (3,2%). Já a indústria de transformação (-2,4%) e a construção Civil (-2,9%) tiveram queda em relação ao mesmo período. 
 
A agropecuária se manteve praticamente estável (0,2%) em relação ao primeiro trimestre, impulsionada, sobretudo, pela boa produtividade de produtos como a soja, que acabou por compensar as variações negativas do milho (-4,4%) e do café (-6,5%). 
 
O superintendente do Instituto Antônio Ernesto de Salvo (Inaes), braço de pesquisa da Federação de Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais(Faemg), Pierre Vilela, estima que, nos próximos dois trimestres, a contribuição da agropecuária para o PIB seja ainda menor. 
 
“Os números do Estado devem seguir os números nacionais e cair. A redução do volume de produção de café tem um impacto muito grande e estamos numa época de muita seca, o que prejudica a safra”, diz. “Com a chegada das chuvas, a situação pode melhorar em 2015”, acrescenta.
 
Modelo de crescimento baseado no consumo mostra esgotamento
 
O desempenho desastroso da indústria e o fraco consumo das famílias impactaram os resultados do setor de serviços, até então tido como um dos carros-chefes da economia. Na comparação entre o segundo e o primeiro trimestres deste ano, houve recuo de 0,50%.
 
Houve queda tanto no segmento atacadista quanto no varejista (-2,2%). O período de Copa do Mundo e a inflação próxima do teto da meta estão entre os responsáveis pelo resultado, segundo o economista da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Minas Gerais (Fecomércio), Juan Moreno. 
 
“O baixo consumo das famílias está ligado a esses fatores. Não há grandes expectativas de crescimento, já que o comércio sente os reflexos diretamente”, avalia.
 
Os impactos positivos vieram s de serviços de informação ( internet e televisão) e intermedia-ção financeira. 
 
No último caso, embora o crédito esteja em desaceleração, as instituições têm tido aumento de receita com outros serviços que implicam na cobrança de tarifas.
 
Para o vice-presidente do Conselho Regional de Economia de Minas gerais, Fabrício Augusto de Oliveira, apesar da variação positiva de 0,3% na despesa das famílias no segundo trimestre, está claro que o modelo da economia sustentada via consumo se esgotou. 
 
“A renda começou a cair, assim como o desemprego deve aumentar. Não há como reverter o quadro sem avançar nas reformas política e tributária”, disse.

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