Desde a
Segunda Guerra, a Argentina destruiu cinco símbolos monetários,
corroídos pela inflação de governos irresponsáveis. A culpa, portanto,
não é do juiz norte-americano Griesa e dos chamados "fundos abutres".
Abutre é o populismo, que inferniza a América Latina. Roberto
Cachanosky, no jornal O Globo:
O calote
não é inédito para a economia argentina. Desde a Segunda Guerra Mundial,
o país interrompeu pagamentos mais de 50% do tempo em quatro períodos
diferentes. Mas, ao mesmo tempo, desde que foi criado o banco central
(BCRA), em 1935, a Argentina destruiu cinco signos monetários. O peso
moeda nacional, o peso lei 18.188, o peso argentino, o austral e este
que está agonizando.
A
pergunta é: por que tantos calotes e destruições monetárias? A resposta é
muito simples: o gasto público não parou de crescer durante todo o
século XX e no XXI até agora, e por isso o aumento da pressão fiscal a
níveis de confisco é insuficiente para financiá-lo. Dito de outra
maneira, o populismo imperante na Argentina há décadas fez disparar o
gasto público a tal ponto que o déficit fiscal requereu o endividamento
público externo (por isso a dívida pública e os frequentes calotes) para
financiar o desequilíbrio das contas públicas.
E por que
a dívida em moeda estrangeira? Porque as diferentes moedas que tivemos
nunca o foram no sentido estrito da palavra, já que não foram reserva de
valor. A inflação as assemelha a barras de gelo que se derretem. Mas, o
mais importante, os ataques persistentes à propriedade privada,
fundamentalmente via sistema impositivo, fizeram com que a poupança dos
argentinos fugisse para o exterior em busca de segurança jurídica, razão
pela qual o mercado interno de capitais sempre foi muito reduzido.
Há pouca
oferta de poupança interna porque os que poupam preferem fazê-lo no
exterior, em busca de segurança jurídica. Recordemos que a poupança é a
contrapartida do crédito: sem aquela, que é a renda não consumida, não
existe crédito. De forma que um país como a Argentina, submetida a
décadas de populismo, gerou escassa riqueza, isto é, renda. Como esta é
reduzida, a poupança também, e boa parte foge para o exterior.
Portanto,
a oferta de poupança interna é tão reduzida que, se o Estado entrar no
mercado para tomar créditos para financiar o gasto público, deslocará
rapidamente o setor privado, elevará os juros e vai gerar recessão. Um
exemplo simples pode nos dar ideia de quão diminuto é o mercado de
capitais interno. Muito se fala das reservas de gás não convencional de
Vaca Morta. O tempo dirá se são tão importantes como se diz ou se é
outra fantasia que inventamos nós, os argentinos.
O certo é
que, para além do verdadeiro potencial da jazida, ninguém pensa que os
investimentos necessários para explorá-la podem ser feitos com a
poupança interna. Todos pensam em investidores de fora do país, com
acesso fácil ao mercado externo de capitais. Bem, se a poupança interna
não é suficiente para financiar os investimentos em Vaca Morta, muito
menos para financiar o gigantesco déficit fiscal em que incorremos em
cada uma das festas populistas que elevam o gasto público a níveis
exorbitantes.
Não é por
casualidade, então, que os argentinos vivemos destruindo nossos signos
monetários e dando calote. É o alto nível de gasto público que requer
financiamento extra, emissão monetária e endividamento externo, até
chegar a um ponto em que a inflação dispara, destruindo por completo a
moeda e tornando a dívida impagável.
Nosso
problema não é o juiz Thomas Griesa, nem a cláusula Rufo, nem o stay
(liminar) nem os holdouts (os que não aceitaram os termos da
renegociação). Nosso problema é o gasto público, que requer níveis de
financiamento que, chegando a determinado ponto, nos levam ao calote e à
inflação, megainflação e hiperinflação, porque nessa matéria também
tivemos de tudo.
Obviamente,
o gasto cresce porque boa parte da liderança política nos vendeu que
ela tem o monopólio da bondade e solidariedade, e assim deve elevar o
gasto para redistribuir, fazer planos que chamam de sociais e contratar
legiões de burocratas que nada fazem de produtivo. Mas se dedicam a
entorpecer os que produzem. Entre os funcionários públicos nacionais,
estaduais e municipais e os que vivem dos chamados planos sociais são
cada vez mais os que consomem sem produzir e cada vez menos os que
produzem para sustentar o aparato estatal.
Quem leu
“Rebelión de Atlas”, de Ayn Rand, pode chegar a pensar se o livro não
foi escrito para a Argentina atual. Porque, como ocorre com ele,
finalmente as pessoas produtivas se cansam de ser exploradas por
burocratas e param de produzir ou buscam outros países para o fazer.
Nosso
problema é que temos um Estado que não só gasta fortunas de forma
ineficiente, mas também se encarrega de complicar a vida dos que
produzem e pagam impostos. Com isto, o gasto público termina sendo não
financiável e, de tempos em tempos, fazemos alguma labareda
inflacionária para baixá-lo em termos reais e/ou caloteamos a dívida. Na
realidade, nos encanta fazer uma combinação de ambas.
Já
estamos em níveis brutais de carga tributária. Não há poupança interna
que possa financiar este nível de gasto. Cada vez se torna mais difícil
cobrar do povo o imposto inflacionário e não temos acesso ao mercado de
crédito externo. Tudo isto quer dizer que, com Griesa ou sem ele, com ou
sem Rufo, o nível do gasto público chegou a um ponto que já não se pode
financiar e que as atuais regras do jogo são insustentáveis.
BLOG ORLANDO TAMBOSI

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