Rogério Mendelski .
O Paraguai deu uma banana das grandes para o Mercosul e hoje é integrante da Aliança do Pacífico, um novo bloco econômico formado pelo Chile, Peru, Colômbia e México e que já controla quase 50% do comércio exterior da América Latina, movimentando em apenas um ano de existência 556 bilhões de dólares em exportações e 551 bilhões de dólares em importações.
O ingresso do Paraguai na AP não foi fácil por que o Brasil tentou prejudicá-lo, não satisfeito com a suspensão daquele país do Mercosul, depois que Fernando Lugo foi cassado pelo Congresso paraguaio. Diplomatas do Paraguai e da Colômbia informaram ao diário ABC Color, de Assunção, que o Brasil quis impedir a entrada dos nossos vizinhos alegando as “cláusulas democráticas” do Mercosul como se este bloco tivesse alguma influência sobe a AP.
As tais “cláusulas democráticas” foram motivo de discretas chacotas entre a diplomacia dos países que saudaram o Paraguai pela decisão tomada. “Os membros da Aliança do Pacífico estão muito contentes e agradecidos pela disposição do Paraguai em fazer parte desse foro”, disse o chanceler mexicano José Antonio Meade.
Mas o que é mesmo esse bloco econômico que com um ano de funcionamento tem 210 milhões de habitantes e representa um terço do PIB da América Latina e se coloca como a oitava economia do planeta? A resposta é bem simples: Chile, Peru, Colômbia e México – e agora o Paraguai – se uniram em torno de objetivos democráticos e capitalistas na definição do presidente chileno Sebastián Piñera: “O compromisso da Aliança é o de compartilhar valores comuns como a democracia, o respeito aos direitos humanos, a liberdade econômica privada, o direito à propriedade produtiva, intelectual e empresarial, assim como a economia de mercado e a liberdade de expressão”.
Pensando bem, são valores ausentes em alguns paises do Mercosul e, por isso mesmo, o Paraguai não reclamou de sua saída do bloco que ajudou a fundar em 1991. E não quer voltar por que já disse que não senta na mesma mesa onde estiver a Venezuela. Este é o velho Paraguai de guerra cujo povo sabe muito bem o que é ditadura, democracia e farsas como a que Fernando Lugo tentou implantar no país.
Em 2005, na Cúpula das Américas, em Mar del Plata (Argentina) os países que hoje integram a AP tentaram estabelecer tratados de livre comercio entre os paises da América Latina, mas Hugo Chavez influenciou os membros do Mercosul e apoiado por Nestor Kirchner a idéia não prosperou. Era o momento de alguns paises democráticos como o Chile, Colômbia e México começarem a pensar num novo bloco econômico.
Os países integrantes da AP já eliminaram as tarifas de importação e exportação em 90 por cento de seus produtos para o incremento do livre comércio entre si. Quando negociam em bloco olham para a Ásia e buscam atrair investimentos que irão beneficia-los também em bloco.
O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) saudou a posição do Paraguai. Diz ele: “Quando ocorreu o impeachment de Fernando Lugo e o Mercosul decidiu pelo seu afastamento, abrindo a porta para o ingresso da Venezuela, imaginou-se que o Paraguai teria algumas alternativas. Hoje, o Paraguai está na Aliança para o Pacífico e agora pode dar uma banana para aqueles que o expulsaram do Mercosul”.
O que para Hugo Chavez e Nestor Kirchner tinha cheiro de enxofre – acordos com os EUA – para a Aliança do Pacífico é puro perfume de progresso e bons negócios. Quem estabelece acordos comerciais com os EUA precisa cumprir altos níveis de exigência e complexidade, mas depois de estabelecidos nada mais muda. Ao final das negociações, o país se torna apto para firmar qualquer acordo comercial no mundo. A opinião é do diplomata Rubens Ricupero, ex-embaixador do Brasil nos EUA e ex-secretário-geral da Conferência nas Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento.
Enquanto o Mercosul patina e não sai do lugar desde 1991, a Aliança do Pacífico atrai investimentos e negocia com todos os países oferecendo vantagens aduaneiras e taxas atraentes. No ano passado o Chile cresceu 5,5 % e recebeu 30 bilhões de dólares em investimentos externos. O México firmou 13 acordos comerciais na mesma linha, o Peru 12 e a Colômbia 11. No Brasil, caminhões com gêneros perecíveis ficam dias parados em Uruguaiana esperando pela boa vontade da burocracia argentina. E vice-versa.
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