Material estava em posse de ex-chefe do DOI-Codi morto em Porto Alegre.
Papéis comprovam que ex-deputado foi preso durante o regime militar.
Filha de Rubens Paiva, Beatriz recebeu cópia dosdocumentos que comprovam prisão do ex-deputado
no DOI-Codi, em 1971 (Foto: Felipe Truda/G1)
A filha do ex-deputado, Maria Beatriz Paiva Keller, participou da solenidade e também teve acesso aos registros. O deputado Rubens Paiva foi preso em 20 de janeiro de 1971 e é um dos 183 desaparecidos políticos com o paradeiro a ser investigado pela Comissão Nacional da Verdade, criada pelo governo federal para examinar e esclarecer violações de direitos humanos praticadas durante o regime que vigorou entre 1964 e 1985.
Que fique claro que este é apenas um dos casos"
Maria Beatriz Keller, filha de Rubens Paiva
O material foi encontrado pelo delegado Luís Fernando Martins Oliveira durante as investigações sobre a morte do coronel reformado do Exército Julio Miguel Molinas Dias, assassinado em Porto Alegre no dia 1º de novembro, aos 78 anos, quando chegava em casa. Chefe do DOI-Codi nos anos 1980, cerca de uma década após o desaparecimento de Paiva, ele teria recolhido os arquivos antes de se aposentar.
“Em outros tempos, talvez os documentos fossem levados a outras mãos, mas a Polícia Civil teve um comportamento exemplar”, discursou Tarso.
“O mais importante é o compromisso de que nunca mais brasileiros e brasileiras experimentem e admitam que a solução para nossas divergências esteja na violência. Isso não é fácil, precisamos internalizar isto” declarou Fonteles após receber o pacote com os arquivos das mãos do governador.
Os papéis agora em posse da Comissão da Verdade têm caráter histórico. Segundo autoridades, trata-se da primeira prova de que o deputado cassado em 1964 esteve preso no DOI-Codi, onde possivelmente foi torturado e morto há quase quatro décadas. Até então, havia apenas relatos verbais. O Exército jamais admitiu que teve o ex-deputado federal sob custódia.
“As pessoas narraram as torturas que sofriam, mas o outro lado ainda não está contado e a nação precisa saber o que aconteceu”, disse Tarso.
Ofício enumera objetos e pertences de Rubens Paiva no momento da prisão (Foto: Felipe Truda/G1)“Ele foi buscado em casa e levado no próprio carro até o DOI-Codi. Há um intervalo de 15 dias entre a prisão e a retirada do carro”, disse o delegado.
Filha de Rubens Paiva, Maria Beatriz Paiva Keller veio de Berna, na Suíça, para representar a família na solenidade de entrega dos documentos. Ela recebeu uma cópia dos papéis que comprovam a prisão do seu pai. Emocionada, lembrou do dia em que ele foi levado de casa pelos agentes da repressão.
“Era uma manhã de férias de verão em janeiro de 1971, quando os militares invadiram a nossa casa no Rio de Janeiro, um casarão da Avenida Delfim Moreira, número 80, na praia do Leblon, e levaram o meu pai. Eu tinha apenas 10 anos, mas lembro muito bem dele. Eu recém voltara da praia com meus irmãos e descansava no andar de cima do sobrado, quando ouvimos os militares entrar. Eu sabia que algo grave estava acontecendo. Minha mãe pediu que eles escondessem as armas porque havia crianças em casa”, recorda.
Anotação datada de 4 de fevereiro de 1971 informaque oficial "retirou todos os documentos pertencente
ao carro" de Rubens Paiva (Foto: Felipe Truda/G1)
“Reconheço o cartão de crédito, a caneta, o caderno de anotações e os certificados de piloto e engenheiro”, destacou Beatriz.
Os documentos vieram à tona após reportagem publicada pelo jornal Zero Hora. Além da documentação sobre o caso Rubens Paiva, também há registros sobre outro episódio até hoje nebuloso da ditadura militar: o atentado a bombas ao Riocentro, em 30 de abril de 1981. Redigidos de próprio punho pelo coronel Dias, as anotações descrevem como os militares se articularam para encobrir a participação de agentes do DOI-Codi no atentado e atribuí-lo a guerrilheiros de esquerda.
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