Giovana Girardi, enviada especial a Doha | Agência Estado
Após quatro dias de negociações na Conferência do Clima (COP) da
Organização das Nações Unidas (ONU), em Doha (Catar), começam a
esmorecer os ânimos de que seria possível alcançar uma ambição maior de
metas de redução das emissões. Até mesmo a existência do segundo período
de compromisso do Protocolo de Kyoto, decisão que foi vista como um
grande avanço da COP do ano passado, está sendo ameaçada.Os dois maiores símbolos do impasse são a Polônia e a Rússia, que, não à toa, receberam na quarta-feira o prêmio Fóssil do Dia da organização de ONGs Climate Action Network (CAN) por "fazerem seu melhor para bloquear as negociações".
Os dois países estão jogando com o fato de que, no primeiro período de Kyoto, que expira no final do ano, eles reduziram muito mais emissões do que haviam se comprometido a fazer. E agora querem carregar esse "bônus" - conhecido como "hot air" - no segundo período, seja para reduzir a nova meta seja para poder negociar com quem está devendo.
Diplomatas de outros países, em especial os em desenvolvimento, mas também de nações europeias e ambientalistas, alertam que o "hot air" não representa uma redução efetiva e pode acabar pondo por água abaixo os planos de conter a emissão. "Só para se ter uma ideia, o que a Rússia tem de hot air equivale às emissões de um ano dos Estados Unidos", comenta Carlos Rittl, coordenador do Programa de Mudanças Climáticas e Energia da WWF-Brasil.
O problema é que a redução a mais que ocorreu em vários países do leste europeu não se deu exatamente por mérito de fazerem mudanças na economia, mas por uma questão de adaptação pós queda do Muro de Berlim. As metas de reduções de emissões do Protocolo de Kyoto se referem a quanto era emitido em 1990, época em que o modelo comunista estava desmoronando e havia muito ineficiência energética. Com um mínimo de eficiência, foi possível resolver o problema, mas hoje as emissões desses países tendem a voltar a crescer.
A interpretação geral é de que, se Kyoto morrer, automaticamente leva junto as negociações do novo acordo climático para 2015, que vigoraria a partir de 2020. É que uma coisa acabou ficando condicionada à outra no ano passado em Durban. A União Europeia concordou em continuar reduzindo emissões nos próximos anos diante da promessa de haver um acordo para todos pós-2020, e países desenvolvidos, em especial Índia e China, toparam entrar nesse tratado futuro porque a UE faria sua parte agora. Os Estados Unidos, por sua vez, enfim aceitaram entrar em um protocolo para reduzir emissões na próxima década porque China e Índia o fariam também.
A ironia é que a Polônia solicitou que a COP do ano que vem seja realizada em Varsóvia. O que lança dúvidas sobre os planos deles para influenciar as negociações na presidência da conferência em 2013. A notícia causou forte reação em Doha e já começou um movimento para tentar boicotar esse pedido, a não ser que o país pare de bloquear a evolução de Kyoto. Toda a decisão deve acabar ficando para a semana que vem, quando chegam os ministros para o segmento de alto nível. A briga, esperam alguns negociadores, deve seguir até o último minuto.
A repórter viaja a convite da Convenção do Clima (UNFCCC).
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