MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Aos 51 anos, dona de casa vai fazer Enem e quer cursar odontologia


Marlí decidiu retomar estudos depois de perder marido e pai em acidente.
Ela conta que prova é esperança de poder cursar faculdade pública.

Ruan Melo e Rafaela Ribeiro Do G1 BA

Enem (Foto: Ruan Melo/G1)Marli Kunts estuda para fazer prova do Enem pela primeira vez (Foto: Ruan Melo/G1)
O pai e o marido da baiana Marlí Kunst, de 51 anos, morreram em um acidente de carro em janeiro de 2008. Segundo ela, a perda dos familiares fez com que sua vida mudasse completamente. Marlí, que nunca trabalhou e depende da pensão deixada pelo pai para sustentar a família, vai fazer no sábado (3) e no domingo (4) as provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em Salvador como primeiro passo para conseguir voltar ao mercado de trabalho.
“A partir do momento que fiquei viúva, nossa vida mudou muito. Meu marido não gostava que eu trabalhasse fora. Então, eu não tenho experiência de trabalho. Como eu não sabia administrar a loja do meu marido, eu resolvi fechar. O único jeito de eu voltar ao mercado de trabalho é através do estudo”, conta Marli, que pretende usar o Enem para ser aprovada no curso de Odontologia no  vestibular da Universidade Federal da Bahia (Ufba).
“Este é o segundo vestibular que eu vou fazer na vida. Em 2010, eu passei em uma faculdade particular, mas não deu para continuar pagando. Vou tentar a Federal [Ufba] porque não tenho condições de pagar uma faculdade particular. Para mim, a única porta para o trabalho é o estudo”, diz Marlí, que mora no bairro da Pituba, em Salvador, com a mãe, os dois filhos, além de um irmão e um sobrinho.
"Fica muito difícil uma pessoa chegar aos 50 anos e não ter experiência de trabalho. Eu estou visando não somente um trabalho, mas uma realização também", diz a mulher, que divide o tempo em casa com a família e com os estudos.
Marlí faz um curso pré-vestibular no período da tarde. “Eu assisto às aulas, chegou em casa umas 19h, descanso, e volto a estudar às 22h. A partir daí, fico estudando durante a madrugada e durmo no período da manhã”, revela.
Segundo Marlí, a ideia de tentar cursar odontologia foi o que causou mais espanto nas pessoas. “É a única coisa que às vezes as pessoas falam. Elas perguntam: 'Ah, por que odontologia se você podia fazer direito, que tem um leque maior de opções? ’ Eu sempre gostei da área de saúde e odontologia foi a coisa que mais me chamou atenção”, conta.
Marlí com os filhos Friedrich e Mayd Kunst (Foto: Isabela Veiga/ Arquivo Pessoal)Marlí com os filhos Friedrich e Mayd Kunst
(Foto: Isabela Veiga/ Arquivo Pessoal)
O filho de Marlí, Friedrich Kunst, cursa Ciências da Computação na Ufba e afirma que toda a família oferece o suporte necessário para que a mãe continue alimentando o sonho. “Acho que o caminho é esse. Eu estou muito contente com o que ela decidiu. O mais importante é como ela se sentir. Se pra ela estiver bem, para nós também vai estar”, diz Friedrich.
É o que também acredita a mãe da baiana, Marlinda Porto. “Eu boto toda a minha confiança nela, mesmo com a idade que ela tem para estudar. Não existe idade para começar a estudar”, diz.
Marlí garante que está muito confiante na aprovação do vestibular e que irá continuar estimulando os filhos a seguirem com os estudos. “Eu estou muito otimista. Existem questões muito difíceis, mas para nível de Enem, eu não tenho muito receio. Eu sempre digo aos meus filhos que sem estudo nós não chegamos a lugar nenhum, principalmente agora que as pessoas têm mais acesso à faculdade. Agora você tem que se sobressair frente aos outros”.
Enem (Foto: Ruan Melo/G1)Marlí conta com apoio da família (Foto: Ruan Melo/G1)

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