Ex-governadora está a milhares de pontos de Donald Trump, mas é a única pré-candidata do Partido Republicano a bater o presidente. Vilma Gryzinski:
Os
americanos querem alternativas e isso aparece nas pesquisas. Nikki
Haley, que foi governadora da Carolina do Sul e embaixadora na ONU
durante o governo Trump (tendo saído por motivos não revelados até hoje)
virou uma surpresa: é a única aspirante à Casa Branca que bate Joe
Biden fora da margem de erro, por 49% a 43%.
Isso
a coloca num patamar acima das visões depreciativas — “Está concorrendo
a vice-presidente de Trump” —, embora tão distante que pareça apenas
uma mosca tentando posar no bolo do ex-presidente.
Pelas
pesquisas, ela tem apenas 6,5% das preferências entre os eleitores
republicanos que votarão nas primárias. Donald Trump arrasa com 53%, um
número que aumenta cada vez que vira réu num novo processo na justiça.
Halley,
de 51 anos, critica a gerontocracia atual e defende um teste de aptidão
para candidatos já bem entrados em anos. Tipo Joe Biden. Aos 80 anos,
ele perturba até os mais fiéis simpatizantes com atitudes que parecem
indicar deterioração neurológica. A última, de uma longa lista, foi
condecorar num palco um militar veterano e bater em retirada, antes que a
cerimônia terminasse. Totalmente perdido.
Nada
menos que 67% dos eleitores democratas não querem que Biden se reeleja;
56% estão “seriamente preocupados” com seu “nível atual de competência
física e mental”.
O
problema é que, como presidente, ele tem toda a máquina do partido a
seu favor e nenhum outro pré-candidato democrata realmente brilhante no
firmamento. Muitos democratas também se inclinam por Biden porque acham
que só ele tem condições de derrotar Trump.
Uma pesquisa do Wall Street Journal deu os dois veteranos exatamente empatados, com 46% dos votos cada um.
É
aí que aparece o apoio a uma candidata como Nikki Haley: mulher, com
aparência jovem e ideias equilibradas, embora sem arroubos de brilho ou
carisma. Os trumpistas a criticam principalmente pelo apoio à política
de armar e sustentar a resistência ucraniana — coincidindo nisso com a
esquerda brasileira.
Nikki
é filha de imigrantes indianos que seguem a religião sikh, o que
acrescenta um apelo extra: ninguém repararia que ela pertence a uma
minoria étnica, “marrom”, na horrenda descrição dos americanos, e ela
não faz disso uma bandeira de primeira linha.
Mulher
de minoria étnica, bem sucedida pelos motivos tradicionais — estudo e
mais estudo — e de posições conservadoras, sem arroubos exagerados que
viraram uma marca da era trumpista (“As mulheres não podem ser
criminalizadas” na questão do aborto) , é uma coisa que perturba as
fileiras mais à esquerda. Já foi chamada de “serenamente hipócrita” pelo
New York Times.
Enfrentar,
ao mesmo tempo, a esquerda e a direita trumpista requer couro grosso.
Michael Wolff, autor do primeiro livro que deveria enterrar Trump para
todo o sempre — muitos outros se sucederam, sem sucesso até agora —,
mais do que insinuou que Haley tinha tido um caso com o então
presidente. Ela respondeu com classe, abarcando todo o espectro
enfrentado por mulheres que vão para a linha de frente da política: “Eu
gosto disso? Não. É certo? Não. Vai me impedir de avançar? De jeito
nenhum”.
Todos
os candidatos que não se chamam Donald Trump ou Joe Biden estão
apostando, em silêncio, no destino. Trump pode ser condenado e Biden
pode não aguentar o tranco, incluindo o próximo processo contra seu
filho, Hunter, e daí o jogo vira. Os pequenos crescem, a competição
entra num campo cheio de incógnitas e nomes como o de Nikki Haley podem
sair do nicho.
Ou já estão saindo.
Postado há 3 weeks ago por Orlando Tambosi
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