MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

sábado, 1 de abril de 2023

Lula nem completou 100 dias de mandato, mas o governo envelhece rapidamente

 



Lula mostra resistência a arcabouço fiscal em lançamento do Mais Médicos

Não custa nada lembrar que Lula quase perdeu a eleição

Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense

Entre os aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que não são de esquerda — muitos dos quais o apoiaram já no primeiro turno —, cresce a preocupação com os riscos de ingovernabilidade que está correndo, diante dos desafios de seu novo governo. A sombra que persegue Lula foi para bem longe. É  a ex-presidente Dilma Rousseff, que assumirá o comando do banco dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), com salário equivalente a R$ 257 mil.

Entretanto, a comparação do atual governo com o de Dilma, que não é nada alvissareira, está se tornando cada vez mais frequente.

ENVELHECIMENTO PRECOCE – Lula ainda nem completou 100 dias de mandato, mas seu governo começa a envelhecer rapidamente. Antigos conflitos e problemas emergiram nesse período, como as invasões de terra pelo MST, o risco de aparelhamento das estatais e fundos de pensão pelo PT e a eterna disputa entre os moderados e a esquerda petistas pela política econômica do governo.

Para complicar ainda mais, já pululam no governo os possíveis candidatos à sucessão de Lula, o que é uma insanidade, em se tratando de uma administração que precisa primeiro dar certo.

Alguém precisa refrescar a memória dos petistas de que Lula quase perdeu a eleição para Jair Bolsonaro: a vitória no segundo turno foi por 50,9% a 49,1% dos votos válidos.

POR UM TRIZ – Lula ganhou a eleição graças ao voto das mulheres e dos mais pobres, mas a diferença decisiva veio dos votos de Simone Tebet, que se empenhou na campanha de Lula no segundo turno, e Ciro Gomes, por gravidade, via PDT. Bolsonaro obteve mais votos da chamada “terceira via” do que Lula, o que é um sinal de que esses segmentos sociais e políticos de centro podem se deslocar facilmente para a oposição ao governo.

Além disso, não houve a trégua tradicional dos adversários. Os bolsonaristas tentaram dar um golpe de Estado em 8 de janeiro e foram derrotados; apesar de isolados, nunca perderam a capacidade de mobilização e influência.

Embora Bolsonaro também tenha sido derrotado, o PL elegeu a maior bancada da Câmara e estrutura o bloco de oposição no Senado. Forma com o PP, cujo presidente é o ex-ministro da Casa Civil Ciro Nogueira (PI), a aliança estratégica do Centrão no Congresso. Vêm daí as ambiguidades do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que se reelegeu com apoio de um blocão que vai do PL ao PT.

OPOSIÇÃO AGUERRIDA – No Senado, a fronteira entre e o governo e a oposição foi traçada com a reeleição do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) para a Presidência da Casa. Porém, seu adversário, senador Rogério Marinho (PL-RN), lidera uma oposição ideológica e aguerrida.

Na Câmara, a situação é completamente diferente, existe uma “terra de ninguém” entre governo e oposição, formada pelas “bancadas independentes”, que Arthur Lira controla por meio de seus líderes. É nessa “terra de ninguém” que a governabilidade de Lula se torna frágil.

A crise entre o Senado e a Câmara em torno da tramitação das medidas provisórias, cujo rito está previsto na Constituição, conforme deixou claro o senador Rodrigo Pacheco, reflete a ambição de Arthur Lira, que pretende alargar seus poderes de presidente da Câmara e ser o fiador da governabilidade de Lula no Congresso. As medidas provisórias, durante a pandemia, tramitaram diretamente de um plenário para outro, sem passar pela comissão mista que deveria apreciá-las.

MEDIAÇÃO ONEROSA – O presidente da Câmara não aceitava instalar a comissão mista e responsabilizava Pacheco e o Palácio do Planalto pela paralisação da tramitação das medidas provisórias. Quando for instalada, senadores e deputados que a integrarem adquirirão capacidade própria de negociação com o governo, o que enfraqueceria Lira.

Houve duas conversas recentes de Lira com Lula, uma das quais sozinho. Nelas, se colocou como mediador das relações do presidente da República com a Câmara. Enfraqueceu, a um só tempo, o líder do governo, José Guimarães (PT); o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha; e o ministro da Casa Civil, Rui Costa, que está sendo fritado por gregos e baianos. Homem forte do governo, o ex-governador da Bahia deu um chá de cadeira de 45 minutos no ministro Haddad.

Esse tipo de relação entre o presidente da República e o presidente da Câmara tem precedentes históricos. Foi assim entre o presidente José Sarney e o deputado Ulysses Guimarães (no antigo PMDB); de igual maneira, entre Fernando Henrique Cardoso e o deputado Luiz Eduardo Magalhães (no antigo PFL).

Havia sintonia e, ao mesmo, tensões entre ambos, mas nada se compara ao tipo de relação de tutela que Lira pretende impor a Lula.

MURO DAS LAMENTAÇÕES – Ao mesmo tempo, o presidente da Câmara também pretende desempenhar o papel de porta-voz dos grandes grupos econômicos do país no debate econômico.

Assim, a residência oficial de Lira se tornou uma espécie de “muro das lamentações” (com todo respeito) para os insatisfeitos com o governo. Lula ataca os juros, o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, e executivos dos bancos de investimentos correm para Lira.

O MST invade terras produtivas, a bancada do agronegócio lhe pede socorro. Enquanto o governo Lula não der uma resposta ao seu maior problema, a recuperação da economia, a ambição do presidente da Câmara encontrará terreno fértil.

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