Mulheres representam uma a cada quatro pessoas diagnosticadas com TEA. Mas estudos apontam que elas conseguem mascarar melhor as características.
Iracema Barreto Sogari*
O Dia Mundial de Conscientização sobre o Autismo, 2 de abril, ajuda a entender estas e outras questões.
Pesquisas
anteriores ao censo 2022 revelam que o Brasil tem mais de dois milhões
de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), sendo 1% da
população mundial.
Há
duas hipóteses mais citadas para explicar esta maior incidência entre
os homens. Uma delas é a de que realmente o transtorno atinge mais
homens, talvez por algum fator genético ainda não descoberto. Uma outra
hipótese, dita como mais provável, é a de que o transtorno atinge as
mulheres de um modo diferente e, por isso, o diagnóstico não acontece em
boa parte dos casos.
O
Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) reúne desordens do
desenvolvimento neurológico. Segundo o Manual de Diagnóstico e
Estatístico de Transtornos Mentais DSM-5 (referência mundial de
critérios para diagnósticos), pessoas dentro do espectro podem
apresentar déficit na comunicação social ou interação social (como nas
linguagens verbal ou não verbal e na reciprocidade socioemocional).
Outras características são os padrões restritos e repetitivos de
comportamento, como movimentos contínuos, interesses fixos e hipo ou
hipersensibilidade a estímulos sensoriais. Todas as pessoas com autismo
partilham estas dificuldades. No entanto, cada uma delas é afetada em
intensidades diferentes, resultando em situações bem particulares.
Apesar
de ainda ser chamado de autismo infantil, pelo diagnóstico ser comum em
crianças e até bebês, o transtorno é condição permanente que acompanha a
pessoa por todas as etapas da vida.
Por
que espectro? Ainda segundo o DSM -5 o autismo se manifesta em três
níveis de intensidade. A pessoa diagnosticada como de grau 1 de suporte
apresenta prejuízos leves, que podem não a impedir de estudar, trabalhar
e se relacionar. Um indivíduo com grau 2 de suporte tem um menor grau
de independência e necessita de algum auxílio para desempenhar funções
cotidianas, como tomar banho ou preparar a sua refeição. Já o autista
com grau 3 de suporte vai manifestar dificuldades graves e costuma
precisar de apoio especializado ao longo da vida.
Na
literatura, sobretudo na prática do Instituto Gabriele Barreto Sogari
(Instituto Gabi) que atende este público desde 2001, observa-se que
portadores do diagnóstico de TEA apresentam habilidades significativas e
até impressionantes, como facilidade para aprender visualmente, maior
atenção aos detalhes e à exatidão. Outra evidência é a capacidade de
memória acima da média e grande concentração em uma área de interesse
específica durante um longo período de tempo. Cada indivíduo, dentro do
seu espectro, vai desenvolver o conjunto de sintomas variados e
características bastante singulares. Tudo isso vai influenciar como cada
pessoa se relaciona, se expressa e se comporta. É importante perceber
como cada uma destas pessoas se coloca no mundo e interage.
Nestes
22 anos de o Instituto Gabriele Barreto Sogari tem ofertado
atendimentos a crianças, adolescentes e jovens com TEA através do apoio
psicopedagógico, estimulação essencial, musicoterapia, musicalização,
atividades de vida diária, fonoaudiologia, educação física,
psicomotricidade, atendimento social e oficina de design. Respeitando as
habilidades e capacidades de cada um as atividades são individuais ou
em pequenos grupos. O processo é acompanhado e orientado por uma
coordenadora, formada em psicologia. O percurso de cada criança,
adolescente ou jovem com Autismo é construído a partir da escuta
qualificada das famílias dos atendidos e numa perspectiva coletiva de
equipe multidisciplinar com profissionais que trabalhas de modo
integrado e compartilhado.
*Iracema Barreto Sogari é piscopedagoga e fundadora do Instituto Gabi. www.institutogabi.org.br
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