MEDIÇÃO DE TERRA

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domingo, 26 de fevereiro de 2023

Banco Central de Dilma fez experiência de reduzir rápido os juros e se deu muito mal

 



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Charge do J.Caesar (Veja)

Samuel Pessôa
Folha

As economias modernas empregam o regime de moeda fiduciária. Isto é, a moeda não tem lastro, como ocorria no padrão-ouro. Desde o fim da Primeira Guerra Mundial, quando terminou o padrão-ouro, até o início dos anos 1990, não se sabia como controlar a inflação em um regime de moeda fiduciária.

No pós-guerra até o início dos anos 1970, vigorou uma gambiarra do padrão-ouro assentado no dólar, conhecido por regime monetário de Bretton Woods. Após o fim do regime, em agosto de 1971, a economia mundial viveu surtos inflacionários recorrentes. A conquista da estabilidade dos preços coincidiu com a construção de uma série de mecanismos operacionais dos bancos centrais, conhecidos por regime de metas de inflação.

TEORIA E PRÁTICA – O regime de metas de inflação foi construído pelos próprios banqueiros centrais, os homens práticos que tocavam o dia a dia da política monetária. Simultaneamente e com um pequeno atraso, os acadêmicos foram desenvolvendo a teoria que o sustenta.

Entre inúmeros acadêmicos, o professor de Stanford John Taylor teve liderança na construção teórica do regime monetário para um sistema de moeda fiduciária. A grande questão era: como estabilizar os preços em um sistema de moeda sem lastro, em que a quantidade de moeda pode ser qualquer coisa?

Durante muito tempo, os economistas ficaram procurando regras que estabeleciam restrições sobre a evolução da quantidade de moeda. Demorou, mas a academia, baseando-se nos trabalhos pioneiros do economista sueco do começo do século 20 Knut Wicksell, percebeu que era muito mais produtivo trabalhar com a taxa de juros do que com a quantidade de moeda.

REGRINHA SIMPLES – Ao olhar o problema com os óculos de Wicksell, em poucos anos a questão se esclareceu. John Taylor mostrou que uma regrinha simples, que já era seguida pelos bancos centrais, conseguia estabilizar os preços em um regime de moeda fiduciária: bastava fixar os juros suficientemente acima do juro normal, conhecido por juro neutro, sempre que a inflação estivesse acima da meta inflacionária, e o inverso se a inflação estivesse abaixo. Essa é a regra de Taylor.

O “suficientemente acima” estabelecia que a resposta da política monetária tinha que ser suficientemente forte. Se a inflação subisse um ponto percentual acima da meta inflacionária, por exemplo, os juros teriam que subir mais do que um —esse é o princípio de Taylor, necessário para que a regra de Taylor estabilize os preços.

Os juros no Brasil são elevados pois o juro neutro é elevado —entre outros fatores, nossas baixíssimas taxas de poupança explicam o elevado juro neutro—, mas também porque o equilíbrio entre oferta e procura no Brasil é pouco sensível às taxas de juros. Meu colega Bernardo Guimarães, que ocupa este espaço às quartas-feiras, elaborou o tema em sua coluna mais recente.

TESTE DE TOMBINI – No primeiro mandato da presidente Dilma, quando o presidente do Banco Central era Alexandre Tombini, houve um experimento monetário. Em razão do desconforto com as elevadas taxas de juros praticadas no Brasil, o BC alterou a sua função de reação.

A regra de Taylor praticada pelo BC deixou de atender ao princípio de Taylor. Lentamente a inflação foi voltando, apesar de todos os controles das tarifas e do preço da gasolina que foram empregados no período. A história não terminou bem.

Os economistas que têm assinado manifestos pedindo redução dos juros precisam explicar os motivos de desta vez ser diferente. A documentação da alteração da regra de Taylor no período encontra-se no trabalho publicado na revista Empirical Economics, volume 48 de 2015 (páginas 557-575), e no trabalho publicado na revista Journal of International Money and Finance, volume 74 de 2017 (páginas 31-52). Este último com o sugestivo título “Desconstruindo Credibilidade: A Quebra da Regra de Política Monetária no Brasil”.

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