MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

sábado, 28 de janeiro de 2023

Tudo vai melhorar para pior

 

BLOG  ORLANDO  TAMBOSI

Tudo somado, acredito firmemente que a partir da semana que vem a política brasileira ficará ainda melhor na sua ruindade extraordinária: o Bananão sempre capricha. Via Crusoé, a crônica de Ruy Goiaba:


Tem uma frase clássica do Millôr Fernandes sobre o Saturnino Braga, prefeito do Rio entre 1986 e 1989, em cuja gestão a cidade faliu — Millôr dizia que Saturnino “desmoralizava a honestidade” (ou a honradez, algo assim). Lembrei disso quando estávamos discutindo a edição desta semana da Crusoé sobre a posse do novo Congresso, agora em 1º de fevereiro. Já fui inocente a ponto de achar que a palavra “renovação” tinha sentido positivo: isso durou até 2019, quando aquele Congresso da “nova política”, cheio de nomes eleitos pela primeira vez etc. se mostrou uma concentração de gente que não passa ilesa pelo mata-burro provavelmente inédita na história do nosso Legislativo. E, claro, os calouros aderiram à “velha política” em um piscar de olhos.

Devia ter sido óbvio que isso aconteceria, já que o nome da “nova política” que chegou à Presidência era um deputado-milico que estava na Câmara havia 27 anos, com apenas dois projetos aprovados, e era mais famoso pelas barbaridades que dizia do que por seu trabalho — como ficou claro nos últimos quatro anos, trabalhar é um lance que Jair Bolsonaro nunca curtiu muito. Agora, em vez da nova velha política, o Bananão decidiu dar mais uma chance à velha velha política: o resultado é o Lulão velho de guerra (cada vez mais velho, aliás) dizendo que temos que tratar Cuba e Venezuela com carinho, como se fossem pets, e prometendo investimento do BNDES em gasoduto lá na Argentina. Somos o vira-lata caramelo correndo atrás do próprio rabo, e pelo visto temos de dar graças a Deus por ele não estar mais nadando no esgoto.

É verdade que o brasileiro também elegeu alguns youtubers, que aliás estiveram entre os candidatos à Câmara mais votados nos seus estados. O que não quer dizer nada quando se está lá dentro: o novato youtuber vai ser um entre 513 deputados, e dificilmente deixarão que ele chegue e já se sente na janelinha — lembrem-se de que Enéas Carneiro, precursor dos youtubers gritões e recordista de votos em 2002 (1,5 milhão em São Paulo), foi um deputado basicamente medíocre. Em compensação, vamos ter ainda mais selfies e vídeos idiotas filmados no plenário, porque se tem uma coisa que FALTA na internet é gente sendo cretina, filmando tudo e jogando no TikTok e no YouTube (e esses cretinos avulsos pelo menos não têm mandato). Vê lá se Arthur Lira, bambambã da velhíssima política, perde tempo com dancinha no TikTok.

Tudo somado, acredito firmemente que a partir da semana que vem a política brasileira ficará ainda melhor na sua ruindade extraordinária: o Bananão sempre capricha. Como dizia aquele sábio que viralizou nas redes, “já tava bom, diz que ia mudar ainda pra melhor, já não tava muito bom, tava meio ruim também, tava ruim, agora parece que piorou”. Meu único consolo, como já devo ter dito aqui, é que se eu morasse num país escandinavo de IDH alto não teria os assuntos para esta coluna que o Brasil me oferece toda semana: em vez de o texto quase se escrever sozinho, Ruy Goiaba definharia num cenário de “crime não ocorre, nada acontece, carne de rena”. Um brinde, portanto, a este nosso país disfuncional — pelo menos enquanto essa disfuncionalidade pagar o meu salário.

***

A GOIABICE DA SEMANA

Desde que voltou à Presidência, Lula parece decidido a ligar a torneirinha de asneiras e, a cada discurso, fazer embaixadinha para a militância petista. O presidente acabou de voltar de uma viagem à Argentina e ao Uruguai, e o que de melhor se tirou dela — em termos de goiabice, claro — são os nomes sugeridos para a ideia de uma moeda comum: “peso morto”, “surreal” e “merdólar”, o dólar do Mercosul. A campeã da semana, porém, deve ter sido Lula elogiando a economia argentina, que fechou 2022 com uma inflação de 95% (a nossa não chegou a 6%). Espero que seja só hipocrisia, e não elogio sincero às ideias econômicas de jerico dos hermanos; mas, considerando uma turma que foi para o governo brasileiro, talvez seja questão de tempo até chegarmos lá.

Moeda de peso argentino, ainda não convertida em surreais ou merdólares
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