MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

Já pode falar mal de Lula?

 

BLOG  ORLANDO  TAMBOSI
A equipe econômica está cheia de talentos que têm tudo para transformar Lula 3 em Dilma 3: o que já deu errado na gestão de Dilma Rousseff vai dar supercerto se for repetido igualzinho agora. A crônica de Ruy Goiaba para a Crusoé:


Olá. Como vão vocês? Sobreviveram à passagem do ano? Prestaram homenagem a Pelé revendo os gols e as jogadas do “homem que inventou o Brasil”, como escreveu o jornal italiano Domani? Ficaram comovidos com a cerimônia de posse de Lula? Bom, então já é mais que hora de vocês saírem da ressaca — seja alcoólica, seja de comoção — e encararem a realidade real, que é continuarmos cercados de Bananão por todos os lados (verdade: pelo menos sem aquele rato que fugiu do país de aviãozinho e foi ser vizinho do Mickey).

Então, declaro aberta a temporada de falar mal do Lula 3. “Ah, não é hora de criticar o PT!” Nunca é, eu sei. “Dá um tempo, o governo do cara mal começou.” Pois é, deveria haver diferença entre mal começar e começar mal, mas esse novo governo de Sua Lulidade parece decidido a misturar as coisas. Aliás, peço licença para citar uma frase do próprio Lula quando ainda era presidente eleito, em 22 de dezembro: “Vou dizer em alto e bom som: nós não precisamos de puxa-sacos. Um governo não precisa de tapinha nas costas. Um governo tem que ser cobrado todo santo dia para que a gente consiga aprimorar a nossa capacidade de trabalho”. O presida mandou, tá mandado: nada de puxa-saquismo. Nossa prestação de serviço é descer o pau, inclusive porque o homem criou 14 ministérios (são 37 agora) e nenhum é o do Vai Dar Merda, o mais necessário.

Falando sério, a melhora é inegável — nem vou usar o clichê “da água para o vinho”, que é pouco para descrever — em pastas como as da Saúde e do Meio Ambiente, ainda que o sarrafo dos ministros anteriores fosse muito baixo. Por outro lado, a equipe econômica está cheia de talentos que têm tudo para transformar Lula 3 em Dilma 3: o que já deu errado na gestão de Dilma Rousseff vai dar supercerto se for repetido igualzinho agora. É um pessoal com aquela vibe que Millôr Fernandes atribuía ao comunismo (“uma espécie de alfaiate que, quando a roupa não fica boa, faz alterações no cliente”). Tudo isso porque, até agora, nenhum estudo sério estimou quanto o PIB do Brasil poderia subir se demolissem o Departamento de Economia da Unicamp, jogando sal nas ruínas.

Mas, até agora, a nomeação que tem tudo para ser um sucesso é a de Daniela do Waguinho para o Ministério do Turismo. O “Waguinho” em questão é o prefeito de Belford Roxo, na Baixada Fluminense, e se só de ouvir esses nomes você pensou em “milícia”, lamento dizer que está certo: já foram descobertas ligações do grupo político da ministra, que agora prefere ser chamada de Daniela Carneiro, com três milicianos presos no Rio. Tem mais: o suplente de Daniela, deputada federal mais votada no estado em 2022, é sobrinho de Anísio Abraão David, presidente de honra da Beija-Flor e um dos bicheiros mais famosos do país. A cereja do bolo, porém, é Marcelo Freixo — também conhecido como ex-presidente da CPI das Milícias na Alerj — ser agora o presidente da Embratur.

Isso é claramente um cala-boca para vocês aí reclamando que a “frente ampla” do Lula não é ampla o suficiente: se tem até milícia na jogada, o tal acordão é bem elástico mesmo. E eu sei que Flávio Dino, o novo ministro da Justiça, prometeu combater as milícias, mas temo que seja só para eliminar a concorrência. Aliás, nesta quarta (4) mesmo, Dino já apareceu para passar pano para Daniela e dizer que, veja bem, os políticos tiram foto com todo mundo etc.

E isso que o governo não tem nem uma semana. Como diria Bette Davis em A Malvada, “apertem os cintos, vai ser uma noite agitada” — durante quatro anos.

***

A GOIABICE DA SEMANA

Tem um pessoal que estava muito empenhado em “defender a ciência” durante a pandemia — gritando, com razão, contra o discurso antivacina e a insistência do falecido Jair Bolsonaro em cloroquina, ivermectina e quetais — e, agora que o governo Bolsonaro acabou, parece se sentir liberadaço para levar a sério coisas que não são ciência nem aqui nem na China. Por exemplo, coleguinhas fazendo reportagens sobre a gloriosa Fundação Cacique Cobra Coral e sua “atuação” para fazer o sol brilhar com força em Brasília durante a posse de Sua Lulidade. E ai de você se criticar: está sendo desrespeitoso com os saberes ancestrais brasileiros e, por isso mesmo, racista. Aquela frase clássica de Bob Fields nunca vai perder sua atualidade: no Brasil, a burrice tem um passado glorioso e um futuro promissor.

A posse de Lula, depois de o Cacique Cobra Coral dar aquela assoprada nas nuvens

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