BLOG ORLANDO TAMBOSI
A
equipe econômica está cheia de talentos que têm tudo para transformar
Lula 3 em Dilma 3: o que já deu errado na gestão de Dilma Rousseff vai
dar supercerto se for repetido igualzinho agora. A crônica de Ruy Goiaba
para a Crusoé:
Olá.
Como vão vocês? Sobreviveram à passagem do ano? Prestaram homenagem a
Pelé revendo os gols e as jogadas do “homem que inventou o Brasil”, como
escreveu o jornal italiano Domani? Ficaram comovidos com a cerimônia de
posse de Lula? Bom, então já é mais que hora de vocês saírem da ressaca
— seja alcoólica, seja de comoção — e encararem a realidade real, que é
continuarmos cercados de Bananão por todos os lados (verdade: pelo
menos sem aquele rato que fugiu do país de aviãozinho e foi ser vizinho
do Mickey).
Então,
declaro aberta a temporada de falar mal do Lula 3. “Ah, não é hora de
criticar o PT!” Nunca é, eu sei. “Dá um tempo, o governo do cara mal
começou.” Pois é, deveria haver diferença entre mal começar e começar
mal, mas esse novo governo de Sua Lulidade parece decidido a misturar as
coisas. Aliás, peço licença para citar uma frase do próprio Lula quando
ainda era presidente eleito, em 22 de dezembro: “Vou dizer em alto e
bom som: nós não precisamos de puxa-sacos. Um governo não precisa de
tapinha nas costas. Um governo tem que ser cobrado todo santo dia para
que a gente consiga aprimorar a nossa capacidade de trabalho”. O presida
mandou, tá mandado: nada de puxa-saquismo. Nossa prestação de serviço é
descer o pau, inclusive porque o homem criou 14 ministérios (são 37
agora) e nenhum é o do Vai Dar Merda, o mais necessário.
Falando
sério, a melhora é inegável — nem vou usar o clichê “da água para o
vinho”, que é pouco para descrever — em pastas como as da Saúde e do
Meio Ambiente, ainda que o sarrafo dos ministros anteriores fosse muito
baixo. Por outro lado, a equipe econômica está cheia de talentos que têm
tudo para transformar Lula 3 em Dilma 3: o que já deu errado na gestão
de Dilma Rousseff vai dar supercerto se for repetido igualzinho agora. É
um pessoal com aquela vibe que Millôr Fernandes atribuía ao comunismo
(“uma espécie de alfaiate que, quando a roupa não fica boa, faz
alterações no cliente”). Tudo isso porque, até agora, nenhum estudo
sério estimou quanto o PIB do Brasil poderia subir se demolissem o
Departamento de Economia da Unicamp, jogando sal nas ruínas.
Mas,
até agora, a nomeação que tem tudo para ser um sucesso é a de Daniela
do Waguinho para o Ministério do Turismo. O “Waguinho” em questão é o
prefeito de Belford Roxo, na Baixada Fluminense, e se só de ouvir esses
nomes você pensou em “milícia”, lamento dizer que está certo: já foram
descobertas ligações do grupo político da ministra, que agora prefere
ser chamada de Daniela Carneiro, com três milicianos presos no Rio. Tem
mais: o suplente de Daniela, deputada federal mais votada no estado em
2022, é sobrinho de Anísio Abraão David, presidente de honra da
Beija-Flor e um dos bicheiros mais famosos do país. A cereja do bolo,
porém, é Marcelo Freixo — também conhecido como ex-presidente da CPI das
Milícias na Alerj — ser agora o presidente da Embratur.
Isso
é claramente um cala-boca para vocês aí reclamando que a “frente ampla”
do Lula não é ampla o suficiente: se tem até milícia na jogada, o tal
acordão é bem elástico mesmo. E eu sei que Flávio Dino, o novo ministro
da Justiça, prometeu combater as milícias, mas temo que seja só para
eliminar a concorrência. Aliás, nesta quarta (4) mesmo, Dino já apareceu
para passar pano para Daniela e dizer que, veja bem, os políticos tiram
foto com todo mundo etc.
E
isso que o governo não tem nem uma semana. Como diria Bette Davis em A
Malvada, “apertem os cintos, vai ser uma noite agitada” — durante quatro
anos.
***
A GOIABICE DA SEMANA
Tem
um pessoal que estava muito empenhado em “defender a ciência” durante a
pandemia — gritando, com razão, contra o discurso antivacina e a
insistência do falecido Jair Bolsonaro em cloroquina, ivermectina e
quetais — e, agora que o governo Bolsonaro acabou, parece se sentir
liberadaço para levar a sério coisas que não são ciência nem aqui nem na
China. Por exemplo, coleguinhas fazendo reportagens sobre a gloriosa
Fundação Cacique Cobra Coral e sua “atuação” para fazer o sol brilhar
com força em Brasília durante a posse de Sua Lulidade. E ai de você se
criticar: está sendo desrespeitoso com os saberes ancestrais brasileiros
e, por isso mesmo, racista. Aquela frase clássica de Bob Fields nunca
vai perder sua atualidade: no Brasil, a burrice tem um passado glorioso e
um futuro promissor.
A posse de Lula, depois de o Cacique Cobra Coral dar aquela assoprada nas nuvens
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