Não tenho dúvidas de que Bolsonaro vai acusar toda a opinião publicada de tomar partido nas eleições. Não podemos dizer que é mentira e este argumento terá o seu peso junto do eleitorado. Raquel Abecasis para o Observador:
Mais
umas eleições disputadas e os resultados voltaram a desmentir as
sondagens. Começa a tornar-se um assunto sério e perigoso, não tanto
pelo erro técnico ditado pelas urnas, mas porque um instrumento que
devia obedecer a um método científico, afinal não acerta uma. Nas
eleições no Brasil deste fim de semana voltou a repetir-se o fiasco.
Não
sou especialista na matéria, mas sou eleitora e, como toda a gente, sou
influenciada por sondagens. O que mais este fracasso estrondoso das
sondagens demonstra é que estas pesquisas não só deixaram de ter
qualquer credibilidade, como podem a partir de agora ser lidas ao
contrário. O que parece é que estes estudos servem cada vez mais para
exprimir a vontade da opinião publicada e não a intenção de voto do
eleitorado.
Não
foi por acaso que, nos últimos dias antes das eleições, as sondagens
começaram a coincidir com a mensagem dos comentadores: é preciso
resolver tudo à primeira volta. Ato contínuo, as sondagens começaram a
indicar que Lula tinha altas probabilidades de ganhar à primeira volta.
Começa
a ser um hábito, acordar no dia seguinte a atos eleitorais
determinantes com uma enorme surpresa e um resultado completamente
diferente do esperado. Em Portugal, há um ano, acordámos com uma maioria
absoluta depois de semanas em cenário de empate técnico. Antes disso,
já tínhamos acordado com a enorme surpresa da vitória de Donald Trump
nos Estados Unidos e os britânicos a decidirem-se pela saída da União
Europeia.
Cada
vez mais povos estão a decidir caminhos extremistas e de rutura depois
de décadas de decisões moderadas. E esta decisão popular é impercetível a
quem tem por missão analisar a atualidade e a quem deve medir essas
mudanças de tendência. Será que isto é alheio à posição pessoal de
analistas e técnicos de sondagens?
O
que a primeira volta das eleições brasileiras nos prova mais uma vez é
que esta forma de analistas e empresas de sondagens acompanharem
eleições está a tornar-se uma arma poderosa para os novos protagonistas
da política. Na campanha que hoje recomeça no Brasil, não tenho dúvidas
de que Bolsonaro vai acusar toda a opinião publicada de estar a tomar
partido nas eleições. Não podemos dizer que é mentira e este argumento
terá o seu peso junto do eleitorado brasileiro.
A
comunicação social e o jornalismo fazem muita falta à democracia, mas
para que isso seja verdade é muito importante que não abdiquem de
cumprir o seu papel. Jornalismo não é propaganda, mas nos últimos
tempos, em cada vez mais lugares no mundo, é o que parece, e está à
vista que os eleitores não gostam do que vêm e ouvem.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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