BLOG ORLANDO TAMBOSI
A vingarem as propostas e ideias de Lula e Bolsonaro, por ora favoritos na corrida presidencial, o Brasil tem um encontro marcado com desastre maior a partir de 2023. Editorial do Estadão:
O
futuro é extremamente desafiador para o Brasil, e a escolha do próximo
presidente da República definirá quão prolongados serão os efeitos
perniciosos de uma crise política, econômica, social e moral que há mais
de três anos tem sido pintada com cores vivíssimas, diante dos olhos de
todos. Das duas, uma: ou as forças genuinamente democráticas da
sociedade superam veleidades e constroem uma alternativa responsável às
forças do atraso que ora parecem triunfar, ou o País tem um encontro
marcado com um desastre ainda maior do que o atual a partir de 2023.
Nenhuma
eleição pode ser considerada mais importante do que outra, pois todas
são cruciais ao tempo de sua realização. Mas é possível afirmar que os
riscos envolvidos na escolha dos eleitores em 2022 são de magnitude
poucas vezes vista na história recente do País. Há sérios obstáculos
políticos e econômicos a serem superados, como já estiveram em jogo em
tantos outros pleitos. Mas, a julgar pelo que propõem os dois
pré-candidatos que lideram as pesquisas de intenção de voto no momento, o
ex-presidente Lula da Silva e o presidente Jair Bolsonaro, nada indica
que caminhos serão abertos para que o Brasil saia desse lamaçal caso um
dos dois seja o vencedor do pleito em outubro.
Tanto
pior porque Lula e Bolsonaro são hábeis em açular seus apoiadores mais
radicais e poluir o debate público com mentiras e distorções da
realidade. Ao fazerem do ódio e da dissimulação instrumentos de ação
política, tanto um como outro impedem a coesão social mínima em torno de
um diálogo honesto e propositivo com vistas à reversão de nossas
mazelas.
Cerca
de 50 milhões de brasileiros convivem com a insegurança alimentar, ou
seja, não têm renda suficiente para garantir comida no prato todos os
dias. O número de desempregados – embora tenha recuado de 14,6% para
11,2% no trimestre encerrado em fevereiro, em comparação com o mesmo
período no ano passado – ainda é assustador: são 12 milhões de cidadãos
em idade economicamente ativa sem trabalho no País, de acordo com o
IBGE. Economistas preveem que o porcentual de desocupação permanecerá no
patamar de dois dígitos, no mínimo, até 2024. A inflação renitente
corrói a renda dos que têm um emprego. Juros em ascensão freiam a
capacidade de expansão da atividade econômica.
Na
educação, o cenário é de terra arrasada. A cultura e a política externa
foram transformadas pelo bolsonarismo em flancos de uma “guerra
cultural” que seria apenas caricatura da estupidez de uns tresloucados
caso não impingisse tantos danos ao País. Na seara ambiental, o Brasil
foi da condição de interlocutor indispensável a pária internacional.
Diante
desse quadro trevoso, é desalentador constatar que tudo o que Lula e
Bolsonaro propõem só tende a agravar os problemas do País. É o exato
oposto do que se espera de candidatos à Presidência da República.
O
pouco que se conhece do programa econômico de Lula para um eventual
terceiro mandato não apenas não resolve os problemas atuais, como os
aprofunda. O papel aceita quase tudo. Lula pode escrever à vontade que
“os melhores momentos do Brasil foram nos governos do PT”, mas não pode
reescrever a História.
Bolsonaro
pode dizer para seus apoiadores que o País “tem tudo” para crescer e se
desenvolver, e que ele ainda não conseguiu fazer do Brasil a “pátria
grande” porque “alguns poucos atrapalham” e deveriam “calar a boca” e
deixá-lo trabalhar.
O
fato é que nem Lula nem Bolsonaro têm projetos certos para atacar os
problemas do País. Não propõem nada além de suas supostas virtudes
pessoais em relação ao oponente. À frente da disputa pela Presidência,
ao menos por ora, estão dois mitômanos que talvez só acreditem nas
próprias patranhas pela força da repetição.
O
País precisa de um líder moderno, atinado com a agenda política,
social, econômica e ambiental do século 21. Um conciliador. Alguém que
pense o futuro com responsabilidade, empatia e espírito público. Ou
seja, alguém que ainda está por se fazer conhecido e, sobretudo,
despertar a esperança dos brasileiros em um futuro melhor.
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