Coluna de Carlos Brickmann, a ser publicada nos jornais de quarta-feira, 6 de abril:
O
presidente do Flamengo foi convidado para a presidência do Conselho da
Petrobras e aceitou. O economista especializado em assuntos petrolíferos
Adriano Pires foi convidado para ser o presidente da Petrobras e
aceitou. Só que se tratava de uma Operação Tabajara: pelas normas da
Petrobras, nem um nem outro poderiam ocupar os cargos, não por falta de
competência, mas porque as atividades que já exercem não permitem que
assumam a empresa.
O
presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, desistiu da indicação por
pretender, segundo disse, dedicar todo seu tempo ao clube – mas, alguns
dias antes, essa ideia de se dedicar totalmente ao clube nem havia sido
citada. E o economista Adriano Pires, antes entusiasmado diante da
perspectiva de ser presidente da maior empresa brasileira, de repente
perdeu o entusiasmo.
Traduzindo:
ambos têm conflitos de interesses. Pires é um dos maiores e mais
cobiçados consultores de empresas privadas de petróleo e gás. É ligado à
Associação Brasileira de Empresas de Gás, Abegás, a Carlos Suarez (que
já foi o S da OAS e hoje é grande distribuidor de gás), a Rubens Ometto
(da Compass). Landim é também ligado a Suárez, que tem muitos acordos e
propostas à Petrobras, e lhe caberia discutir esses acordos e decidir ou
não colocá-los em vigor. Há também discordâncias que poderiam levar
Landim, como presidente do Conselho da Petrobras, a decidir se a empresa
deveria ou não processá-lo – o que, cá entre nós, seria uma situação
muito estranha.
Sim, Pedro Bó
O
ministro das Minas e Energia, almirante Bento Albuquerque, conhece bem
Adriano Pires, e disse que era uma excelente indicação para comandar a
Petrobras. O presidente Bolsonaro, ao convidar Landim, vestiu a camiseta
do Flamengo. Os dois sabiam das coisas? Deviam saber, porque todas as
informações sobre ambos constam dos relatórios da Petrobras a respeito
de normas de governança. A Petrobras tem ações negociadas em Bolsa, no
Brasil e nos EUA, e Operações Tabajara podem dar processos caríssimos.
Laços de família
O
caso já é conhecido, mas deixa uma pergunta: que tipo de educação
recebeu um rapaz que, sabendo que uma jovem grávida foi presa, torturada
e largada nua num quarto escuro, com uma enorme jiboia por perto,
resolve fazer piada com isso? Tamanha cafajestice não fere o decoro
parlamentar?
A caverna do Tesouro
Em
2019, o FNDE, Fundo Nacional de Desenvolvimento Educacional, abriu
concorrência pública para levar notebooks a escolas públicas. Foi uma
barbaridade: a CGU, Controladoria Geral da União, mostrou que seriam
comprados 118 notebooks para cada estudante de uma escola pública de
Itabirito, Minas.
Em
outras escolas, a abundância seria menor: de dois a cinco computadores
por aluno. A concorrência de R$ 3 bilhões foi suspensa (e o presidente
Bolsonaro alega que, tendo sido a manobra descoberta por órgãos
governamentais de controle, não houve corrupção). Mas ninguém investigou
quem multiplicou o número de notebooks a comprar.
Agora,
repete-se o problema: o mesmo FNDE abriu concorrência para a compra de
ônibus escolares, dispondo-se a pagar R$ 730 milhões acima do preço do
mercado. O Tribunal de Contas permitiu a abertura de concorrência, mas
que só será validada depois que explicarem direitinho o superpreço dos
ônibus.
Conversa doméstica
O
Ministério da Educação, onde se abriga o FNDE, é exatamente aquele
local onde dois pastores de fora do governo são acusados de pedir
propina, até em barra de ouro, para acelerar a liberação de verbas para
prefeituras. Todos os ministérios estão sob a coordenação do deputado
Ciro Nogueira, ministro da Casa Civil e um dos comandantes supremos do
Centrão.
Pois
não é que uns quatro dias antes de determinar que a concorrência fosse
em frente, o presidente do FNDE se reuniu com o ministro Ciro Nogueira?
Opostos e iguais
E
do outro lado – do até agora favorito Luís Inácio Lula da Silva? Pois
é: ele promete censurar a imprensa (opa, o nome é “controle social da
mídia”), eliminar o teto de gastos, que enquanto foi deixado em paz
levou a inflação para 3% ao ano, aumentar os gastos públicos. Ah, mas
Lula tem como vice o ex-governador paulista Geraldo Alckmin! Porém, qual
deles? Aquele que fazia críticas pesadíssimas a Lula? Ou o que acha que
a opinião pode mudar conforme o sopro dos ventos? O atual Alckmin é
socialista, filiado ao PSB. Antes dele, quem foi socialista, filiado ao
mesmo PSB, era Paulo Skaf, que hoje é aspirante a vice na chapa
bolsonarista ao governo de São Paulo.
Boa notícia
O
primeiro submarino convencional produzido pela Marinha (serão quatro)
incorpora-se à frota em maio. Está prontinho, todos os testes já foram
realizados. E começa a construção do primeiro submarino nacional de
propulsão nuclear, o Álvaro Alberto.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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