Ex-presidente disse que recebeu imunização e se orgulha de ter incentivado as descobertas, mas o movimento antivacinação não gosta disso. Vilma Gryzinski:
Republicanos
e trumpistas estão majoritariamente na faixa da população americana que
prefere não se vacinar contra a Covid-19 – uma proporção alta da
população, cerca de 30%.
É
tão grande a tendência que muita gente acha que Donald Trump é contra
as vacinas. Ao contrário, seu governo liberou rios de dinheiro e de
ideias no projeto Time Warp, ajudando a empurrar o esforço que redundou
nas vacinas da Pfizer, em associação com a alemã BioNTech, da Moderna e
da Jensen.
“Eu
consegui a vacina, três vacinas, todas elas muito, muito boas. Consegui
três delas em menos de nove meses”, orgulhou-se ele em entrevista a
Candace Owens, jovem estrela negra do conservadorismo de raiz.
Candace
rebateu que “mais pessoas morreram” este ano, já no governo Biden, com a
administração das vacinas em larga escala, mas Trump não cedeu: “Os que
ficam muito doentes e são hospitalizados são os que não tomaram a
vacina”.
Candace pareceu escandalizada e, perguntada por Trump, disse que nunca, jamais se vacinará.
A
entrevista deu o que falar e tirou o ultraconspiracionista Alex Jones
da celebração do Natal (e do entrevero com a esposa, presa dias antes
por agredi-lo em casa, um episódio de violência doméstica atribuído por
ele a medicação controlada).
“Você
é completamente ignorante”, apelou Jones em seu programa de rádio,
transmitido também pelo site Infowars. “Ou você é o homem mais perverso
que já existiu por empurrar esse veneno tóxico para o público e atacar
seus eleitores quando eles simplesmente tentam salvar suas vidas.”
No
universo Trump, a ruptura é espetacular. Alex Jones e suas maluquices
conspiratórias têm uma influência nefanda sobre um público que já tende a
desconfiar de tudo o que tem o selo oficial – e não só votou em massa
em Trump como votaria de novo se ele se candidatasse em 2024.
Para
dar uma ideia: toda vez que acontece um episódio de um desequilibrado
atirando em pessoas inocentes, ele vem com a teoria de que é uma
armação, uma operação de “bandeira falsa” para justificar controles
sobre a posse de armas.
Agora,
Jones pode se dar mal. Por não ter apresentado defesa, foi considerado
culpado em quatro processos de difamação abertos por familiares de
vítimas do massacre de Sandy Hook, de 2012, o maior já acontecido numa
escola, quando o suicida Adam Lanza dizimou vinte crianças e seis
educadores.
Por
causa das sandices propagadas, famílias das criancinhas mortas são
assediadas por pessoas que acreditam que participaram de uma encenação.
Alguns precisam mudar constantemente de endereço para escapar a
perseguições e ameaças.
Se for condenado em instâncias superiores, Alex Jones poderá ser afetado, via indenizações, no bolso.
Donald Trump precisa mais de Alex Jones ou vice-versa?
Mesmo
caçado das redes sociais, Trump continua a ter uma enorme influência
entre o eleitorado conservador. O governo capenga de Joe Biden também
ajuda a impulsionar a ideia de que “Trump não era tão ruim assim” entre o
público que ora se inclina pelos democratas, ora pelos republicanos.
Segundo
uma pesquisa deste mês, 48% votariam em Trump em 2024, contra 45% para
Biden. O número é mais acentuado entre homens: 50% contra 43%.
Trump
será candidato? Absolutamente. Biden? Se estiver inteiro, com toda
certeza – talvez até se continuarem faltando alguns pedaços de memória,
como já acontece.
O
vírus que não dá sossego a ninguém, a situação econômica desfavorável,
com inflação e gasolina cara, e os projetos de investimentos gigantescos
que não passam no Congresso criam atualmente um mau momento para Biden.
Na média das pesquisas, ele está com 43% de aprovação e 53% de
desaprovação.
Biden, obviamente, já não tem o eleitorado que é contra a vacinação. Quem sofre nessa faixa, se isso acontecer, é Trump.
O
ex-presidente já havia sido vaiado por uma parte do público num
programa que faz, juntamente com apresentador Bill O’Reilly, ex-Fox, nos
estados onde continua muito popular, quando disse que tinha tomado a
terceira dose.
Para defendê-lo depois da entrevista em que se chocaram, Candace Owens usou um argumento nada simpático.
“As
pessoas muitas vezes esquecem de como Trump é velho. Já vi muita gente
mais velha que tem exatamente essa perspectiva, vieram de um tempo antes
da televisão, antes da internet, antes que fosse possível fazer
pesquisas independentes”, disse a comentarista de 32 anos.
Ajudar,
não ajudou. Mas também não causou um estrago muito grande. Os Estados
Unidos estão, de novo, com dois quase octogenários como candidatos mais
cotados à presidência num sinal da falta de renovação. Para sorte deles,
ambos triplamente vacinados.
BLOG ORLALANDO TSMBOSI
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