Republicano com impecável currículo conservador, o governador da Flórida já começa a receber cotoveladas do ex-presidente, que só pensa em 2024. Vilma Gryzinski:
É possível estar à direita de Donald Trump? Com toda certeza e Ron DeSantis, o governador da Flórida é uma prova disso.
Recentemente,
ele disse que teria aconselhado Trump de maneira diferente se soubesse o
que sabe agora sobre as falhas dp método de confinamento como
instrumento de combate à pandemia (foi em março de 2020, quando o
ex-presidente instou os americanos a ficar em casa para enfrentar o
vírus).
Para
deleite da grande imprensa pró-democrata, Trump tem espetado DeSantis,
lembrando que ele o “fez” governador, no que tem uma boa dose de razão. O
ex-presidente também deu uma indireta diretíssima ao criticar figuras
públicas “covardes” que não assumem ter tomado as três doses de vacina
contra a Covid – uma referência à entrevista na Fox na qual o governador
se esquivou de dar uma resposta direta sobre seu status vacinal.
Em sigilo de fonte, assessores vazaram que, na opinião de Trump, o governador tem uma “personalidade opaca”.
Por que os golpes disfarçados? Porque tanto Trump quanto DeSantis só pensam naquilo: a candidatura presidencial em 2024.
Teoricamente,
Trump nem deveria estar preocupado. Pesquisa recente mostra que 54% dos
republicanos apoiam sua candidatura, contra 11% para DeSantis e 8% para
o ex-vice-presidente Mike Pence. DeSantis salta para um primeiro lugar
disparado caso Trump esteja fora da concorrência, uma possibilidade
remota.
Trump
está no seu papel e DeSantis no dele. Sendo a posição do governador
mais difícil: tem que conciliar sua ambição à necessidade de não
demonstrar o menor sinal de deslealdade a Trump. Caso aconteça um
cataclismo mundial ou uma invasão de alienígenas e Trump não seja
candidato, o seu endosso tem um valor inestimável.
DeSantis
tem uma vantagem imbatível em relação a Trump: o tempo. Com apenas 43
anos, pode armar uma candidatura presidencial agora, mirando o ciclo
seguinte, em 2028.
Tem
também um currículo de derreter corações conservadores. Embora seja
tratado como um peso leve em termos de patrimônio intelectual, ele
estudou história em Yale e se formou em direito em Harvard. Fez carreira
no braço jurídico da Marinha, assessorando o Time Um dos Seals, os
legendários comandos especiais, no Iraque e a acusação contra os réus
por terrorismo em Guantánamo.
Foi
a pandemia que o tornou uma figura nacional. Ele fez na Flórida tudo o
que governadores democratas não fizeram em seus estados. Não só resistiu
ao apelo dos lockdowns, como proibiu que governos municipais
decretassem o confinamento coletivo. As escolas da Flórida foram
proibidas de exigir o uso de máscara para os alunos.
As
previsões de que a Flórida se transformaria no epicentro da catástrofe
não se concretizaram. Em termos absolutos, o estado ficou em terceiro
lugar em número de mortos pela Covid, 63 mil pessoas. Em mortes por um
milhão de habitantes (2 907), ficou atrás, embora não muito, de estados
democratas como Nova York, Nova Jérsei e Pensilvânia.
Tudo
o que DeSantis, descendente distante de italianos, faz é focado no
embate ideológico. Ele ofereceu, por exemplo, não só contratar como dar
um bônus de cinco mil dólares a policiais de outros estados que são alvo
de investigação interna ou se recusam a tomar a vacina contra a Covid.
Também proibiu a participação de mulheres trans em competições
esportivas nas escolas da Flórida.
“Os
críticos veem tudo como uma fanfarra de autoritarismo”, escreveu, nada
surpreendentemente, o esquerdista The Guardian, acusando o governador de
focar em “problemas que não existem na Flórida”.
Com
menos fanfarra, DeSantis promoveu uma campanha para registrar eleitores
republicanos. Numa virada histórica, pela primeira vez no fim do ano
passado o Partido Republicano teve mais eleitores registrados do que o
Democrata.
A
Flórida é um estado complexo, com um PIB de quase um trilhão de dólares
e uma população que mistura aposentados, incluindo grande número de
judeus, que se mudam para lá por causa do clima ameno, e a explosiva
vida gay de centros litorâneos como Miami Beach.
Dos
21 milhões de habitantes, cinco são latinos ou hispânicos, o que não
significa um bloco único. Com cubanos e venezuelanos se manifestando
ruidosamente em favor de Trump, o ex-presidente teve quase 52% dos votos
na eleição vencida nacionalmente por Joe Biden.
A
oposição democrata é forte no estado e o tom ideologizado de DeSantis
pode passar a imagem de um “mini-Trump” – por que endossar a versão em
lugar do original? Em sigilo total, há republicanos dizendo que DeSantis
promoveria exatamente a mesma pauta que Trump, sem carregar a imagem
desagregadora que o ex-presidente tem.
Sua
principal tarefa no momento é ser reeleito governador. No campo
pessoal, acompanha a mulher, que faz quimioterapia por causa de um
câncer de mama. Num perfil dele do site Politico, quando Trump ainda era
presidente, um ex-assessor, evidentemente anônimo, diz que DeSantis é
“uma das pessoas mais inteligentes e mais calculistas que já conheci, e
isso não é no sentido negativo. Ele não faz nada ao acaso”.
Descreve
a reportagem: “Ele não é um menino de recados da Casa Branca, mas um
player teimosamente independente cuja ambição presidencial supera
amplamente qualquer lealdade ao presidente”.
Os
próximos dois anos deixarão claro para onde essa ambição o levará. Uma
candidatura presidencial para valer, uma jogada estratégica para 2028,
um confronto aberto com Trump? O ex-presidente, para quem qualquer coisa
menos que lealdade incondicional é uma afronta, já começou a acusar
alguns golpes.
blog orlando tambosi
Nenhum comentário:
Postar um comentário