Sem propor caminhos para o desenvolvimento econômico e social, partido ataca um dos principais avanços obtidos nos últimos anos: a reforma trabalhista aprovada em 2017. Editorial do Estadão:
O
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem mostrado que o PT não
deseja lidar com seu passado. Não aprendeu com os escândalos de
corrupção dos governos petistas – o mensalão e o petrolão seriam mera
invenção da oposição –, tampouco com os erros da política econômica
lulopetista. Nesse diapasão, a gestão de Dilma Rousseff é ignorada pelo
discurso do partido. É como se não tivesse existido, tal como não teriam
existido o mensalão e o petrolão. Tudo seria intriga da oposição.
Mas
a tática do PT não se resume a tentar esquecer o passado, como se agora
as propostas para o futuro fossem diferentes. Lula tem deixado claro
que segue com as mesmas ideias equivocadas para o País. Sem nenhum
rubor, explicita que parou no tempo, incapaz de reconhecer não apenas os
erros lulopetistas, mas a própria realidade. Recentemente, Lula e a
presidente do PT, Gleisi Hoffmann, defenderam a revisão da reforma
trabalhista aprovada pelo Congresso durante o governo de Michel Temer.
A
atitude lulopetista chega a ser perversa com a população. Além de não
propor caminhos para o desenvolvimento econômico e social do País, o PT
ataca um dos principais avanços obtidos nos últimos anos. Trata-se de
explícita defesa do retrocesso.
A
reforma trabalhista do governo de Michel Temer é um marco jurídico
sofisticado, de raro equilíbrio social e econômico. Regular
acertadamente as relações de trabalho é um dos grandes desafios do mundo
contemporâneo, tanto pelas inovações tecnológicas que transformam
continuamente o mercado de trabalho como pelas mudanças da própria
população, com o aumento da expectativa de vida, o novo enquadramento
das funções sociais do homem e da mulher na família e no ambiente de
trabalho, etc.
Além
disso, o tema trabalhista tinha no País contornos especialmente
dramáticos, por força de um desequilíbrio interpretativo que se foi
instaurando na aplicação da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
Pois bem, a Lei 13.467/2017 foi capaz de atualizar a legislação
trabalhista, desfazendo rigidezes e promovendo novos equilíbrios, sem
eliminar direitos dos trabalhadores.
A
reforma trabalhista aprovada pelo Congresso em 2017 não guarda nenhuma
simetria com as ideias simplistas (e equivocadas) do governo Bolsonaro,
que vê nos direitos trabalhistas apenas entraves a serem removidos o
mais depressa possível. Capitaneada por Paulo Guedes, a proposta do
governo federal revela uma brutalidade darwinista e uma profunda
limitação de visão, com um diagnóstico binário sobre as relações de
trabalho.
Fruto
de longo trabalho de estudo e negociação no Congresso, a Lei
13.467/2017 tem outra sistemática e outra proposta. Sem extinguir
direitos, proporcionou mais liberdade e flexibilidade nas relações de
trabalho, além de ter removido algumas excrescências do sistema jurídico
nacional, como era o caso da contribuição sindical obrigatória. Antes
da reforma trabalhista, o trabalhador era obrigado a destinar um
porcentual do seu salário aos sindicatos, o que, além de ferir a
liberdade de associação prevista na Constituição, distorcia a função de
representação que essas entidades devem exercer.
A
resistência de Lula à reforma trabalhista de 2017 não é, portanto, um
aspecto acidental, uma incompreensão pontual, por assim dizer. Ela
expõe, uma vez mais, a grande fissura que sempre existiu entre o
discurso do PT em defesa dos direitos dos trabalhadores e a realidade da
legenda, que desde suas origens priorizou os interesses dos sindicatos e
das lideranças sindicais. Não há como tapar o sol com a peneira. Quem
está verdadeiramente do lado dos trabalhadores não pode ser contrário ao
fim da obrigatoriedade da contribuição sindical.
Assim
como todo o Direito, a legislação trabalhista deve proporcionar, por
meio de uma regulação adequada das relações sociais, autonomia e
liberdade. Não é barbárie ou anarquia, como também não é cabresto ou
sujeição. Essa dimensão de cidadania não faz parte da história do PT e,
pelo visto, nem do seu futuro. Lula continua o mesmo de sempre.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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