O
transporte rodoviário de cargas é responsável pela vida de pedestres,
de animais e de motoristas nas estradas. Para evitar acidentes, uma das
soluções são os exames toxicológicos. Contudo, segundo levantamento
realizado pela Associação Brasileira de Laboratórios de Toxicologia, o
SOS Estrada, a obrigatoriedade da realização dos testes em 2021
contribuiu para que 3,5 milhões de caminhoneiros abandonassem a
profissão.
Motoristas
e transportadoras trabalham sem previsibilidade dos seus gastos
recorrentes. Os aumentos nos preços dos combustíveis, somados aos
pedágios, à compra de pneus, à renovação de frota e à atualização da
documentação, pressionaram os orçamentos de empresas de logística e de
caminhoneiros autônomos. O Índice Nacional de Custo de Transporte
(INCT), calculado anualmente pelo Departamento de Custos Operacionais
(DECOPE) da Associação Nacional de Transporte e Logística
(NTC&Logística), mostrou que, em um ano, as despesas com o
transporte de cargas de lotação aumentaram em 30% e as fracionadas, 20%.
De
acordo com Gislaine Zorzin, diretora administrativa da Zorzin
Logística, especializada em produtos perigosos, devido à sua relevância
na economia brasileira, cargas químicas possuem um custo elevado de
transporte. “Nessa classe estão incluídas mercadorias como os
combustíveis, os vernizes, as tintas, os ácidos, os cloros, entre
outros. São matérias-primas essenciais para o funcionamento da
indústria, do agronegócio e de embalagens de alimentos. Logo, gastamos
mais com a segurança da carga”, explica Gislaine.
“As
despesas com os exames toxicológicos fazem parte do total de gastos
para evitar os acidentes. O valor deles varia de acordo com o estado,
com o laboratório e com a cidade. Normalmente, o preço fica entre R$ 140
e R$ 220. Em São Paulo, onde a Zorzin encontra-se, o preço para a
realização do teste é alto, o que motiva muitos caminhoneiros a
desistirem da profissão ou até mesmo a sofrer influência de grupos
criminosos para o contrabando de drogas, de armas e de munições”,
acrescenta a empresária.
O
estudo SOS Estrada realizado em 2020 identificou que, nos últimos
quatro anos, 170 mil motoristas foram flagrados com alguma substância
química no organismo. A cocaína apresentou a maior incidência (70%),
seguida da maconha, dos opioides e do rebite.
O
uso do etilômetro e a fiscalização do exame toxicológico em motoristas
profissionais com Carteira Nacional de Habilitação (CNH) nas categorias
C, D e E são as melhores formas de identificar o efeito de alguma
substância química no corpo do caminhoneiro. Desde novembro de 2021,
quem for pego com o documento desatualizado pode receber uma multa de
mais de R$ 1000, perder até sete pontos no prontuário e ficar até três
meses suspenso.
Por
outro lado, de acordo com Gislaine, existem outras maneiras
inteligentes de realizar essa vistoria sem precisar recorrer aos testes
que envolvem o contato entre pessoas. A Zorzin possui em suas operações
sistemas que identificam, diariamente, por meio do sopro em um
equipamento, se o profissional está alterado. Dessa forma, os dados
pessoais são mantidos em sigilo e a liberdade individual deles é
assegurada.
A
transportadora também realiza anualmente um programa de prevenção ao
uso de álcool e de drogas, adotado por todos da empresa. Ele consiste na
educação do colaborador a respeito dos prejuízos às vidas pessoal,
profissional e familiar causados pelas substâncias tóxicas.
“Da
mesma forma, é importante não acharmos que os testes farão milagres. Os
motoristas são humanos como nós, portanto possuem contas para pagar e
problemas em casa para lidar. Devemos prezar pela saúde e pelo bem-estar
deles. Portanto, uma das coisas que colocamos no programa de gestão de
pessoas da Zorzin é o acompanhamento junto à família de algum
profissional nosso que foi pego em uma fiscalização. Felizmente, temos
um excelente setor de RH e valores de empatia e de proximidade com os
nossos colaboradores bem enraizados em nossa cultura organizacional, o
que facilita a tomada de decisões e a proximidade deles em se abrir
conosco e a contar com o nosso apoio para resolver qualquer situação
difícil”, finaliza Gislaine.
A
gestora participa do Projeto 25 da Associação Brasileira de Transporte e
Logística de Produtos Perigosos. Os integrantes do grupo possuem a
tarefa de disseminar boas práticas no trabalho com essa classe de
cargas. Uma das recomendações do projeto, defendida por Gislaine, é não
dirigir depois das 22h. O incentivo ao descanso diminui o estresse, um
dos principais responsáveis pelo vício em substâncias químicas.
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