A pergunta básica do conservadorismo é "como a sociedade é?", não "como ela deve ser?" Lygia Maria para a FSP:
Para
os opositores de Bolsonaro, o termo "conservador" é sinônimo de
"racista", "homofóbico", "machista" e "fascista". Para os apoiadores,
significa a adoração de um passado considerado idílico e de uma
sociedade imutável.
Um
aspecto básico do conservadorismo é a tradição: o mundo não surgiu
quando nascemos. Há um arcabouço de conhecimentos e práticas que levaram
a humanidade das cavernas à Lua. Nesse longo trajeto, adaptamos
natureza e cultura, cometendo erros e acertos. Valorizar a tradição tem a
ver sobre como nos livramos dos erros e pode ser sintetizada na ideia
de que não é bom jogar o bebê fora junto com a água do banho.
Esse
aspecto diferencia a postura conservadora da revolucionária e da
reacionária. A Revolução Francesa derrubou o Antigo Regime em busca de
um projeto republicano, mas o fez de forma tão radical que criou um
sistema autoritário e assassino. Mao Tsé-Tung, na China, também matou,
queimou livros, destruiu templos e culturas milenares. Já no lado
reacionário, Hitler também fez o mesmo em nome de um passado idílico.
Nenhum
conservador aceitaria mudanças tão bruscas e violentas. É preciso
avaliar aquilo que foi construído no passado e que ainda funciona em
termos práticos: instituições, crenças, artes, valores morais etc. O que
não significa imutabilidade, e sim mudança na continuidade, como disse
Edmund Burke (1729-1797): "Um Estado sem meios de mudança não dispõe de
meios para conservar-se".
A
pergunta fundamental do conservadorismo é "como a sociedade é?", não
"como a sociedade deve ser?". E aqui entramos no ceticismo. A ideia é
que somos seres imperfeitos e que nosso intelecto não é capaz de
resolver problemas tão complexos e multifatoriais como os políticos e
sociais: nossa razão se limita a soluções pontuais, não totalizantes.
É
possível criar sociedades perfeitas no mundo das ideias, mas tentar
colocar em prática esse modelo ideal tende à violência e ao
autoritarismo. Não importa se o modelo é baseado no futuro (visão
revolucionária) ou no passado (reacionária), o problema está em confiar
demais no intelecto, desconsiderando práticas já testadas.
Ser
conservador é traço característico da nossa humanidade. Todos temos
receio de grandes mudanças, mudar de cidade, de carreira, se divorciar.
Todos guardamos um brinquedo da infância e mantemos aspectos infantis
que nos ajudam na vida adulta, como a curiosidade e a imaginação. O
problema seria acumular todos os nossos brinquedos e só querer brincar
de passado no presente; ou, por outra, queimá-los e fingir que a criança
que você foi não faz parte do adulto que você é.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
Nenhum comentário:
Postar um comentário