"Melhor um dentista", escreve William Waack no Estadão:
É
grande a preocupação com as escolhas que os candidatos em 2022 fazem de
seus economistas. É uma ciência social capaz de alterar a realidade que
ela estuda, mas essa escolha de nomes diz pouco como será o governo.
Dois
erros são recorrentes quando se tenta “avaliar” o candidato a partir da
escolha de seus economistas. O primeiro é esperar que políticos sigam
os conselhos “técnicos” dos economistas. O segundo é acreditar que a
ciência econômica tenha respostas para os problemas que cabe à política
resolver.
Políticos
tratam de fazer o eleitorado acreditar que é possível ter um bolo e
comê-lo ao mesmo tempo. Tal como a política, porém, a economia é uma
atividade de persuasão, e qualquer plano econômico precisa de
legitimidade política – daí o fato generalizado de economistas se
alinharem a políticos, e não o contrário (Paulo Guedes é apenas o mais
recente exemplo disso).
Na
relação entre economia e política, sempre submetida ao mais curto prazo
eleitoral, economistas tendem a pronunciar baixinho as verdades
inconvenientes e bem alto as certezas das quais não estão tão seguros
assim. Avançou muito o conhecimento empírico em economia, mas continua
fluida a fronteira entre “consenso profissional” e a simples conjectura,
influenciada por crenças políticas.
Economistas
adoram dizer que tudo seria diferente se os políticos fizessem as
reformas necessárias. Para os políticos, se a reforma não é
politicamente viável, então a análise econômica está equivocada. Fora o
fato de que no Brasil conselhos bem fundamentados vindos da academia ou
de consultorias perdem fácil para o poder de pressão de lobbies e a
articulação corporativista.
A
escolha dos economistas diz pouco sobre o que vai ser o próximo governo
sobretudo por conta de uma questão abrangente, impossível de ser
tratada com profundidade na gritaria de rede social. É o fato de que não
há uma resposta certa para qual o limite de atuação entre mercado e
Estado, pois isso depende de mudanças econômicas, tecnológicas e
políticas que se alteram no tempo (basta considerar o papel da
intervenção governamental por conta da pandemia).
Vivemos
num mundo sem fórmula clara sobre como moldar decisões políticas sobre
economia, em meio a enorme mistura de ideias – tanto estatistas quanto
liberais – combinadas ao descontentamento e perda de confiança em
instituições e sistemas políticos.
Vai
depender mesmo é do político e da política. O sempre citado Keynes
recomendava escolher economistas como se escolhe um dentista: alguém
humilde e competente, que conserte erros e se dedique a mudanças
modestas na vida das pessoas.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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