A crônica semanal de Alberto Gonçalves para o Observador:
António Costa.
Como em 2020, fez o que quis: fechou e “libertou” [sic] os cidadãos
quando lhe apeteceu, decidiu qual era a “ciência” em que devíamos
“acreditar”, arruinou uma minoria de cidadãos mediante restrições e
empobreceu a maioria através de impostos, aproximou o país dos padrões
romenos de vida e excelência, prosseguiu o projecto de conquista da
sociedade pelo Estado e de conquista do Estado pelo PS. Em suma,
continuou a abençoar-nos com lucidez. E sem sombra de escrutínio, já que
ninguém ousa arriscar o consenso patriótico ou o emprego. Pelo seu
lado, o renomado democrata não aprecia prestar contas. Também por essa
inclinação de carácter, o dr. Costa cansou-se dos dois partidos
comunistas e, dado que o eleitorado aprecia trela e miséria, achou-se
glorificado pelas massas a ponto de forçar eleições antecipadas. Daqui a
um mês, será julgado nas urnas – o que nesta terra não mudará muito.
Merecia ser julgado em tribunal – o que nesta terra não mudaria nada.
Eduardo Cabrita.
É plausível que o dr. Cabrita integre uma experiência de psicologia
social: apurar até que que grau de iniquidade um povo sem grandes
tradições democráticas tolera um governante. A coisa foi sempre a
crescer. Em 2019, houve a divertida corrupção das golas anti-fumo. Em
2020, o SEF torturou até à morte um desgraçado. Em 2021, o dr. Cabrita
subiu a parada e seguiu ele próprio no carro que atropelou um
trabalhador das auto-estradas, proeza embelezada por calúnias,
manipulações, ocultações e outras sujidades subsequentes. Em Dezembro, o
espécime lá se demitiu. Demorou seis meses.
Gouveia e Melo.
O vice-almirante, entretanto sem prefixo. Começou o ano numa
obscuridade submarina. Convocado a substituir uma sumidade marxista na
vacinação, vestiu camuflado e, tendo dado conta da tarefa, excitou
milhões de pasmados. No fim do Verão, a tarefa acabara. O vice-almirante
não. Obstinadamente avesso à política e à exposição, o homem apresentou
múltiplas ameaças de candidaturas, de ministro a presidente, e não
voltou a sair da frente das câmaras. A ver se sai, recentemente
empurraram-no à bruta na hierarquia. Além das fardas, o
ex-vice-almirante é sobretudo celebrado pela coerência. Proclamou a
vitória sobre um vírus que continua aí. Recusou a vacinação de crianças
que a seguir promoveu. Insultou os “negacionistas” que não “seguem a
ciência” e, consta, mantém relações próximas com a “reflexoterapia” e a
“aromoterapia”. É de exemplos assim que o país carece.
Graça Freitas.
Nos cargos de nomeação da administração pública, o Princípio de Peter
não costuma precisar de promoções para ser aplicado. Quando, conforme
acontece na maioria das vezes, a nomeação provém do PS, é razoável
esperar que o sujeito já seja incompetente ainda antes de começar a
carreira. As organizações estatais estão repletas de criaturas
radicalmente ineptas para a função que desempenham (e, aposte-se,
qualquer função). Em geral, não notamos a respectiva existência, embora a
paguemos do nosso bolso. A dra. Graça Freitas viu-se na extraordinária
situação de ser exposta por circunstâncias extraordinárias: de repente, o
desempenho dela ficou à vista, e tornou-se um espectáculo que dura vai
para dois anos. De início, espantava. A certa altura, passou a irritar.
Agora aquilo só provoca pena, pena sincera.
Marcelo Rebelo de Sousa.
Não sei se alguém se lembra dele. Sorria para “selfies”. Mostrava-se
regularmente em cuecas e a banhos. Permitia que o governo trucidasse
habitualmente a legalidade e a decência a pretexto da Covid e do que
calhava. Dizem que é presidente da República. Não? Não ocorre nada? Bem,
o prof. Marcelo foi reeleito no início do ano e dizia-se que a
“liberdade” do segundo mandato inspiraria enfim uma atitude responsável.
Naturalmente, chega ao final de 2021 com a autoridade e a presença de
um ectoplasma. De tanto legitimar o dr. Costa em tudo, o prof. Marcelo
acabou por legitimar o dr. Costa a dispensá-lo definitivamente. A
dissolução do parlamento e o funeral da “estabilidade” enterraram uma
carreira simpática. Da última vez que o vi, tentava soprar um fósforo
através da máscara. Isto deve conter uma espécie de analogia.
Pedro Nuno Santos.
Ao que consta, é a esperança do PS. Calma, que não terminei: o “Pedro” é
a esperança do PS em ter como chefe um sócio espiritual, e talvez não
só, do Bloco de Esquerda. Se este portento consumar a subida ao poder, a
“bolivarização” do país deixa de ser um efeito secundário da governação
socialista para se transformar num objectivo assumido. Ganha-se em
clareza o que se perde em meios de subsistência.
Rui Rio.
Passou anos a redefinir o papel de líder de oposição: doravante um
sujeito que não se opõe. Ao que tudo indica, prepara-se para redefinir o
papel de candidato a primeiro-ministro: um sujeito que não se opõe e
dedica a campanha a tentar seduzir, em vão, o adversário directo. Apesar
de, ou graças a, tamanhas originalidades, não é impossível que o dr.
Rio ganhe as eleições. Pelos vistos, uma quantidade razoável de
portugueses acha-o diferente do dr. Costa e preferível a este. O dr. Rio
nega.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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