MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

segunda-feira, 9 de agosto de 2021

Debate sobre a urna eletrônica e o voto impresso continua sendo mal colocado

 


Pode ser uma ilustração de texto

Charge do Beto (Arquivo Google)

Pablo Ortellado
O Globo

Durante toda a semana, só se discutiu o voto impresso, em grande medida de maneira equivocada. A proposta foi apresentada com muita frequência como a volta do voto em cédula ou como a possibilidade do voto de cabresto, e isso foi dito por articulistas dos grandes veículos e por políticos sérios.

O voto impresso não é o voto em cédula e também não é um comprovante em papel de em quem você votou: é a impressão do voto eletrônico, depositado automaticamente e sem contato manual numa urna inviolável para que possa ser eventualmente cotejado com os votos da urna eletrônica.

AUDITAGEM – Como cada cidadão ou cidadã vê seu voto lançado na urna, ele ou ela é o fiscal desse depósito. Depois, ao final da votação, como forma complementar de conferência, pode-se contar o número de votos da urna física com o número de votos do boletim da urna eletrônica. Podem-se cotejar também os votos em candidatos no banco de dados da urna com os votos impressos.

A impressão permite uma camada adicional de segurança e verificação extraeletrônica, e é por esse motivo que muitos especialistas em segurança defendem a medida, e alguns países a utilizam.

O problema da PEC do voto impresso é que, sob o disfarce de melhorar a segurança das eleições, quer na verdade gerar desconfiança nas eleições. A medida faz parte do projeto de Bolsonaro de criar tumulto eleitoral, alegar fraude e dar um golpe de Estado.

EXECUÇAÕ IMEDIATA – Em primeiro lugar, a proposta quer a implementação imediata, sem projeto-piloto e implementação gradual. Se Bolsonaro realmente quisesse um sistema de votação mais seguro, ele teria aprovado a medida em 2018 e feito um projeto-piloto nas eleições de 2020 para implementação gradual a partir de 2022. Querer fazer agora, de supetão, apenas gerará problemas generalizados causados por uma implementação apressada.

Em segundo lugar, a proposta quer que a conferência dos votos seja integral, e não por meio de uma amostra aleatória. Como recomenda a estatística, uma amostra pequena sorteada adequadamente representa o universo. Se a conferência demonstrar nessa pequena amostra que não houve fraude, pode-se ter confiança em que não houve fraude relevante no conjunto.

Por fim, a proposta quer que essa conferência seja caótica, acontecendo em todos os lugares do Brasil, com militantes fazendo agitação e causando alvoroço. Também quer substituir a supervisão da Justiça Eleitoral pela supervisão da Polícia Federal, que Bolsonaro pode controlar, porque está subordinada ao Ministério da Justiça.

PROBLEMAS REAIS – Precisamos apontar esses problemas reais, e não distorcer os argumentos. Quando fazemos caricaturas, os cidadãos que apoiam Bolsonaro ficam apenas irritados com a deslealdade e reafirmam sua convicção, não apenas na questão da urna, mas no projeto autoritário bolsonarista.

É preciso lembrar que temos duas missões políticas diferentes. Precisamos proscrever Bolsonaro, mas não devemos proscrever os bolsonaristas. Os cidadãos bolsonaristas precisam ser resgatados para o jogo regular da democracia. Eles são um terço da população brasileira, e não existe democracia ou república sem eles.


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