Artigo de João César de Melo, publicado pelo Instituto Liberal:
Começo com três perguntas:
Se a esquerda afirma que Jair Bolsonaro é um monstro, porque defende a
ditadura militar brasileira que matou 434 pessoas (segundo a Comissão
da Verdade criada por Dilma), como devemos ver as pessoas e os partidos
políticos que celebram a ditadura chinesa que só está de pé porque
assassinou cerca de 10 milhões de pessoas, levou à morte por inanição,
frio ou exaustão mais de 50 milhões e manteve 20 milhões aprisionadas em
campos de trabalho escravo?
Se a esquerda acusa a direita de querer restabelecer uma ditadura
militar no Brasil, como aquela da década de 1970, podemos crer que os
entusiastas da revolução chinesa gostariam que fosse implantado no
Brasil um regime semelhante?
Se a esquerda não admite elogios ao Coronel Ustra, como devemos nos comportar diante de alguém que elogia Mao Tsé-Tung?
Não é paranoia. Não é histeria. Não é radicalismo. É um misto de
estupefação com indignação diante do fato de que grande parte da
esquerda brasileira, principalmente nos meios universitário e cultural,
só tem elogios ao mais sanguinário regime da história humana – ao mesmo
tempo em que dizem que os radicais somos nós, todos à direita deles.
Nos canais da esquerda na internet e nas bibliotecas das
universidades, encontramos centenas de publicações elogiosas ao regime
iniciado em 1949. Quatro anos atrás, o tradicional colégio Pedro II, no
Rio de Janeiro, da rede federal de ensino e então sob controle de
militantes do PSOL, sediou um evento de comemoração à Revolução Cultural
Chinesa. O PCdoB, de Manuela D´Ávila, alinhou-se ao Partido Comunista
Chinês já na década de 1960, no auge da barbárie promovida pelos
maoístas. Até então, os comunistas brasileiros eram alinhados com os
soviéticos, no entanto, ficaram desiludidos por causa do processo de
abrandamento da repressão política, de desativação da maioria dos campos
de trabalho escravo e do fim dos fuzilamentos em massa. Ou seja: para
ter o apoio dos comunistas brasileiros, têm-se que promover o terror.
Todos as pessoas, canais, movimentos e partidos entusiastas da
ditadura mais assassina da história têm uma coisa em comum: militam pela
libertação de Lula.
Amanhã, a revolução comunista na China completa 70 anos. As
celebrações nos canais da esquerda já começaram. Abaixo, faço um breve
resumo de como os comunistas chegaram ao poder naquele país.
A Revolução Chinesa de 1949 foi semeada trinta anos antes, sob
influência da Revolução Russa. Por meio de guerrilhas e de grupos de
agitadores profissionais, os comunistas chineses combateram as forças
nacionalistas que haviam chegado ao poder em 1911, depondo a dinastia
Qing, representada pelo imperador Pu Yi. Ao longo de três décadas, foram
conquistando territórios e instalando neles regimes de governo ainda
mais opressores do que os que estavam substituindo. Territórios que
chegaram a ser unificados sob o nome de República Soviética da China.
O detalhe bizarro é que os comunistas chineses, durante aquele
período, romperam com Moscou, o que levou os comunistas soviéticos a se
aliarem ao líder nacionalista (em tese, líder da direita chinesa) para
combater os aliados de outrora. Ou seja: comunistas perseguindo
comunistas.
Em 1931, o Japão invade a Manchúria e instaura o “estado fantoche”
sob a imagem alegórica do imperador Pu Yi. Comunistas e nacionalistas,
juntos, passam a combater os japoneses.
Com a derrota japonesa na 2° Guerra Mundial, os Estados Unidos tentam
intermediar um acordo de paz entre comunistas e nacionalistas a fim de
manter a unidade do país. Porém, os comunistas não aceitam, iniciando os
confrontos que se generalizariam como a conhecida 2° Guerra Civil
Chinesa, com os nacionalistas ainda sendo apoiados pelos comunistas
soviéticos. Avançando a partir do campo, os comunistas liderados por Mao
Tsé-Tung vencem os nacionalistas, cujas lideranças se refugiaram na
ilha de Taiwan. Em 1° de outubro de 1949, é fundada a República Popular
da China.
Esse brevíssimo resumo nos serve para mostrar duas coisas:
Os comunistas mentem quando se apresentam como agentes de uma
ideologia contra outra, ou, simplesmente, como o “bem” combatendo o
“mal”. Quando precisam, aliam-se a inimigos de outrora e perseguem
outros comunistas sem qualquer pudor. Portanto, não se sustenta a
afirmação de que a esquerda como um todo combate nacionalistas,
fascistas, nazistas, liberais e conservadores por causa das ideias que
eles defendem. A luta de classe, o combate ao “grande capital
financeiro”, a busca pela paz e pela justiça social… Tudo isso não passa
de papo furado. Comunismo é apenas a ideologia do poder pelo poder,
destruir sociedades livres para colocar no lugar delas uma massa
homogênea e passiva de escravos. Se sobrarem apenas dois seres humanos
no planeta e eles forem dois comunistas, tenham certeza de que um irá
tentar escravizar o outro.
O segundo ponto a ser observado é a completa falta de compaixão com o
sofrimento humano. O movimento comunista surgiu numa China miserável,
marcada pela opressão de um governo nacionalista. Tentaram derrubá-lo
promovendo seu próprio regime de terror. Entre 1927 e 1931, estima-se
que os comunistas assassinaram 186 mil pessoas fora de situação de
combate. Ou seja, quase 200 mil cidadãos comuns foram executados, a
maioria por simplesmente reagir à coletivização imposta nos territórios
ocupados. Além desses, dois milhões de chineses morreram de fome devido
aos confiscos das colheitas. Diante da ocupação japonesa, continuaram
fazendo a mesma coisa. Então, quando finalmente obtiveram o controle
completo do país, depois de décadas de luta, sangue e sofrimento de toda
uma população, o que os comunistas ofereceram aos chineses?
Vou lhes contar. Respirem fundo.
Nos primeiros anos da revolução, o aparato de repressão comunista
contava com 5,5 milhões de milicianos, 3,8 milhões de ativistas e 1,2
milhão de agentes da polícia política. Esse exército agia com extrema
violência nas cidades contra grevistas e estudantes, e nas zonas rurais
contra os agricultores e comerciantes que se negavam a ceder suas
propriedades, negócios e produção para o regime.
Agia também na forma de patrulha constante da vida privada,
identificando e prendendo os “inimigos do povo” – quaisquer pessoas que
não pertenciam aos quadros do partido ou do governo, pequenos
empresários, cidadãos acusados de terem sido simpatizantes dos
nacionalistas e questionadores em geral. Antes de serem presos, eles
eram submetidos a um longo processo de humilhação pública. Colegas de
trabalho, vizinhos, amigos e até familiares eram obrigados a participar
de sessões de xingamentos e agressões. As pessoas que recusavam a
participar desses linchamentos eram identificadas como cúmplices. Todos
os dias, cada “inimigo do povo” tinha de confessar suas ideias
reacionárias, seus crimes contra a revolução.
Esse clima de terror forçava todas as pessoas a se comportarem
metodicamente como apoiadores do regime. Qualquer comportamento mais
comedido de um cidadão era identificado como sinal de que ele era um
potencial conspirador. Delatar os outros era uma forma de evitar ser
delatado.
Depois de passar por esse processo, os “inimigos do povo” eram
levados para prisões e campos de trabalho forçado, onde ficavam, na
maioria das vezes, anos, décadas sob condições terríveis. Em certas
prisões, a mortalidade chegava a 5% ao mês. As celas eram
invariavelmente superlotadas, expostas ao frio e sem condições
sanitárias. Os presos eram alimentados com o mínimo para que não
morressem de fome, afinal, eles precisavam trabalhar para o regime. Além
de tudo isso, ainda eram submetidos a constante tortura psicológica e
processos de lavagem cerebral.
Os comunistas utilizavam-se também de criminosos comuns como agentes
de limpeza social por meio de assaltos, sequestros, pilhagens, estupros e
assassinatos. Uma vez esgotados os recursos e as vítimas, as forças do
governo voltam-se contra esses criminosos e outros cidadãos acusados de o
serem, executando-os em massa. Estima-se que foram dois milhões de
execuções entre 1949 e 1952.
Um método comum de assassinato em massa era enterrar as vítimas
vivas. Cerca de dois mil homens que se amotinaram num dos campos de
trabalho foram mortos dessa maneira, de uma única vez.
A notícia da opressão do regime chegou ao ocidente. Os comunistas,
então, lançaram mão de seu característico cinismo: “a China não é um
modelo de democracia, mas Mao conseguiu dar uma tigela de arroz para
cada chinês”, era uma frase constantemente repetida pela esquerda em
diversos países, algo muito semelhante ao que escutamos no Brasil,
quando lembramos os petistas da corrupção de Lula − “mas graças a ele,
milhões de brasileiros saíram da miséria”, e até que… “graças a Lula, o
pobre viaja de avião”.
Falácias lá. Falácias aqui.
Em paralelo à repressão, Mao Tsé-Tung anunciava o início do “Grande
Salto” de produtividade da agricultura chinesa. “Três anos de esforços e
privações, para cem anos de felicidade”, era o lema. Para tanto,
realizou gigantescas obras de irrigação e implementou um revolucionário
método de cultivo de cereais: juntar de cinco a dez vezes mais sementes
em cada buraco.
Logo na primeira colheita, foram contabilizados recordes de produção.
Nas colheitas seguintes também. No entanto, ninguém via com seus
próprios olhos os produtos desse sucesso. Os anos foram passando e a
ração que chegava ao povo era cada vez mais rala.
Mao logo encontrou uma explicação: os camponeses estavam roubando a
produção, escondendo milhões de toneladas de cereais. Para acabar com
isso, foi intensificada a repressão nas zonas rurais e as colheitas
passaram a ser inteiramente confiscadas.
O que estava acontecendo, na verdade, era a queda na produtividade
devido aos novos e desastrosos métodos de agricultura e irrigação.
Lavouras inteiras foram perdidas. Rios secaram. Porém, essas informações
não chegavam ao governo central, porque os responsáveis pela
fiscalização das safras temiam ser acusados de sabotagem, caso
registrassem os números reais. Preferiram, então, fraudá-los. Fraudaram
uma, duas, três safras… Até que a mentira desmoronou.
A fome decorrente disso só pode ser comparada àquela que os
soviéticos impuseram aos ucranianos. Milhões de pessoas morreram. Essa
notícia também chegou ao Ocidente. Os Estados Unidos ofereceram ajuda.
Os comunistas chineses − assim como os soviéticos, vinte anos antes −
recusaram.
A fome chegou a provocar o canibalismo entre familiares. Em certas
vilas, pais se reuniam para trocar uns com os outros seus filhos
pequenos. Dessa forma, se alimentavam dos filhos dos outros, não dos
deles próprios.
O desastre do Grande Salto de Mao fez a produção chinesa cair 25%
logo nos primeiros anos de implantação. Apenas em 1983 a China alcançou
os números de quando os comunistas tomaram completamente o país.
A conhecida Revolução Cultural, uma tragédia dentro de outra, também é
um assombro de crueldade. A cultura vista como burguesa deveria ser
substituída pela cultura revolucionária, o que exigia que as referências
e os agentes daquela cultura fossem destruídos. Como fizeram Lenin e
Hitler, Mao promoveu uma imensa queima de livros e ainda uma perseguição
sem igual até então a professores e intelectuais. Adolescentes e jovens
foram elevados à condição de inquisidores, com poder de perseguir,
humilhar, agredir, torturar e matar seus professores “burgueses”.
Calcula-se em 10 mil o número de professores e intelectuais mortos
apenas em 1978 – um ano antes da anistia promovida pela “terrível”
ditadura militar brasileira que, vale lembrar, matou 434 pessoas (a
grande maioria sendo membros de guerrilhas) em 20 anos.
Os que sobreviveram à fúria dos estudantes foram levados para campos
de trabalho forçado nas zonas rurais, onde muitos terminaram suas vidas.
A repressão chinesa só começou a diminuir no começo da década de
1980, o que não quer dizer que o país estava se tornando uma democracia
livre. Em 1983, mais de 10 mil prisioneiros foram executados, muitas
deles, em caráter “pedagógico”, o que significava execuções em praças
públicas.
Enquanto oprimiam e matavam seu próprio povo, os comunistas chineses
resolveram invadir e dominar o Tibet. Lá estão até hoje sem terem sido
contestados por ninguém no ocidente que, por exemplo, gritou contra a
invasão americana do Iraque ou do Afeganistão.
A invasão chinesa do Tibet teve sua própria história de terror. O
culto budista foi proibido. Imagens de Buda foram substituídas por
retratos de Mao. Dos 6.259 tempos e altares do país, apenas 13 não foram
destruídos. O mosteiro de Chode Gaden Phedeling, em Batang, foi
pulverizado por um bombardeio aéreo. Pelo menos dois mil monges e
peregrinos morreram. Uma única fundição de Pequim recebeu 600 toneladas
de esculturas religiosas que haviam sido retiradas de templos budistas
no Tibet. A vestimenta e até o corte de cabelo tradicionais dos
tibetanos foram proibidos. Comunidades inteiras de agricultores foram
remanejadas para outros lugares, em comunas militarmente organizadas.
Segundo o governo tibetano no exílio, foram 1.2 milhão de pessoas mortas, o que equivale a ¼ da população à época.
O total de mortes provocadas pelo regime que a esquerda brasileira
tanto respeita é de 65 milhões, sem contar as milhões de vítimas de
terror semelhante na Coreia, no Vietnan e no Camboja, todos
influenciados de alguma maneira pelos comunistas chineses.
A conclusão é que o atual regime só está de pé por causa da
imensurável repressão que impuseram por décadas à população. Permitiram,
a partir da década de 1980, a propriedade privada, a busca pelo lucro e
a competição comercial porque viram que apenas isso – capitalismo –
gera desenvolvimento econômico e social. A má notícia é que o
desenvolvimento econômico da China foi utilizado para fortalecer o
regime, que agora se projeta como a segunda mais poderosa potência do
mundo. Por conta disso, a China vem avançando sobre outros países
comprando terras e grandes empresas, além de estar ocupando
ilegitimamente toda a região conhecida como o Mar da China,
desrespeitando territórios marítimos de países vizinhos. Além disso, é o
principal financiador da ditadura na Coreia do Norte, constantemente
ameaça invadir a ilha de Taiwan e nesse exato momento está reprimindo
violentamente manifestantes em Hong Kong. Política e culturalmente, a
China continua uma ditadura. Muitas liberdades individuais ainda são
reprimidas. Não existe liberdade de imprensa. Em pleno século 21,
adeptos do cristianismo e de outras religiões continuam sendo
perseguidos pelo regime que será celebrado pela esquerda brasileira
durante essa semana.
A história mais detalhada do terror comunista na China pode ser
encontrada entre as páginas 539 e 649 no Livro Negro do Comunismo, no
capítulo escrito por Jean-Louis Morgalin, pesquisador do Centro Nacional
de Pesquisa Científica Francês.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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