O PS não é um partido de
esquerda nem de direita; é simplesmente um partido para estar no Estado
e para usá-lo em seu benefício. No PS já não há ideologia nem
doutrinas. Há spin doctors e boys e girls. Artigo de João Marques de
Almeida, publicado pelo Observador:
O que dizer de um
partido que acaba de formar um governo com 19 ministros e 50 secretários
de Estado? Juntem agora os assessores e os adjuntos e teremos um
governo com cerca de 500 membros. Isto não é um governo para melhorar o
país. É um governo para se apropriar dos recursos do Estado e para
controlar o país e os portugueses. Um partido com menos de dois milhões
de votos tem poder para controlar, no essencial, a vida dos dez milhões
de portugueses. Pode surpreender muita gente, mas António Costa recebeu
menos votos dos portugueses do que Passos Coelho em 2015. Este é o
retrato da degradação da nossa democracia, da apatia dos portugueses e
do fim do ‘sonho’ de um ‘Portugal europeu’: um país próspero, uma
sociedade civil forte e um Estado limitado (ainda se lembram das
ambições nos anos de 1980 quando entrámos para a Comunidade Europeia?)
O PS não é um partido
de esquerda, nem de direita; é simplesmente um partido para estar no
Estado e para usá-lo em seu benefício. No PS já não há ideologia nem
doutrinas. Há spin doctors e boys (e girls) a lutar por jobs. Quando
falo da conquista do Estado pelos socialistas não estou a pensar nos
funcionários públicos que servem o Estado por escolha profissional. Já
conheci muitos funcionários públicos portugueses altamente competentes e
dedicados ao país que servem. Tenho uma grande admiração por esses
profissionais. O que me custa muito é ver a partidarização do Estado e,
através disso, o controlo de grande parte dos recursos do país. O
resultado dessa partidarização é a estagnação do país e o empobrecimento
dos portugueses. Em termos europeus, Portugal é hoje mais pobre do que
era no final do século passado. Ou seja, aumentou o número de países
europeus mais ricos do que Portugal, e diminuiu o número de país
europeus mais pobres do que Portugal. O socialismo levou-nos para a
cauda da Europa.
A União Europeia
ajuda de certo modo a estratégia do PS. Infelizmente, Bruxelas ajuda
mais o reforço do poder do Estado do que a emancipação e a liberdade da
sociedade civil. Por isso, a discussão das perspectivas financeiras para
o período de 2021 a 2028 é a questão europeia mais importante para o
governo. Os recursos financeiros dos orçamentos europeus são
fundamentais para quem controla o Estado. Se esses recursos diminuírem, o
poder do PS enfraquece. Por isso, nenhum governo socialista entrará em
guerra aberta com a UE. Foi isso que o BE e o PCP aprenderam durante os
anos da geringonça.
Se o PS é neste
momento o partido-Estado, a ambição do PSD de Rui Rio é tornar-se também
um partido-Estado. Idealmente, chegando ao governo, quando uma crise
afastar os socialistas. Ou, segunda escolha, usar a regionalização para
aproveitar os recursos de algumas das futuras regiões. A discussão de
Rio entre direita e centro (de uma pobreza arrepiante de resto) não tem
nada de ideológico. O centro para Rio significa manter o PSD na reserva
para ser também um partido-Estado.
Há ainda muitos
portugueses que seguramente querem levar uma vida profissional inteira
sem contar com ajudas do Estado para nada (ou a isso são obrigados).
Estou a pensar nas profissões liberais, nos pequenos comerciantes, nas
milhares de pequenas e medias empresas. Ou seja, os milhões de
portugueses que contam com o seu trabalho, com o seu esforço, com as
suas competências para progredir e melhorar o seu nível de vida. Quem os
representa? Quem os defende? Quem procura adoptar as políticas certas
para os ajudar a prosperar? O PS não é. E o PSD de Rio, ao contrário da
tradição do partido, também não é. Neste momento, a sociedade civil e a
iniciativa privada portuguesas estão politicamente órfãs. Quem diria
mais de 45 anos depois do 25 de Abril e mais de três décadas depois da
adesão europeia? Eis o maior fracasso da democracia portuguesa.
BÇOG ORLANDO TAMBOSI

Nenhum comentário:
Postar um comentário