Médicos brasileiros aplicam tratamento inovador que faz desaparecer células de linfoma
11/10/2019 às 16:17 JORNAL DA CIDADE ONLINE
Pela
primeira vez na América Latina, médicos da Universidade de São Paulo
(USP) realizaram com sucesso um tratamento com o uso de células T
alteradas em laboratório para combater células cancerígenas de linfoma.
Chamado de terapia celular CAR-T, o procedimento já é adotado nos
Estados Unidos como “último recurso” para tratar linfomas e leucemias
avançadas.
O tratamento, realizado no Hospital das Clínicas da
Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, no interior paulista, foi
aplicado, no início de setembro, o aposentado Vamberto Castro de 62
anos, com linfoma em estado grave e sem resposta a tratamentos
convencionais para a doença.
“O
paciente tinha um câncer em um estágio terminal, já tinha sido
submetido a quatro tipos diferentes de tratamento, sem resposta. Estava
no que nós chamamos tratamento compassivo, que é tratamento sintomático,
esperando o desencadear normal, que é o óbito. Estava na fila dos sem
possibilidade de tratamento”, lembra o médico Dimas Tadeu Covas,
coordenador do Centro de Terapia Celular (CTC) da Faculdade de Medicina
de Ribeirão Preto, da USP.
Cerca de 20 dias após o início do
tratamento, a resposta de saúde do paciente foi promissora: os exames
passaram a mostrar que as células cancerígenas desapareceram. “Ele teve
essa resposta quase milagrosa. Em um mês, a doença desapareceu. Para
essa situação, existem experiências americanas [que mostram] que o
índice é superior a 80% de cura. Pacientes que estavam condenados, como
esse do nosso caso, têm 80% de chance de cura com uma única aplicação
desse tratamento”, destaca o médico.
“Daí a sua característica
revolucionária. As pessoas não acreditam na resposta tão rápida em um
curto espaço de tempo”, acrescenta Covas. O paciente, que deve ter alta
no próximo sábado (12), será acompanhado por uma equipe médica, por pelo
menos 10 anos, para que se saiba a efetividade do procedimento.
Vamberto Castro recebe tratamento de médicos da USP que fez desaparecer células de linfoma - Divulgação/USP
Terapia celular CAR-T
O
linfoma combatido com o novo tratamento é um tipo de câncer que afeta o
sistema imunológico. O paciente sofria de uma forma avançada de linfoma
de células B, que não havia respondido a nenhum dos tratamentos de
quimioterapia e radioterapia indicados para o caso. O prognóstico era de
menos de um ano de vida.
Diante da falta de resultado das
terapias convencionais disponíveis, o doente foi autorizado a se
submeter ao tratamento com as chamadas células CAR-T, ainda em fase de
pesquisa. A aplicação do novo procedimento foi coordenado pelo médico
hematologista Renato Cunha, pesquisador associado do Centro de Terapia
Celular da USP, que conta com apoio pela Fundação de Amparo à Pesquisa
do Estado de São Paulo (Fapesp).
A forma de terapia celular usada
em Ribeirão Preto é a CAR-T, na qual as células T do paciente (um tipo
de célula do sistema imunológico) são alteradas em laboratório para
reconhecer e atacar as células cancerígenas ou tumorais. O termo CAR
refere-se a um receptor de antígeno quimérico (chimeric antigen receptor, em inglês).
“A
terapia consiste em modificar geneticamente células T para torná-las
mais eficazes no combate ao câncer. Esta forma de terapia celular é
justamente indicada para aqueles casos que não respondem a nenhuma outra
forma de tratamento,” explica Cunha.
Depois que as células T do
paciente foram coletadas e geneticamente modificadas, a equipe de Cunha
as reinjetou na corrente sanguínea, num procedimento chamado infusão.
“Feito isto, as células T modificadas passaram a se multiplicar aos
milhões no organismo do paciente, fazendo com que o sistema imune deste
passasse a identificar as células tumorais do linfoma como inimigos a
serem atacados e destruídos.”
De acordo com o hematologista, os
resultados da terapia celular para o tratamento das formas mais
agressivas de câncer são tão espetaculares, que seu desenvolvimento
rendeu o Prêmio Nobel de Medicina de 2018. Os premiados foram os dois
pioneiros da terapia celular, o norte-americano James Allison e o
japonês Tasuku Honjo.
Fonte: Agência EBC
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