A
bala seria de metal; a flecha, de bambu. Ambas pertenciam a Rodrigo
Janot, ex-procurador chefe da Procureadoria Geral da República-PGR. A
bala não existe mais. A flecha veio com um arco, entregue pela
procuradora Lívia Tinoco, de Sergipe, a pedido de um grupo indígena do
estado. Na ocasião (encontro que reuniu alguns procuradores para um
balanço dos quatro anos de Janot à frente da PGR), a imprensa deu um
enorme destaque. Janot foi capa de importantes revistas.
O apetrecho indígena simbolizava as bravatas do então procurador geral quando, pomposo ao apontar os corruptos descobertos pela Lava Jato, bradou que “enquanto houver bambu, lá vai flecha”. Logo depois se aposentou, não sem ser contraditado e atacado, tanto pelos deslizes praticados durante sua gestão, quanto pela escandalosa exposição perante a mídia. Janot, que se apresentava como o símbolo da moralidade pública, acabou acusado de manter relações pouco ortodoxas com os sócios da JBS.
Agora a bravata aparece ligada a uma esdrúxula tentativa de assassinar um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), justamente Gilmar Mendes, o mais criticado membro de nossa Suprema Corte. Segundo Janot, quando entrou no plenário da Corte, “ele já estava lá. Não pensei duas vezes. Tirei a minha pistola da cintura, engatilhei, mantive-a encostada à perna e fui para cima dele. Mas algo estranho aconteceu. Quando procurei o gatilho, meu dedo indicador ficou paralisado. Eu sou destro. Mudei de mão. Tentei posicionar a pistola na mão esquerda, mas meu dedo paralisou de novo. Nesse momento, eu estava a menos de dois metros dele. Não erro um tiro dessa distância. Pensei: “Isso é um sinal”. Acho que ele nem percebeu que esteve perto da morte”.
Uma declaração desse tipo era tudo que Gilmar queria para continuar criticando a atuação dos procuradores nas investigações da Lava jato. Ao tomar conhecimento do fato, afirmou que lamentava que boa parte do “devido processo legal no País” tenha ficado “refém de quem confessa ter impulsos homicidas”. Em nota crítica à atuação do ex-procurador, recomendou que ele procurasse ajuda psiquiátrica para acalmar seu ódio, e que o combate à corrupção no Brasil se tornou refém de fanáticos.
Mais tarde, em entrevista após evento em Brasília, Gilmar disse que não imaginava que houvesse um "potencial facínora" no comando da PGR, e que, “dadas as palavras de um ex-procurador-geral da República, nada mais me resta além de lamentar o fato de que, por um bom tempo, uma parte do devido processo legal no País ficou refém de quem confessa ter impulsos homicidas, destacando que a eventual intenção suicida, no caso, buscava apenas o livramento da pena que adviria do gesto tresloucado. Até o ato contra si mesmo seria motivado por oportunismo e covardia”.
Por
ironia do destino, ambos eram amigos. Entraram juntos no Ministério
Público Federal e foram para a Europa estudar e tomar cerveja. São
também muito parecidos, pois jamais souberam controlar a língua.
Ambroise Bierce, a respeito da loquacidade, afirmou tratar-se de uma
desordem que torna o paciente incapaz de frear a língua quando deseja
falar. Quanto à intenção de matar, Disraeli nos ensina que o assassinato
nunca mudou a história do mundo.
O apetrecho indígena simbolizava as bravatas do então procurador geral quando, pomposo ao apontar os corruptos descobertos pela Lava Jato, bradou que “enquanto houver bambu, lá vai flecha”. Logo depois se aposentou, não sem ser contraditado e atacado, tanto pelos deslizes praticados durante sua gestão, quanto pela escandalosa exposição perante a mídia. Janot, que se apresentava como o símbolo da moralidade pública, acabou acusado de manter relações pouco ortodoxas com os sócios da JBS.
Agora a bravata aparece ligada a uma esdrúxula tentativa de assassinar um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), justamente Gilmar Mendes, o mais criticado membro de nossa Suprema Corte. Segundo Janot, quando entrou no plenário da Corte, “ele já estava lá. Não pensei duas vezes. Tirei a minha pistola da cintura, engatilhei, mantive-a encostada à perna e fui para cima dele. Mas algo estranho aconteceu. Quando procurei o gatilho, meu dedo indicador ficou paralisado. Eu sou destro. Mudei de mão. Tentei posicionar a pistola na mão esquerda, mas meu dedo paralisou de novo. Nesse momento, eu estava a menos de dois metros dele. Não erro um tiro dessa distância. Pensei: “Isso é um sinal”. Acho que ele nem percebeu que esteve perto da morte”.
Uma declaração desse tipo era tudo que Gilmar queria para continuar criticando a atuação dos procuradores nas investigações da Lava jato. Ao tomar conhecimento do fato, afirmou que lamentava que boa parte do “devido processo legal no País” tenha ficado “refém de quem confessa ter impulsos homicidas”. Em nota crítica à atuação do ex-procurador, recomendou que ele procurasse ajuda psiquiátrica para acalmar seu ódio, e que o combate à corrupção no Brasil se tornou refém de fanáticos.
Mais tarde, em entrevista após evento em Brasília, Gilmar disse que não imaginava que houvesse um "potencial facínora" no comando da PGR, e que, “dadas as palavras de um ex-procurador-geral da República, nada mais me resta além de lamentar o fato de que, por um bom tempo, uma parte do devido processo legal no País ficou refém de quem confessa ter impulsos homicidas, destacando que a eventual intenção suicida, no caso, buscava apenas o livramento da pena que adviria do gesto tresloucado. Até o ato contra si mesmo seria motivado por oportunismo e covardia”.
Luiz Holanda
Advogado e professor universitário
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