Em artigo publicado pelo Instituto Mises, Antony Sammeroff explica, para começar, que ser um trabalhador é menos arriscado do que ser um capitalista:
"Para mostrar que algo é uma meia-verdade, temos de recorrer a longas e áridas dissertações"
— Frédéric Bastiat
Ainda é
bastante dominante a idéia de que patrões estão, de alguma forma,
explorando os empregados que trabalham para eles quando sua empresa
aufere um lucro.
Curiosamente,
logo de início já se ignora o fato de que o patrão está claramente
fazendo mais pelas finanças dos empregados do que todas as outras
pessoas que criticam o arranjo mas que não estão dando emprego a ninguém
— postura essa muito comum entre aqueles "guerreiros sociais da
internet", que afirmam que dar emprego a alguém significa explorá-lo.
É
verdade que trabalhadores recebem como salário menos que o valor total
daquilo que eles produzem, mas é assim porque aquilo que eles produzem
foi:
a) feito com recursos que tiveram de ser comprados pelos patrões capitalistas,
b) em
uma fábrica, indústria ou local de trabalho que teve um custo para ser
construído e que requer várias despesas para ser operado;
c) e com
o capitalista sendo também responsável por bancar os custos de
anunciar, propagandear e comercializar o produto fabricado, com o
intuito de conectar o produto aos consumidores potenciais.
E, no final,
d) se o
produto não vender, todos aqueles que trabalharam em sua fabricação já
foram pagos, exceto o capitalista, que arca com os prejuízos.
Em
termos práticos, houve uma volumosa quantia de dinheiro investido
naquela fábrica ou local de trabalho, dinheiro este que não será
recuperado tão cedo. Todos os gastos investidos na construção do local
de trabalho, na compra de bens de capital, e na contratação de
mão-de-obra ainda não foram recuperados pelo capitalista.
Uma
empresa que investe, suponhamos, $10 bilhões — na construção da fábrica,
comprando maquinários e pagando os salários dos trabalhadores — com o
intuito de recuperar, na forma de fluxo de caixa anual, aproximadamente
$1 bilhão (10% de retorno), terá de esperar 10 anos apenas para
recuperar todo o capital adiantado (fora a inflação do período).
Neste
caso, o capitalista se endividou em $10 bilhões (ou, caso seja capital
próprio, ele abriu mão deste valor e seu equivalente em bens de consumo
que ele poderia ter adquirido no presente) para receber, anualmente, uma
receita de $1 bilhão.
Ele age
assim porque acredita que será capaz de atender aos desejos e
necessidades das pessoas (consumidores) de uma maneira melhor do que
elas estão sendo atendidas no presente. Tal atitude requer uma
habilidade e uma competência que, por si sós, representam uma
contribuição trabalhista acima daquela dos empregados. Estas
características são exclusivas de um empreendedor.
Se sua visão estiver correta, ele auferirá lucros futuros. Se estiver errado, ele irá arcar com prejuízos.
Vale
ressaltar que, ao agir assim, ou seja, se endividando ou colocando seu
próprio capital em risco, ele está incorrendo em um risco que pode ser
considerado desnecessário. Afinal, não fosse a busca pelo lucro, o rico
capitalista poderia simplesmente comprar uma casa maior ou sair em um
cruzeiro. No entanto, o capitalista assume um risco agora, e abre mão do consumo presente, na esperança de que irá obter um benefício no futuro. Isso é uma parte da sua remuneração.
Outra
parte da sua remuneração é o tempo entre o investimento feito e as
receitas trazidas por esse investimento. Tudo o mais constante, se
tivermos de escolher entre ter recursos agora, no presente imediato, ou
apenas a hipótese de ter esses mesmos recursos apenas no futuro, é claro
que ficamos com a primeira opção, pois o futuro é incerto. É por isso
que emprestadores de dinheiro (capitalistas) cobram juros no dinheiro
que emprestam: eles estão abrindo mão da certeza do consumo presente
pela hipótese de um consumo maior no futuro. Não há certeza nenhuma;
apenas expectativas.
Já os
trabalhadores recebem seus salários hoje, independentemente de como
serão os lucros futuros dos capitalistas (com efeito, eles são pagos
hoje mesmo se não houver lucros futuros).
Ou seja, os trabalhadores são pagos hoje, já o capitalista será remunerado:
a) apenas no futuro,
b) apenas se o produto fabricado for vendido, e
c)
apenas se ele for vendido com lucro — isto é, se for vendido a um preço
maior do que os custos de fabricação, o que inclui os salários dos
trabalhadores.
O economista austríaco Eugen von Böhm-Bawerk
explicou que, ao contrário de explorar os trabalhadores, o capitalista
remove dos trabalhadores o fardo de ter de esperar pela renda. Se os
trabalhadores quisessem produzir bens por conta própria, eles teriam de
esperar até encontrar um comprador que lhes garantisse um salário
estável.
Mais
ainda: eles primeiro teriam de poupar (ou então se endividar) para
acumular os recursos necessários para comprar uma fábrica ou construir
um local de trabalho sem a ajuda do capitalista.
O capital aumenta o valor do trabalho
Vale também mencionar que o capitalista aumenta o valor da mão-de-obra do trabalhador.
Se um
indivíduo decidir tentar fazer no campo o mesmo trabalho que faria em
uma fábrica especializada, ele dificilmente terá um produto com a mesma
qualidade. Certamente, não terá uma produção com o mesmo volume, o que
significa que suas receitas seriam muito baixas.
O
capitalista, portanto, aumenta o valor da mão-de-obra ao fornecer ao
trabalhador as máquinas e ferramentas que aumentam a qualidade do
produto e a quantidade produzida. Não fosse o capital disponibilizado
pelos capitalistas (maquinário, ferramentas, matéria prima, insumos,
instalações etc.), a mão-de-obra não teria como produzir estes bens de
qualidade altamente demandados pelos consumidores. Consequentemente, os
trabalhadores nem sequer teriam renda.
Logo, a
conclusão óbvia é que trabalhadores claramente podem ganhar mais
trabalhando para capitalistas do que por conta própria — caso contrário,
todos os trabalhadores iriam simplesmente se declarar autônomos e daí
passariam a ter uma renda maior.
Talvez
alguns deles poderiam ganhar mais ao se tornarem autônomos, mas não
querem assumir as responsabilidades concomitantes, as quais são
atualmente arcadas pelo capitalista que os emprega. Isso também é
evidência de que os capitalistas estão acrescentando valor ao trabalho
dos trabalhadores.
Mais-valia
Os
marxistas afirmam que os capitalistas exploram os trabalhadores ao
simplesmente extraírem seus lucros dos salários dos trabalhadores sem
estarem fornecendo nenhum valor ao processo produtivo — ou seja, os
capitalistas estariam "extraindo uma mais-valia" dos trabalhadores.
Além de
esta idéia ser infundada, como mostrado acima, vale também dizer que, se
ela fosse verdade, organizações sem fins lucrativos rapidamente
entrariam em cena, contratariam todos os trabalhadores, eliminariam o
"peso morto" de se remunerar o capitalista e quebrariam todas as
empresas voltadas para o lucro.
Mas isso
não acontece simplesmente porque elas não conseguem. Os capitalistas
estão claramente fornecendo alguma competência ou visão que beneficia
seus empregados. Cada lado se beneficia desta transação mútua, o que é
evidenciado pelo fato de que se o trabalhador pudesse conseguir um
arranjo melhor, ele rapidamente o arrumaria, e se o empregador pudesse
arranjar empregados melhores, ele os contrataria.
Em
última instância, os salários não são um número arbitrário, mas sim um
reflexo de quanto valor um empregado é capaz de criar para os
consumidores do seu trabalho (no caso, os consumidores são o capitalista
que paga por sua mão-de-obra, e os clientes que pagam pelo produto
produzido).
Se um
indivíduo quer abrir mão de ter um patrão e ficar com 100% das receitas
de seu trabalho, ele pode perfeitamente fazê-lo: basta aprender uma
habilidade, desenvolvê-la, acumular capital (ou se endividar), comprar
equipamentos, alugar um local de trabalho, tornar-se autônomo e
encontrar clientes que valorizem seu trabalho ao ponto de lhes
providenciarem uma renda fixa mensal.
Mas aí ele próprio teria de se tornar um empreendedor capitalista.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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