Ao contrário do que pensa o senso comum, no capitalismo moderno a
concorrência não é predatória. Nele, as empresas competem pela
oportunidade de colaborar. Entrevista do professor Paul Rubin à Gazeta do Povo:
A livre concorrência é parte fundamental do livre mercado, mas
resumi-la a isso é uma simplificação perigosa. Para o professor de
Economia da Emory University e pesquisador no The Independent Institute,
Paul Rubin, essa definição é equivocada: o capitalismo existe porque os
seres humanos desenvolveram organicamente um sistema elaborado, baseado
na confiança e na colaboração, que permite que consumidores,
produtores, distribuidores, financiadores e o restante dos participantes
do sistema capitalista prosperem.
Seu livro “The Capitalism Paradox: How Cooperation Enables Free
Market Competition” [“O paradoxo capitalista: como a cooperação habilita
a concorrência no livre mercado] aponta como o livre mercado existe e
prospera com base em um sistema de colaboração - derrubando o senso
comum que afirma se tratar de um sistema de concorrência desenfreada.
“A competição é importante porque escolhe os melhores colaboradores,
mas a colaboração é o motor do livre mercado”, afirma Rubin. Em
entrevista à Gazeta do Povo, Rubin explica a base colaborativa do
capitalismo e aponta os principais erros dos sistemas socialistas.
Confira:
Em seu livro você descreve o conceito de capitalismo colaborativo. Como o capitalismo é colaborativo e não predatório?
Toda transação de mercado envolve colaboração entre milhões de
indivíduos, direta e indiretamente. Essa rede gigantesca de produção e
consumo ocorre impessoalmente, mas colaborativamente, sem nenhuma
coordenação consciente. Além disso, todas as transações de mercado são
colaborativas (cooperativas), pois ambas as partes devem concordar e,
portanto, devem esperar obter ganhos.
O capitalismo é um sistema complexo de trocas de mercado, envolvendo
muitas pessoas e entidades, mas todas essas trocas e transações são
colaborativas, pois todas se baseiam em trocas voluntárias.
Como surgiu o capitalismo como conhecemos hoje? O capitalismo “colaborou” em suas origens?
O capitalismo evoluiu à medida que o sistema jurídico começou a
permitir trocas cada vez mais voluntárias. Uma doutrina importante foi a
criação de “responsabilidade limitada”, o que significa que os
investidores em empresas são responsáveis apenas pelo valor investido.
Muitas doutrinas relacionadas estão envolvidas na criação do
capitalismo moderno.
O livre mercado não é um sistema baseado em concorrência? Como a colaboração funciona neste sistema?
Na verdade, a maioria das relações econômicas é cooperativa e não
competitiva. Em um sistema de livre mercado, entidades (empresas,
indivíduos) competem pelo direito de colaborar. As empresas competem
pelo direito de colaborar com os clientes. Os trabalhadores competem
pelo direito de colaborar com os empregadores. A competição é importante
porque escolhe os melhores colaboradores, mas a colaboração é o motor
do livre mercado.
Isso pode ser observado no empreendedorismo: o empreendedor reúne
recursos (pessoas, máquinas, capital) e depois organiza a colaboração
entre eles. A economia capitalista livre é o sistema cooperativo mais
bem-sucedido que o mundo já viu.
Então como devemos pensar sobre mercados e economia em uma base colaborativa?
Devemos perceber que empresas de sucesso são aquelas que fazem um
trabalho melhor de cooperação com os consumidores. Pode parecer que as
empresas de sucesso superaram os rivais, mas na verdade elas tiveram
muito sucesso em cooperar melhor com os clientes e com os funcionários.
Devemos nos concentrar na cooperação, não na competição.
Quais são alguns dos maiores problemas que o capitalismo enfrenta
atualmente? E quais as alternativas para resolver esses problemas?
Primeiramente, é necessário destacar que todos os sistemas de mercado
são baseados no capitalismo colaborativo. Os sistemas comunistas e
outros sistemas ditatoriais que não permitem o livre comércio não
permitem a colaboração e acabam por prejudicar os consumidores.
Considerando isto, os maiores problemas para o capitalismo são os
limites que vários governos colocam na colaboração. Isso geralmente
ocorre por regulamentos e restrições ao comércio, como licenças
ocupacionais excessivas e limites ao comércio exterior. No entanto,
alguns governos (como Venezuela e China) controlam todo o sistema e
limitam bastante a colaboração.
Com os benefícios óbvios dos mercados sobre o socialismo, por que
tantos ainda se opõem aos mercados? Preocupo-me com esse problema há
muitos anos. Dado o estado atual da política americana, a questão é
ainda mais importante do que quando comecei o livro. Nos Estados Unidos,
muitos candidatos a presidente querem eliminar completamente o mercado
colaborativo e substituí-lo por um sistema socialista, o oposto da
colaboração livre.
As políticas regulatórias que interrompem a colaboração - restrições
nos contratos que empregadores e trabalhadores podem negociar ou sobre
os tipos de produtos que as pessoas podem vender, por exemplo - reduzem o
tamanho do bolo e acabam prejudicando os próprios trabalhadores e
consumidores que eles pretendem proteger. Essas ações do governo, por
definição, forçam as pessoas a transações involuntárias ou impedem-nas
de realizar transações voluntárias.
Ideias socialistas continuam presentes, não só nos Estados Unidos,
mas também no resto do mundo. Por que as pessoas ainda se opõem ao
capitalismo de livre mercado?
Os seres humanos não são bons economistas intuitivos. Nossas mentes
evoluíram em um cenário simples, onde a economia era simples, com pouco
comércio, pouca especialização (exceto por idade e sexo) e pouco
capital. Nesse mundo não havia necessidade de nosso cérebro evoluir para
entender a economia. A principal conclusão foi que nossas mentes
evoluíram para ver o mundo como soma zero - seria necessário tirar de um
para dar a outro. O pensamento de soma zero é o equívoco por trás da
maioria dos erros de política econômica.
Em muitos casos, quando os economistas estão discutindo questões de
eficiência (como tributação), os ouvintes estão ouvindo questões de
distribuição. Portanto, nós, economistas, faríamos melhor em começar uma
discussão mostrando que há efeitos de eficiência (“tamanho do bolo”)
antes de mostrar casos específicos.
Ou seja, devemos mostrar que a tributação pode afetar a renda total
antes de mostrar como ocorre em um caso específico. Chamo isso de
“economia realmente básica”, que deve ser ensinada antes da economia
básica. Diz-se às vezes que os especialistas entendem tão bem seu campo
que ficam “cegos” ao básico, e essa é a situação aqui.
Como abordagens colaborativas representam o futuro do capitalismo?
À medida que o escopo da livre colaboração aumentar, o capitalismo
prosperará e os seres humanos se tornarão mais felizes e satisfeitos. Se
o mundo se tornar mais socialista e ditatorial, o capitalismo irá
fracassa e os seres humanos se tornarão mais pobres e infelizes.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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